AVISO: CONTÉM SPOILERS
Post elaborado por Rafael Esteque e Lucas Araújo
O episódio nº 9 da primeira temporada de Westworld estreou nesse domingo e, quando acabei de ver, a primeira coisa que me veio à mente é que a HBO está usando a mesma fórmula de temporada de seu seriado de maior sucesso, Game of Thrones: um episódio 9 com bombásticos plot twists pra deixar todo mundo sem fôlego e uma season finale com bons ganchos para a próxima temporada. Trata-se de uma boa fórmula narrativa (nada mais justo para um seriado que fala tanto da criação de histórias e narrativas).
E os plot twists desse episódio foram basicamente confirmações de teorias que já vinham sendo discutidas praticamente desde o começo da série.
A primeira observação em relação a isso é que essas confirmações vieram até mais cedo do que o esperado, o que possivelmente quer dizer que essa primeira temporada deverá ser fechada com a resolução da maioria de seus mistérios, para servir como base para uma trama maior na segunda (sem aquela enrolação eterna que de vez em quando vemos em outras séries).
A segunda observação, e mais importante nesse momento, é que o roteiro da série está sendo extremamente coerente.
Uma coisa muito revoltante que pode acontecer quando acompanhamos uma história é perceber que algumas das informações dadas pelo autor ao longo do desenvolvimento estão ali para causar uma confusão gratuita, por assim dizer. Como quando queremos saber quem é o assassino num romance policial (ou derivados do gênero) e todos os suspeitos tem chances exatamente iguais – o final acaba sendo, de certa forma, um mero capricho do autor, pois qualquer um desses indivíduos se encaixa no papel.
Em Westworld, até o momento pelo menos, não há caprichos. Desde o primeiro episódio pudemos notar detalhes que foram cuidadosamente colocados ali para induzir a elaboração de teorias e reflexões pelos espectadores. E à medida que esses mistérios vão ganhando resoluções, percebemos que as teorias se confirmam, ou seja, a série está entregando o que prometeu.
Um dos pivôs dessas teorias é Bernard, o diretor da Divisão de Programação do parque. Desde o começo especulamos que ele pudesse ser um robô, assim como os hosts (anfitriões) do parque – teoria que foi confirmada no final do sétimo episódio.
Uma derivação um pouco mais ousada dessa teoria afirmava que Bernard não apenas era um robô, mas também era uma cópia de Arnold, o parceiro de Ford que ajudou a construir o parque (e cujas circunstâncias da morte ainda não sabemos exatamente). As pistas para essa teoria eram sutis, e admito que eu próprio estava em dúvida, mas eis que ela foi confirmada no nono episódio.
Outra grande teoria é a de que William e o Homem de Preto são na verdade a mesma pessoa, cuja história está sendo contada paralelamente em duas linhas do tempo diferentes. Esta teoria não foi confirmada diretamente pela série ainda (como no caso das teorias sobre Bernard), mas há tantas pistas e faz tanto sentido que já podemos considera-la como um fato.
Mas o nono episódio ao menos confirmou que o Homem de Preto é um membro da mesa diretora da Delos, empresa que possui parte dos direitos sobre o parque.
Isto casa com o que havia sido contado lá no começo: Willian estava prestes a se casar com a irmã de Logan, e a família de Logan estava interessada em comprar parte do parque.
E a existência de duas linhas temporais tem algumas implicações, e ainda uma outra teoria derivada, segundo a qual há uma terceira linha do tempo, na qual Dolores estaria revisitando sozinha o caminho que fez com Willian em sua primeira vinda ao parque (ou talvez essa terceira linha temporal esteja mostrando um momento ainda anterior, quando Dolores encontrou o Labirinto e Arnold ainda vivo).
Essa também ainda não foi confirmada, mas nessa altura tem boas chances. De toda forma, sabemos que Dolores é uma peça chave nas duas questões principais (Arnold e Homem de Preto), que mencionei acima. Inclusive, no nono episódio ficamos sabendo que aquela foto que ela havia encontrado no rancho no primeiro episódio – e que disparou o processo de “loucura” no host que interpretava o papel de seu pai – é nada menos do que a foto da irmã de Logan, que este deixou com Willian no nono episódio.
Ou seja, esse trajeto que está gradualmente transformando Willian no Homem de Preto ainda vai leva-lo ao Rancho Abernathy, onde ele ele deixará (ou perderá) a foto. Talvez a season finale nos dê essa resposta.
/*É interessante ressaltar a maneira como os roteiristas encontraram para retratar as diversas linhas temporais na visão de Dolores. Foi bastante criativa, já que eles contam basicamente a mesma jornada em duas linhas do tempo diferente e dessa forma economizam tempo de tela sem afetar a quantidade de informações transmitidas. Claro que isso exige um pouco mais de atenção do espectador, porém Westworld desde seu início já demonstra não ser uma série fácil, na qual o espectador deve ficar atento a todos os detalhes./*
E por último, mas não menos importante, temos a onisciência de Robert Ford.
Muita coisa ainda precisa ser explicada sobre o poder, as atitudes e as intenções do criador do parque. Foi ele quem matou Arnold? Se sim, por que exatamente? Ele já sabia da traição da mesa diretora e de Theresa, mas será que ele sabe também sobre o que a host Maeve está fazendo? Não sabemos muito disso ainda, mas a série já tomou o cuidado de apresentá-lo como um personagem de alto poder manipulativo (se estivéssemos falando de um certo jogo dos tronos, ele seria um jogador, e não apenas um peão). Mas eu arriscaria dizer que se ele vai ser vencido por alguém na história, não será por outro ser humano, mas sim por uma de suas criações – algum dos robôs que de alguma forma vai atingir a singularidade plena, talvez devido à programação deixada lá por Arnold.
/* Uma outra observação sobre Ford diz respeito a atuação de Anthony Hopkins. É muito gratificante ver um ator de altíssimo nível podendo trabalhar com um roteiro à altura, principalmente no caso de Hopkins que há algum tempo estava no que eu costumo chamar de “modo de atuação para pagar o aluguel”. Seus últimos trabalhos não estavam condizentes com sua capacidade, mas agora aposto que ele será forte candidatos em premiações como o Emmy e o Globo de ouro./*
Enfim, a série até agora não deu ponto sem nó. Ela tem sido motivo de discussões interessantes (como uma boa história deve ser) e o roteiro tem contado a história de forma muito competente, com pistas que te levam ao final depois de queimar um pouco de massa cinzenta. Respondendo à pergunta do título deste artigo, já sabíamos o que ia acontecer no nono episódio porque as respostas já estão lá, em migalhas, ao longo de toda a série – mas isso é bom!
Pode ser que algumas pessoas não se identifiquem com esse modelo de narrativa, já que ele pela própria proposta entrega o final aos poucos. Mas ninguém poderá dizer que ele não foi coerente.
Veja também aqui no Justiça Geek:
Westworld – Que dizer dessa série que só vi meia temporada e já considero pakas?
Rafael Esteque
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