Estreou na semana passada o tão aguardado remake de A Bela e a Fera, a nova super produção da Disney que contou com um generoso orçamento de 160 milhões de dólares.
Mas muito diferente de Malévola, que fez uma releitura radical do clássico A Bela Adormecida de 1959, A Bela e a Fera é uma reprodução praticamente quadro a quadro da versão em desenho de 1991, com poucas adições no roteiro.
Adições essas que servem, em alguns momentos, para deixar a trama um pouquinho (bem pouquinho) mais madura, quando por exemplo é revelada a circunstância da morte da mãe de Belle.
Alguns personagens têm seus papeis alterados, como a feiticeira, que tem uma participação um pouco mais ativa na história, e Le Fou, que além de servir como alívio cômico, tenta ser a consciência de Gaston (quase uma versão gay do grilo falante, para um pinóquio nada modesto).
A atuação sem sal de Emma Watson nem de longe estraga a experiência, que é compensada não só pelos ótimos efeitos especiais como também por outras atuações muito boas, especialmente os objetos falantes do castelo, que são interpretados (dublados, na maior parte do tempo) por nomes de peso como Ewan McGregor, Emma Thompson e Ian McKellen (impossível ouvir o relógio Orloche falando e não pensar numa versão cômica de Gandalf).
As músicas são exatamente as mesmas, com poucas alterações nas letras, e sempre que possível o diretor Bill Condon procura fazer enquadramentos exatamente iguais aos da versão original. Quem, como eu, cresceu assistindo filmes da Disney e sabe as músicas de cor provavelmente precisou se esforçar um pouquinho pra não cantar junto com o filme no cinema.
O remake de A Bela e a Fera definitivamente foi feito para nós que vimos o desenho na infância. Obviamente pode (e deve) agradar a outros públicos, especialmente as crianças, mas qualquer um com menos de 25 anos dificilmente vai sentir exatamente o que o diretor quis passar.
Durante essa semana após a estreia, li críticas ao filme no sentido de que uma reprodução quadro a quadro da animação nada mais é do que uma reciclagem para extrair mais dinheiro de uma franquia de sucesso, e que a experiência seria não tão boa, na medida em que não acrescenta nada que já não existisse. Entendo o ponto de quem viu dessa forma, mas discordo.
Primeiro, porque as poucas adições no roteiro foram significativas, embora sutis.
E segundo porque o mérito do filme não é inovar, e sim trazer novamente algo que foi sucesso com bons motivos para sê-lo. Fazendo novamente uma comparação com o remake Malévola, este precisou ser radicalmente adaptado pois a versão de 1959 carregava uma boa dose de machismo intrínseco à época e incompatível com os valores de empoderamento feminino que ganharam tanta popularidade nos últimos anos. Já a versão de A Bela e a Fera de 1991 apresentava uma personagem feminina forte, culta e corajosa, que provavelmente inspirou uma geração de meninas.
E outras palavras, a Bela e a Fera de 1991 apresentava um protagonismo feminino razoavelmente compatível com valores de hoje. Então o remake quadro a quadro não traz apenas a nostalgia, ele traz também uma mensagem que era válida naquela época e talvez esteja ainda mais válida hoje, 26 anos depois.
Ver um remake como esse me deixa no mínimo animado para os próximos que a Disney está preparando, especialmente Mulan, que é a minha animação favorita do estúdio. O que é bom merece ser revisitado, readaptado e relido.
Rafael Esteque
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