Balada para Sophie – Uma rivalidade ditada pelo amor pela música!

É interessante notar como o amor pela música tem grande importância na vida das pessoas, ajudando a moldar suas personalidades e acompanhando-as nos mais diversos momentos. Quantas vezes você já ouviu uma música e lembrou de uma situação específica, seja feliz ou triste? Em Balada para Sophie, o roteirista português Filipe Melo e o desenhista argentino Juan Cavia, com cores do próprio Cavia, Sandro Pacucci e Santiago R. Villa, relacionam a paixão pela música com uma espécie de obsessão e uma amizade não correspondida em um quadrinho, publicado por aqui pela editora Pipoca e Nanquim, que é, pelo perdão do trocadilho, uma sinfonia gráfica.

Nessa obra acompanhamos a história de Julien Dubois, um pianista de grande sucesso que esteve presente em grandes acontecimentos da história da Europa do século XX. Após sua aposentadoria, ele vive isolado em sua mansão acompanhado apenas de seu gato e uma governanta até que um dia uma jovem jornalista o procura interessada em ouvir a verdadeira história de sua vida. É então que Dubois revela um passado envolto em uma intensa rivalidade, crianças prodígio, o amor pela música, produtores tiranos, comandantes nazistas, uma grande paixão, animais que salvam vidas, freiras bondosas e sábios moradores de rua.

Filipe Melo se mostra como um roteirista muito talentoso, conduzindo a história como uma verdadeira orquestra. Ele sabe como cadenciar o ritmo da narrativa para que certos momentos causem um grande impacto do leitor, impressiona a forma como ele consegue contar várias histórias em uma só como a história de uma grande rivalidade, de uma grande paixão, a ascensão e queda de um prodígio, o impacto do nazismo na Europa, entre outras, sendo que nada fica perdido ao longo da trama, que aliás apresenta inesperadas reviravoltas. Melo vai inserindo elementos que parecem meros detalhes mas que são utilizados de maneira inteligente, sendo o maior exemplo a espetacular última página do quadrinho. Sem estragar qualquer surpresa, você saberá do que estou falando quando lê-la.

Felizmente, um roteiro tão primoroso quanto esse é acompanhado pela arte tão primorosa quanto de Juan Cavia. Em um estilo cartunesco que remete ao que de melhor já foi feito em animação, o artista apresenta páginas belíssimas que brilham principalmente nos momentos mais lúdicos da história, coroadas pelo belo trabalho de cores de Pacucci, Villa e do próprio Cavia, e uma narrativa brilhante que conduz a trama de forma leve e que impacta o leitor nos momentos necessários. A sinergia entre roteiro e arte é digna de uma grande sessão rítmica.

A publicação da Pipoca e Nanquim possui capa dura, papel offset e extras que incluem esboços de Juan Cavia, a partitura de Balada Para Sophie (música que você deve ouvir assim que terminar a leitura, disponível em plataformas como Spotify e Youtube) e uma biografia dos autores. A editora continua se saindo muito bem com a curadoria de seus títulos, tendo publicado excelentes obras nos últimos anos que frequentemente aparecem nas listas de melhores leituras na internet à fora.

Balada Para Sophie é um quadrinho belo e impactante que encanta o leitor em uma narrativa impressionante permeada pela música. Não é à toa que a obra já concorreu a diversos prêmios, como o Eisner, e venceu alguns como Melhor BD de Autor Português no Amadora BD 2021. Já adianto que estará na lista de melhores leituras do ano aqui do site e muito provavelmente também estará na sua, corra atrás do seu exemplar e aproveite a experiência.

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Ficha técnica

Editora: Pipoca e Nanquim
Adaptação de texto: Luciane Yasawa
Ano de lançamento: 2022
Páginas: 324
Preço: R$99,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.