É fato que a DC gosta de revirar o lixo de Alan Moore, já que o nome do roteirista britânico sempre atrai a atenção dos leitores. Seja em continuações e pré sequências picaretas de Watchmen, seja expandindo conceitos criados por ele em megassagas, sendo A Noite Mais Densa o exemplo que me vem à mente, a editora apresenta iniciativas que vez ou outra até apresentam histórias interessantes. Em Um Dia Ruim, é claro que ela quis explorar o conceito visto em Piada Mortal, mas utilizando outros vilões do Batman para isso. Com essa premissa, a dupla Tom King e Mitch Gerads, famosa por obras como Xerife da Babilônia, Estranhas Aventuras e Senhor Milagre, concebeu uma trama protagonizada pelo Charada que com certeza é uma das melhores coisas já feitas com o personagem.
Nessa história vemos o que poderia acontecer caso o Charada, que geralmente é retratado como uma cópia menos excêntrica do Coringa, se livrasse de todos os seus limites, o que sem sombra de dúvidas se demonstra assustador. O vilão, que geralmente segue algumas regras, resolve simplesmente assassinar um homem no meio da rua, aparentemente sem motivo algum. Ao mesmo tempo, vemos também como o Batman reage a essa situação, em que talvez ele próprio também tenha que abdicar de seus limites para combater o vilão psicopata.
King novamente faz uma grande exploração psicológica de seu protagonista. Embora já tenha aparecido em diversas representações, até mesmo no cinema, o autor traz uma personalidade própria ao personagem, fugindo do aspecto “coringa genérico” que muitas vezes lhe é atribuído. Seu roteiro é sofisticado, fazendo alternâncias temporais que constroem a narrativa detetivesca da história, fazendo com que cada página fosse uma peça do quebra cabeça que dará as respostas que todos buscam sobre os motivos que fizeram o Charada agir cada vez mais brutalmente.
A arte de Gerads acompanha seu parceiro dos roteiros, suja, sombria e com narrativa inventiva, ele demonstra o porquê de ser considerado um dos grandes artistas de quadrinhos de super heróis da atualidade. O cara faz tudo, desenha, arte-finaliza e colore, mantendo a qualidade nas três frentes. Há uma página em específico que demonstra uma transição entre dois períodos de tempo que é simplesmente magnífica.
A edição da Panini tem capa cartonada, papel couché, sem extras. Ela é bem direta ao ponto e possui um preço razoável, se comparado ao que os quadrinhos estão custando hoje em dia. O único porém é que ela está bem difícil de ser encontrada, talvez pelo sucesso ou por problemas de distribuição.
Tom King e Mitch Gerads formam uma dupla imbatível e esse quadrinho é mais uma prova disso. Ao virar a última página, sem querer dar spoilers, é impossível que você não solte um palavrão com o que é apresentado. Impressiona como tanto em histórias longas quanto em mais curtas como essa, a dupla sempre consegue apresentar um trabalho que foge do comum em uma indústria que tende a podar a criatividade com seus prazos insanos de produção. Não há muita coisa melhor do que Um Dia Ruim – Charada feita com super-heróis por aí, e isso é um grande mérito.
Ficha Técnica
Editora: Panini
Tradução: Yury A. O. Primitz
Ano de lançamento: 2023
Páginas: 64
Preço: R$24,90
Lucas Araújo
Latest posts by Lucas Araújo (see all)
- Domínio Público – A exploração dos artistas nos quadrinhos de super-heróis! - 26 de novembro de 2024
- As Muitas Mortes de Laila Starr – A vida sob a perspectiva da morte! - 4 de novembro de 2024
- Namor – As Profundezas – E se Lovecraft escrevesse um quadrinho da Marvel? - 18 de outubro de 2024