Bem-vindos a mais uma Recomendação da Semana, a coluna na qual recomendamos livros, HQs, filmes, séries e álbuns que achamos interessantes. E hoje recomendarei uma HQ (e talvez essa não seja a melhor definição) bem diferente, que apresenta uma proposta e utiliza recursos que eu nunca tinha visto em um quadrinho. A recomendação de hoje é Caligari, escrita e desenhada por Alexandre Teles.
Como o próprio nome entrega, Caligari é uma adaptação de Gabinete do Doutor Caligari, um dos filmes mais influentes da história e considerado a base do cinema noir e dos thrillers psicológicos. Dirigido por Robert Wiene, o filme é um dos expoentes do expressionismo alemão e faz reflexões interessantes sobre a mente humana e a sociedade em que vivemos.
No filme, Francis e o amigo visitam o gabinete do Doutor Caligari (Werner Krauss), onde conhecem Cesare (Conrad Veidt), um homem sonâmbulo que diz a Alan que ele morrerá. Assim acontece e Alan acorda morto no dia seguinte, o que faz com que Francis suspeite de Cesare. Francis então começa a espionar o que o sonâmbulo faz com a ajuda da polícia. Para descobrir todos os mistérios, Francis acredita só haver uma solução: adentrar no misterioso gabinete do Doutor Caligari.
O que mais impressiona em Caligari é a técnica que Alexandre Teles utilizou para fazer as ilustrações. Num processo que durou mais de três anos explorando a técnica de monotipias, utilizando uma chapa de cobre cuja superfície foi aplicada uma camada de tinta preta. Depois, para formar o desenho, parte dessa tinta foi removida, criando pontos de luz e forma. E então a chapa foi para uma prensa, que imprimiu o material em papel de algodão.
Parece complicado né? Mas esse longo processo criou a atmosfera sombria que a publicação transmite e a deixou ainda mais fiel à obra original, ao mesmo tempo que trouxe muita originalidade à obra. Teles teve que sacrificar um pouco da narrativa de quadrinhos para construir a obra (e por isso no início do texto eu disse que talvez essa não seja a melhor definição para esta publicação), mas isso possibilitou uma experiência gráfica que eu nunca tinha visto, independentemente de qualquer mídia.
Outro ponto que separa Caligari de ser apenas uma reprodução do filme em ilustrações é que Teles se baseou no roteiro original escrito por Hans Janowitz e Carl Mayer, sem as alterações feitas pelo diretor Robert Wiene. Isso manteve os simbolismos que os roteiristas pretendiam transmitir com a obra, os quais Teles explica no posfácio.
Caligari talvez não seja uma obra para todos, mas com certeza é indicado para aqueles que procuram uma nova experiência gráfica. É uma adaptação que se torna original devido à maneira que foi feita. É algo difícil de descrever para aqueles que ainda não tiveram contato com a obra. Leia e viaje nessa ideia diferente de Alexandre Teles. A nossa coluna de recomendações volta semana que vem (se tudo der certo xD).
Ficha Técnica
Editora : Veneta
Ano de lançamento: 2017
Páginas: 336
Preço: R$69,90
Onde encontrar: Livrarias e lojas especializadas
Lucas Araújo
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