Histórias de serial killer sempre chamam a atenção, pois o público está interessado em entender como funciona a mente desses assassinos e quais suas motivações para cometer as atrocidades pelas quais são famosos. Quando uma competente dupla de artistas decide contar uma história que envolve serial killers, Guerra Fria, a Nova York dos anos 70 e um protagonista que cresceu em um gulag soviético, é pouco provável que você não se interesse em saber como ela termina. É isso que acontece em Little Tulip, quadrinho escrito por Jerome Charyn e desenhado por François Boucq.
Um serial killer perseguidor de mulheres assombra as ruas de Nova York nos anos 70, sempre deixando um gorro de Papai Noel na cena de seus crimes. Pavel, um imigrante russo que cresceu em um gulag siberiano no qual teve sua família despedaçada, colabora com as investigações da polícia atuando como desenhista. Mas o verdadeiro trabalho de Pavel é como tatuador, ofício que aprendeu enquanto passava pelo sofrimento em sua terra natal. Os assassinatos começam a lembra-lo de seu terrível passado e talvez as mortes estejam conectadas com figuras que ele conhece muito bem.
Jerome Charyn constrói um roteiro que prende a atenção do leitor e alterna muito bem entre o presente e o passado, aprofundando a personalidade de seu protagonista conforme a história avança. O autor sabe como inserir na história todo o contexto social da Nova York dos anos 70, com um clima sombrio e repleto de violência, assim como sabe demonstrar o terror que envolvia os gulags siberianos durante os anos 50 e 60.
Entretanto, assim como em Boca do Diabo (trabalho anterior dos autores publicado por aqui), Charyn tem problemas para encerrar a história. Há uma inserção de um elemento sobrenatural inesperado que destoa bastante do clima realista que a história apresentava até então. É o tipo de coisa que te tira da leitura e acaba interferindo um pouco na experiência.
A arte de François Boucq é linda, repleta de detalhes e que reproduz os cenários de maneira muito fiel. Sua narrativa é igualmente competente, o artista sabe como conduzir o ritmo proposto pelo roteiro de Charyn, que mescla momentos mais lentos de investigação com momentos com mais ação.
A publicação mantém o padrão de qualidade da editora Comix Zone, em capa dura, formato grande e papel couché de alta gramatura. Há muito cuidado com a tradução e revisão e extras como esboços e uma biografia dos autores, algo muito importante e que sempre comento por aqui. A editora merece elogios por seguir trabalhando com essa dupla de autores, que merece ser cada vez mais conhecida por leitores brasileiros.
Little Tulip é um quadrinho que agradará os leitores que gostam de boas histórias envolvendo serial killers, embora tenha um final que pode parecer frustrante e anticlimático. De toda forma, ver a arte de François Boucq é sempre gratificante. Leia e tire suas próprias conclusões.
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Ficha técnica
Editora: Comix Zone
Tradução: Fernando Paz
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 88
Preço: R$79,90
Lucas Araújo
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