OPINIÃO: “Conspiração e Poder” é um melodrama jornalístico

Ainda com a estatueta do Oscar de Spotlight recente, os cinemas brasileiros colocam em suas telas o filme Conspiração e Poder (Truth, título original). O longa é baseado em uma história real e é protagonizado por Cate Blanchett, ganhadora do Oscar por Blue Jasmine. O filme traz à tona os bastidores do programa 60 minutos, do canal americano CBS News que, em 2004, levou ao ar uma reportagem acusando o então presidente estadunidense George W. Bush de usar seu sobrenome para não ir à Guerra do Vietnã. Entretanto, o programa produzido pela personagem de Blanchett enfrenta acusações de que os jornalistas envolvidos forjaram a notícia.

Comparações com Spotlight são inevitáveis, visto que ambos os filmes tratam do papel do jornalista em busca da verdade. Contudo, enquanto o filme ganhador do Oscar consegue trazer a história de uma forma inteligente e bem construída, o longa do diretor e roteirista James Vanderbilt usa o melodrama como forma de captura do público e, durante os primeiros quarenta minutos, o roteiro é didático demais. Muitas vezes, ouve-se uma explicação detalhada de algo que não é necessário – como a repetição da função de muitos personagens ou até mesmo a reafirmação da posição de Bush na Força Aérea. Após passado o primeiro terço, o filme ganha uma forma interessante e desponta.

A direção de Vanderblit é segura, retirando sempre o melhor de seus atores e usando os objetos de cena como uma forma de construção de seus personagens. A fotografia de Mandy Walker também colabora na forma de contar a história da jornalista e produtora Mary Mapes com realismo. Aliada a isso, a edição é dinâmica e ajuda na narrativa. Entretanto, o uso exagerado da trilha sonora de Brian Tyler tenta estimular a emoção em certos momentos – como a sequência em que a reportagem é exibida – e transforma o filme jornalístico em um melodrama mexicano, prejudicando a boa condução da trama. A opção por câmera lenta contribui, ainda mais, com isso.

O elenco é brilhante. Cate Blanchett é uma atriz excelente e já provou isso diversas vezes. Sua composição da personagem é sublime, detalhista e certeira. Com certeza, teria sido indicada ao Oscar por esse trabalho, mas sua ótima atuação em Carol a eclipsou – sim, Blanchett perdeu para ela mesma. Robert Redford – sempre ótimo – incorporou o Dan Heather e sua voz, na maioria das vezes, poderia ser confundida com a do real jornalista. Topher Grace e Dennis Quaid também entregam boas atuações.

Conspiração e Poder é um filme que merece ser visto pela história contada e também para levantar a discussão sobre poder. O filme é basicamente sobre isso: poder. Seja o da mídia ou o de um sobrenome, o longa acerta nesse ponto. Além disso, é uma ótima forma de mostrar o trabalho do jornalista em uma emissora de grande porte.

Vale a pena uma conferida!

Avaliação do Filme: 7.0

Até a próxima! 🙂

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Montez Olivero

Montez Olivero é estudante de cinema de Recife, Pernambuco. Escreve sobre as estreias da semana para você ficar por dentro do mundo da sétima arte. Viciado em filmes e séries a ponto de não responder mensagens por estar imerso neste mundo. Ou seja, um cinéfilo e seriador apaixonado e maníaco.

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