A indústria de quadrinhos dos EUA tem vários casos de artistas que foram prejudicados no que tange aos direitos por suas criações nos mais diversos níveis, desde de editoras que simplesmente roubaram suas propriedades, como os criadores do Superman, Jerry Siegel e Joe Shuster, até o completo apagamento de créditos por suas criações, como foi o caso de Bill Finger, que como evidencia uma vasta documentação, foi o verdadeiro criador do Batman e alguns de seus mais famosos vilões. Com base nessas histórias e em suas próprias experiências na indústria, Chip Zdarsky roteirizou e desenhou Domínio Público, quadrinho que foi publicado por aqui pela editora Pipoca e Nanquim.
Syd Dallas é um renomado quadrinista, que na era de ouro de sua carreira foi responsável, ao lado do roteirista Jerry Jasper (ao menos é a história que a editora Singular conta), pela criação do Domínio, um famoso super-herói que após grande sucesso em sua mídia original gerou derivados como filmes,videogames e brinquedos que movimentaram muito dinheiro… para executivos picaretas em grandes conglomerados de mídia. Hoje em dia Dallas vive uma vida de aposentado, longe dos quadrinhos, mas seus dois filhos, o jornalista de cultura Miles e o tatuador fanfarrão Dave, insistem que o pai se erga e siga lutando pelo reconhecimento de seu legado, mas Dallas não parece ter muito interesse ou esperança de conseguir algo. No entanto, a situação muda quando surge um velho contrato esquecido, que concede a ele plenos direitos autorais sobre todos os seus personagens.
Zdarsky mistura diversas histórias de criadores em sua trama, mas fica bem claro que a principal delas é a de Jack Kirby, a figura de Syd Dallas remete ao Rei dos quadrinhos não só por seu amor pela mídia mas também na relação com Jerry Jasper, que é uma clara referência a Stan Lee. Pelo seu conhecimento dos bastidores da indústria, o autor mostra como os artistas podem criar histórias que movimentam milhões de dólares das mais diversas formas e mesmo assim não serem recompensados adequadamente. Entretanto, a história não foca somente nesse aspecto, mas também procura mostrar o lado romântico dos quadrinhos e em como por meio deles o relacionamento entre pai e filhos pode ser estreitado, tudo isso permeado pelo humor característico que Zdarsky já apresentou em outros trabalhos.
O ponto baixo da obra é a arte de Zdarsky, pois seu estilo é um pouco engessado narrativamente e seu traço é simples demais, tanto nos personagens quanto nos cenários, cada página grita que foi feita de forma digital sem grandes inspirações. Funciona para contar a história que o autor pretende contar, mas tira o brilho de uma obra que de alguma forma pretendia trazer justiça aos artistas que são tão explorados.
A edição da Pipoca & Nanquim possui capa dura, papel couché e formato americano, sendo o único extra presente uma galeria de capas. A publicação venceu o prêmio Eisner na categoria de Melhor Nova Série quando publicada nos EUA pela Image.
Domínio Público é um quadrinho que aborda de forma sensível como os autores são explorados pelas grandes corporações principalmente no mundo dos super-heróis e por isso já merece certo mérito mas perde um pouco da força por causa dos desenhos exageradamente simples. De todo modo, esse é apenas o primeiro volume de uma história que ao menos deixa o leitor ansioso pela continuação. Espero que Zdarsky continue com ela em breve, quero saber como Syd usara sua maior criação para fortalecer ainda mais sua relação com os quadrinhos e com seus filhos.
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Ficha Técnica
Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Dandara Palankof
Ano de lançamento: 2024
Páginas: 124
Preço: R$79,90
Lucas Araújo
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