Blood: Uma História de Sangue – Uma Jornada de Autoconhecimento pelo Ciclo da Vida!

É muito interessante como os quadrinhos podem ser explorados de formas bastante peculiares, parece que a cada leitura aprendemos uma coisa nova e uma forma diferente de se contar uma história. Já comentei sobre a liberdade e a flexibilidade que essa mídia permite aos seus criadores em outros textos, mas acho sempre importante ressaltar a capacidade desta mídia que tanto gosto. Afinal, você já ouviu falar de alguma obra, seja de qual mídia for, que mistura fluxo de consciência, vampiros, fantasia e surrealismo? Bom, Blood – Uma História de Sangue, quadrinho escrito por J. M. DeMatteis e ilustrado por Kent Williams, reúne todos esses aspectos e muitos outros.

Em Blood acompanhamos a história de um bebê, que é encontrado por uma jovem em um rio, pela qual é criado até á idade adulta e deixado em um monastério para receber educação conforme os ensinamentos de Deus. Ao descobrir que eram os homens que escreviam os textos sagrados que regiam sua vida, o jovem se rebela e parte para uma jornada de autoconhecimento pelo mundo. Em seu caminho ele encontra uma tribo de vampiros e transformado em um deles contra sua vontade. Neste momento ele adota a alcunha de Blood e, ao lado de uma das mulheres da tribo, continua sua jornada de aprendizado e transformação.

Por esta sinopse, você pode pensar que esta é uma história simples. Bom, sob certa perspectiva isso pode até ser verdade, mas o brilho de Blood está em como a história é contada, em sua narrativa instigante e diferente do que estamos acostumados a ver. DeMatteis constrói uma narrativa dentro de outra, já que a jornada de Blood é transmitida como uma fábula contada por um espírito a um rei moribundo.

Além disso, conforme o próprio autor conta no prefácio da obra, Blood é uma história viva, conduzida por um fluxo de consciência de seu escritor, numa relação inversa na qual a obra controla seu criador. Nisso, o grande arsenal cultural de DeMatteis faz a diferença, apresentado diversas metáforas na história, com referências que variam entre a Bíblia e as fábulas clássicas. Enquanto Blood e o Rei Moribundo aprendem sobre os ciclos da vida, o leitor também aprende sobre si mesmo e começa a refletir sobre sua existência.

Parece complicado, né? Fique tranquilo, pois por mais que Blood provoque diversas reflexões ao leitor, o quadrinho em nenhum momento é chato, pesado ou cansativo. A leitura é bastante fluída, fazendo com que você a termine rapidamente, reflita e queira reler para absorver ainda mais significados da história. É simplesmente brilhante.

Claro que nada disso seria possível se não houvesse a excepcional arte de Kent Williams. Cada quadro é uma obra de arte, dando vida às ideias de DeMatteis e em muitos momentos complementando o roteiro, tornando a viagem proposta ao leitor ainda mais intensa. Você irá admirar cada quadro para procurar os significados propostos pelos autores. Aliás, é importante mencionar que Williams teve papel ativo na construção da história, já que ele e DeMatteis tiveram longas conversas sobre os rumos da jornada de Blood.

Pra você ter uma ideia sobre a qualidade da obra, Blood foi originalmente publicado pelo selo Epic da Marvel, umas das iniciativas editoriais mais importantes da história da indústria de quadrinhos norte-americana, onde os autores tinham total controle criativo de suas obras e também eram donos delas. Além disso, posteriormente a obra foi publicada pela Vertigo e é impressionante notar como a temática e o estilo são completamente compatíveis com títulos do início do selo, como Sandman, Livros da Magia e Hellblazer.

A edição do Pipoca & Nanquim está excelente como sempre. Além de ser muito bonita, com capa dura, papel de excelente qualidade e verniz na capa, também apresenta um ótimo trabalho editorial, principalmente no que tange ao letreiramento e revisão. Eles também merecem elogios quanto à curadoria para seleção dos títulos que, com raríssimas exceções, são excelentes.

Blood é um quadrinho que deve ser mais conhecido, é um daqueles casos em que cada leitor terá uma interpretação diferente para a obra. Rico em diversos aspectos, o quadrinho quebra diversos paradigmas e traz diversas reflexões ao leitor. Não posso garantir o que você encontrará ao final dessa história, mas posso garantir que será surpreendente.

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Ficha técnica

Editora :  Pipoca & Nanquim
Ano de lançamento: 2018
Páginas: 196
Preço: R$ 59,90

 

 

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.