Batman – Cavaleiro Branco – Troca de Papéis!

Ao longo dos anos, já observamos diversas versões do Batman, seja nos quadrinhos ou na tv, nas mais variadas abordagens, como o homem morcego atuando na Era Vitoriana, a bem-humorada série de TV dos anos 60, seu retorno com idade mais avançada em Cavaleiro das Trevas, entre outras. O personagem sem dúvidas é um dos mais versáteis da cultura pop e foi com esse pensamento em mente que Sean Murphy, ao lado do colorista Matt Hollingsworth, produziu uma minissérie que reimagina o universo do Batman da seguinte forma: e se o herói e seu arqui-inimigo, o Coringa, tivessem seus papéis invertidos, com a ameaça se tornando herói e o herói se tornando ameaça? É isso que vemos em Batman – Cavaleiro Branco.

Após tomar alguns comprimidos desconhecidos, o insano Coringa é curado e se torna Jack Napier, um cidadão que está disposto a se redimir de seus erros com Gotham e demonstrar que o verdadeiro problema da cidade não são os vilões que a assolam, mas sim o homem vestido de morcego que a vigia. Ao se reconciliar com sua parceira de longa data, Harley Quinzel (conhecida como Arlequina), Napier coloca em prática uma meticulosa campanha meticulosamente planejada para derrubar o Batman e se tornar o herói que a cidade merece.

É preciso dizer que essa premissa é no mínimo audaciosa, visto que ao longo de 80 anos de histórias o Coringa nunca foi, por motivos óbvios, colocado no posto de herói. É estranho para qualquer um que acompanhe os personagens vê-los em tal situação, mas Murphy constrói uma trama que seduz o leitor pela curiosidade e pela total mudança de status quo de Batman, Coringa e os personagens ao seu redor.

O problema é que essa curiosidade não se mantém ao longo de muitas páginas. A história vai avançando pelo simples fato de que os personagens não se questionam sobre o que está acontecendo, apenas acreditam que o Coringa realmente está curado e que de uma hora para outra ele resolveu agir para o bem de Gotham. Mesmo que sejam versões bem específicas dos personagens, é muito forçado acreditar que Gordon ou Dick Grayson, para citar alguns exemplos, acreditariam nas ideias que o Coringa tem para salvar a cidade, visto que o combateram ao longo de décadas. A maior falha da história como um todo são as diversas conveniências que ocorrem para que ela possa seguir em frente.

Embora o roteiro tenha esses problemas, é preciso dizer que Murphy sabe como trabalhar com o Batman. Colocando o personagem como cada vez mais descontrolado, o autor insere um motivo muito justo para que isso aconteça na história, ao mesmo tempo em que demonstra como o herói pode ser muito mais uma ameaça dependendo da situação, algo que já foi discutido algumas vezes seja nos quadrinhos, seja no cinema. Em certo momento, Bruce Wayne questiona alguns de seus métodos e resolve realizar uma ação que parecia inimaginável até então, algo que com certeza só poderia ser feito em uma história de universo alternativo como essa, na qual os autores tem mais liberdades para fazer o que bem entenderem.

O ponto alto da obra, sem sombra de dúvida, é a arte de Sean Murphy. O artista possui um traço muito característico, que mistura sujeira com algo mais sofisticado, apresentando um contraste que atrai a atenção do leitor a cada virada de página. Sua narrativa é ágil e inventiva em alguns momentos, ajudando a dar um bom ritmo à história, além de inserir easter eggs muito legais para os fãs do homem morcego, como os diversos batmóveis que aparecem ao longo da trama. Com relação ao trabalho de cores, Hollingsworth é sempre muito competente em seus trabalhos e aqui ele ajuda a entregar o aspecto sombrio que a história pede.

A edição da Panini possui capa dura e papel de boa qualidade. Além da história, há extras que detalham o processo criativo do autor, tanto na concepção dos personagens quanto das páginas. Pela demonstração do que vemos nesses extras, fica a curiosidade de ver a obra totalmente em preto e branco, já que Murphy tem muito talento nesse estilo de arte.

Batman – Cavaleiro Branco é uma obra que instiga curiosidade pela sua premissa, mas que peca um pouco no desenvolvimento da trama e deixa uma sensação de que poderia entregar algo maior, pois o autor, em teoria, teve mais liberdade do que numa história do universo tradicional. Vale a pena se você é fã do Batman ou quer ver um ótimo trabalho de desenho, só evite ir com muita sede ao pote.

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Ficha técnica

Editora: Panini
Tradução: Mateus Ornellas
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 248
Preço: R$89,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.