Game of Thrones: S07E02, Stormborn – A série caminha para conflitos mais simples e violentos

Salve, Justiceiros!

Demorei um pouco, mas cá está a análise completa do segundo episódio dessa temporada de Game of Thrones! Ainda dá tempo de ler e saber das implicações de cada um dos elementos apresentados no segundo ep. antes de assistir o terceiro no domingo!

Os textos dessa série serão postados simultaneamente no Cena Medieval, meu site sobre medievalismo. Se você curte esse tipo de coisa, passa lá pra conhecer também! ?

Vamos então à análise do segundo episódio dessa sétima temporada.

A cena inicial justifica o nome do episódio, mostrando uma forte tempestade rugindo sobre o castelo de Pedra do Dragão, assim como no dia em que Daenerys nasceu (disso vem um dos muitos títulos dela). O ponto principal dessa cena é a discussão entre Dany e Varys, que na verdade já deveria ter acontecido. No final da temporada passada, ele havia conseguido para ela o apoio de Dorne e da Campina, dois dos sete reinos, mas seria no mínimo estranho se ela simplesmente o aceitasse em seu serviço sem confrontá-lo sobre o quão profunda é sua lealdade, coisa que ela faz agora.

Vocês devem lembrar que Varys serviu ao Rei Louco, pai de Dany, e logo depois ao Usurpador Robert, além de ter participado do conselho de Robert que considerou por bem contratar assassinos para matá-la, e isso foi pouco depois de ele ter conspirado para vendê-la aos Dothraki, em troca do apoio deles a Viserys (o irmão chato dela que morreu na primeira temporada, lembram?). Ou seja: complicado confiar em Varys.

E se a questão da lealdade de Varys parece complicada na série, nos livros é pior ainda. Ele é um dos personagens mais misteriosos e cheios de atitudes a princípio difíceis de interpretar. A principal teoria dos fãs, de acordo com os acontecimentos mais recentes dos livros, é que ele e Illyrio Mopatis (aquele mercador gordo, lembram?) estão conspirando para colocar no poder um descendente da linhagem Blackfyre, que é uma ramificação nascida de um bastardo Targaryen.

Contudo, a questão dos Blackfyre sequer foi apresentada na série até agora e duvido que será. Como eu disse na minha análise do primeiro episódio (veja aqui) a regra da série agora é a simplificação do roteiro, e tudo indica que o Varys da série está simplesmente sendo sincero quando diz que seus reais interesses são os interesses do povo. Isso contribui também para que a série tenha um final bem diferente daquele que veremos nos livros, o que é bom, afinal de contas.

Ainda na mesma cena, Daenerys é finalmente introduzida a Melissandre, que trás notícias dos Caminhantes Brancos, de Jon Snow como Rei do Norte e da tal profecia de Azor Ahai (muita informação pra uma cena tão curta, mas isso é Game of Thrones). E falando em muita informação, vocês lembram que foi revelado no começo da última temporada que Melissandre na verdade é uma senhora enrugada que aparenta ser jovem graças à magia? Embora aquilo tenha sido sensacional naquele momento (e vá de encontro a algumas teorias dos livros), me incomoda o fato de que tenha sido apenas uma informação “gratuita”, jogada ali para causar surpresa momentânea, mas não teve nenhuma implicação maior no enredo desde então.

O ponto desse novo diálogo entre Dany e Mel é a suposição da sacerdotisa de que a profecia de Azor Ahai pode não se referir a apenas uma pessoa, mas a duas: Jon Snow e Daenerys, gelo e fogo combinados pra combater o mal maior e trazer a aurora. Nos livros, há muitas ideias e teorias diferentes sobre como isso pode acontecer. De acordo com uma história, o Azoh Ahai original, há milhares de anos, sacrificou sua esposa para forjar a espada mágica que lhe permitiu derrotar os Caminhantes Brancos, e para alguns isso sugere que Jon poderá ter que matar Dany pra salvar o mundo.

