Atenção: O texto contém spoilers.
São incontáveis os filmes que falam sobre a Guerra do Vietnã como arco principal ou, até mesmo, menção feita por algum personagem, para desenhar o perfil psicológico dele. Essa tragédia deixou marcas profundas em quem foi e em quem ficou. Os EUA, em sua política genocida e imperialista, enviaram milhares de soldados pretos para a Guerra e os abandonou lá – ou quando voltaram. Como é bem mencionado no longa-metragem, enquanto 11% das pessoas pretas fazem parte da população dos Estados Unidos, 32% dessas mesmas pessoas foram enviadas para a Guerra.
No novo filme de Spike Lee, disponível na Netflix, 4 amigos, que lutaram na Guerra do Vietnã, voltam para o local para buscar os restos mortais de seu companheiro de Guerra, mas também para buscar barras de ouro que foram deixadas lá. Lee sabe que o foco de filmes do gênero nunca foi nos soldados pretos e em Da 5 Bloods ele trabalha isso com escolhas impecáveis em diversos momentos marcantes (e são muitos!).
A primeira delas é a inserção de fotografias e vídeos na montagem. Através dessa escolha, ele ressalta a importância de destacar os heróis que fizeram voz contra a atrocidade cometida pelo Estado estadunidense e foram esquecidos pela história oficial. As constantes trocas na razão de aspecto é um artifício estético que funciona por criar um ambiente claustrofóbico nas cenas de Guerra (sem espetacularização) e também um ambiente de descobertas e medos em toda a sequência na mata. Uma outra escolha que merece menção é inserir seus protagonistas mais velhos nas cenas de flashback: isso tem relação direta com a questão de memória, mas também porque tudo o que eles aqueles homens viveram deixaram cicatrizes em seus corpos e suas mentes: eles permanecem lá.
Os rumos narrativos do roteiro também assinado por Lee são engajadores e, ainda que falhe no aprofundamento de alguns personagens, o longa consegue ser redondo, quando correria o risco de perder-se completamente. E, como é de costume, o diretor utiliza sua plataforma para fazer críticas incisivas à política a à sociedade. Em Destacamento Blood ele escolhe um símbolo: o boné vermelho do Make America Great Again. O artefato se tornou símbolo do projeto nazista de governo de Trump (e de sua porca imitação tupiniquim). Enquanto, no começo, serve como uma menção à opressão, logo o boné vira um resquício de sangue. Na última vez que vemos o objeto, ele surge em cima de um personagem que sangra após mais uma batalha contra aqueles que a única meta é o ouro, custe o que custar.
O elenco escolhido por Spike Lee reúne diversos colaboradores celebres dele, mas entre tantas atuações impecáveis, o destaque vai para Delroy Lindo. Não só seu personagem tem o perfil mais complexo, como também ele nos entrega monólogos dilacerantes. Seu olhar corta a tela e chega até nós em sua plenitude. Um outro nome que merece menção é Jonathan Majors, intérprete do filho de Lindo. Seu personagem passeia por diversas emoções e ele nos entrega uma atuação de detalhes. Se ele já merecia uma indicação ao Oscar por seu trabalho no ótimo The Last Black Man in San Francisco, agora, mais do que nunca, isso precisa acontecer.
Assim como Faça a Coisa Certa, Malcolm X e Infiltrado na Klan, Destacamento Blood entra na filmografia de Spike Lee como um de seus melhores filmes.
Avaliação do Filme: 8/10
Até a próxima!
Montez Olivero
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