A cena seguinte se passa no mínimo alguns dias depois, pois a convocação de Dany já chegou em Winterfell e está sendo debatida por Jon, Sansa e Davos. O roteiro da série se encaixa como um tetris, pois Dany tem as duas coisas que podem ajudar Jon a vencer os Caminhates Brancos: fogo de dragão e uma tonelada de obsidiana (chamada de vidro de dragão) nas minas de Pedra do Dragão. “Dragão” é uma palavra bem usada aqui, hehe…

Os leitores dos livros vão lembrar que, da última vez que um Stark foi ao sul convocado por um Targaryen, as coisas não acabaram bem: o Rei Louco, pai de Dany, queimou vivo Rickard Stark, pai de Ned Stark, e isso é mais do que motivo para que os nobres do norte não confiem em Daenerys, mas Jon decide ir mesmo assim, deixando Sansa no comando do Norte.

E antes de patir Jon visita a tumba de seu pai (que na verdade não é seu pai, lembram?) nas criptas de Winterfell, e é abordado por Mindinho, que faz o que ele faz de melhor: mexer com a cabeça das pessoas. E no final da cena, um elemento que foi cuidadosamente colocado ali para evocar em nós aquela nostalgia por pura continuidade (em inglês a internet gosta de chamar isso de Continuity Porn), pois Jon sufoca Mindinho contra a parede exatamente da mesma forma que Ned fez na primeira temporada. Os produtores da série já fizeram algumas dessas comparações visuais, especialmente entre Jon e Ned, e é sempre bem bacana.

Na capital, Cersei fala aos nobres e faz a caveira de Dany, mas há um nobre ali que importa muito mais que os outros: Randyll Tarly (pai de Sam), que não apenas é um dos vassalos da casa Tyrell no reino da Campina, como também é conhecido como um dos melhores militares de Westeros.

Agora vamos juntar algumas coisas: os Tyrell, suseranos de Tarly, agora estão apoiando Daenerys, mas Jaime sugere a Randyll que se ele virar a casaca e apoiar os Lannister, eles podem colocá-lo no lugar dos Tyrell como o novo manda-chuva da Campina, um dos reinos mais ricos. E isso é uma trama política super bem pensada para a série, pois nos livros os próprios Tyrell só estão no poder porque também viraram a casaca! Eles costumavam ser meros mordomos dos Gardener, que eram os “verdadeiros” reis da Campina antes da conquista Targaryen, algumas centenas de anos atrás.

Então parece que Randyll Tarly irá realmente trocar de lado, o que será um baita trunfo para Cersei, mas ainda resta um problema (que por sinal é o mesmo desde que os Targaryen chegaram pra dominar Westeros): como vencer dragões gigantes que cospem fogo? E a solução que Qyburn apresenta é poeticamente irônica: uma balista, que é basicamente uma besta gigante. E vocês lembram quem mais na série adorava atirar com bestas?

Na cidadela, Sam mostra uma enorme dose de coragem (pra quem na primeira temporada sequer aguentava olhar para um cadáver) ao secretamente fazer um procedimento experimental e proibido num corpo infestado com uma doença altamente contagiosa (e nojenta), na tentativa de salvar Jorah.

Mas a parte mais legal de Sam nesse episódio é o fato de que o Arquimeistre Ebrose está escrevendo um livro de história sobre as guerras após a morte de Robert I (basicamente então os livros que nós conhecemos) e o comentário de Sam de que o título poderia ser mais poético, sugerindo que Sam pode ser o autor de um livro chamado Uma Canção de Gelo e Fogo, e que a cena final da série pode ser o Sam velhinho descansando a pena após escrever as últimas palavras. Seria um final sensacional, algo meio Inception, e iria de encontro à declaração de G. R. R. Martin de que o personagem em quem ele mais se vê é o Sam: um gordinho que adora livros e histórias.

Voltando a Pedra do Dragão, vemos um conselho de guerra em que Tyrion concebe um plano para vencer com o mínimo uso de violência e evitando mortes de inocentes, o que é questionável do ponto de vista lógico pois o sítio à cidade que ele sugere certamente causaria, no mundo real, fome e muito mais mortes de inocentes do que se Dany simplesmente voasse com os dragões até a Fortaleza Vermelha e fritasse a Cersei.

 

Mas vamos ignorar essa pequena falta de coerência e ir ao ponto mais legal do plano, que é a perspectiva de ver os imaculados invadindo Rochedo Casterly, o lar ancestral da família Lannister, o que irá certamente desestabilizar Cersei, além do bom argumento de Tyrion (aqui sim) de que se o sítio for composto por tropas de Dorne e da Campina, a campanha militar inteira irá parecer mais legítima aos olhos dos lordes westerosi.

Tyrion não é muito fã de Ellaria, que assassinou Myrcella. Apesar de ser filha de Cersei, a menina era inocente na história. Tyrion não sabe que Olenna conspirou para o assassinato outro sobrinho de Tyrion, Joffrey, mas nesse caso Tyrion provavelmente ía gostar mais ainda da véia se soubesse.

Então vamos para Arya, que logo depois de receber novas informações de Torta Quente (um sobrevivente, hahaha) desiste de sua vingança por enquanto e decide ir para o Norte se reunir com sua família, especialmente Jon, com quem ela sempre teve uma conexão – o que é irônico, pois enquanto ela está indo pro Norte, ele está descendo para Pedra do Dragão.

E FINALMENTE aconteceu algo que eu esperava desde a primeira temporada: Arya reencontra Nymeria, sua loba gigante, mas o resultado do encontro é agridoce para quem, como eu, tinha essa expectativa, pois a loba não fica com ela. Embora isso tenha um fundo poético, pois a loba agora é selvagem, não consigo deixar de pensar que poderia ser diferente se o departamento de CGI gastasse um pouco menos de recursos com dragões e um pouco mais com lobos.

E por fim, na cena final, passamos por uma grande batalha naval, enquanto Euron ataca os navios que levavam Yara, Theon e Ellaria para o sul, além da costumeira limpa de personagens. As vítimas dessa vez são duas das Serpentes de Areia (filhas de Oberyn), que não estavam dando muito certo na série (embora sejam personagens bem interessantes nos livros) e agora são eliminadas.

Essa batalha no mar, sinceramente, foi uma cena menos instigante do que poderia, talvez por uma direção não tão competente. E o Euron da série é apenas um cachorro louco, que não tem um quinto da complexidade (e crueldade) do personagem nos livros. O ponto aqui é que ele consegue capturar Ellaria e Yara, e em vez de vermos Theon demonstrando coragem, nós o vemos ainda com as profundas marcas de toda a tortura física e psicológica que ele sofreu nas mãos de Ramsey.

Concluindo, os “pontos soltos no roteiro” (como a insegura lealdade de Varys e as Serpentes de Areia) estão sendo rapidamente eliminados para focar o tempo de série nos conflitos centrais: a identidade de Arya, o poder de Cersei, a conquista de Daenerys e a luta de Jon contra os Caminhantes Brancos.

No final, um questionamento que me fica sobre esse episódio é: qual é o plano de Mindinho no Norte? Uma coisa que ele poderia fazer é colocar Sansa contra Jon, revelando a ela que ele na verdade não é filho de Ned, mas sim de Rhaegar com Lyanna, ou seja, um bastardo Targaryen. Não há indícios na série de que Mindinho possa ter essa informação, mas é certamente algo que combinaria com o personagem: conhecer um super segredo, distorcê-lo um pouco e usá-lo a seu favor. O fato de que Sansa não tem nenhuma experiência política de administração só piora as coisas, pois ela certamente ficará insegura e portando vulnerável aos conselhos venenosos…

Qual a opinião de vocês? Deixem aqui nos comentários!

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Rafael Esteque

Advogado por formação, narrador por paixão, redator por vocação e músico por opção. Minhas anteninhas de vinil nunca funcionam. No 50º dia do meu nome, só espero que Gandalf me chame para uma aventura. Citação favorita: "In the game of thrones, a wizard is never late." Não, pera... ahn... "Do or do not. There is no Hakuna Matata." Não... ahn... Ok, vocês entenderam.