Batman vs. Superman: A Origem da Justiça-Tente outra vez Warner

Se você acompanha o Justiça Geek há algum tempo ou ouviu nosso Podcast  sobre as expectativas para a estreia do filme, sabe que eu estava com as expectativas bem baixas para assistir Batman vs. Superman desde aquele fatídico trailer do “ela está com você?”, que havia revelado detalhes demais da trama. Pois bem, após assistir ao filme posso afirmar sem sombra de dúvidas: O filme não me decepcionou. E isso de forma alguma é um elogio.

Antes de iniciar a análise, aqui vai uma breve Sinopse: Temendo as descontroladas ações de um super-herói quase Deus, o forte e formidável vigilante de Gotham City assume o papel do reverenciado salvador de Metrópolis, enquanto o mundo discute para decidir qual tipo de herói que realmente precisa. E enquanto Batman e Superman estão em guerra, uma nova ameaça surge rapidamente, colocando a humanidade em um perigo nunca antes conhecido.

Vou começar com os pontos positivos do filme. Batman vs. Superman tenta trazer uma abordagem diferente para os filmes de super-heróis, o que é positivo já que a Warner deve mesmo buscar uma abordagem que a diferencie da concorrência. O filme é mais sombrio (a fotografia do filme ajuda muito a criar essa atmosfera) e apresenta um belo visual e boas cenas de ação. A excelente trilha sonora de Hans Zimmer é um diferencial, o tema de Clark Kent é uma das coisas mais bonitas que eu já escutei no cinema.

Ben Affleck causou muita discussão quando foi escolhido para interpretar Batman/ Bruce Wayne. Eu fui um dos que duvidou de sua capacidade para interpretar o personagem, porém fui surpreendido. Affleck interpreta muito bem um Batman amargurado, cansado após tantos anos combatendo o crime, com muita influência de Frank Miller e agora surpreendido por um alienígena com poderes equiparados a um deus que ele considera uma ameaça. Há cenas em que ele demonstra muito bem a diferença entre Bruce Wayne e Batman e afirmo com total certeza que ele é um dos pontos altos do filme.

Gal Gadot também me surpreendeu com sua Mulher-Maravilha. Muitos reclamaram do seu porte físico para interpretar a personagem, mas ao vê-la em cena isso se torna irrelevante. Ela faz uma mulher forte, determinada a cumprir seus objetivos e sem medo de encarar quem quer que seja.

O Alfred interpretado por Jeremy Irons também é muito interessante. Ele mantém toda a ironia de sua contraparte nos quadrinhos e aqui tem um papel bem mais estrategista para o Batman, que pode ser estranho no começo mas você rapidamente se acostuma. Ele serve como uma espécie de bússola moral para Bruce Wayne, questionando e criticando alguns de seus comportamentos durante o filme.

A citação aos outros membros da Liga da Justiça foi uma maneira rápida de introduzir esses personagens e indicar o rumo do universo DC nos cinemas. Uma breve menção ao Perry White interpretado por Laurence Fishburne também é válida, mesmo que sua participação no filme seja curta. Sua interpretação de um editor chefe de um grande jornal é bastante competente.

Se eu levasse somente esses quesitos em consideração, poderia afirmar que Batman vs. Superman é um grande filmes de super-heróis, com um tom épico e excelentes cenas, muitas referências aos quadrinhos (inclusive com falas e enquadramentos) e que a Warner acertou em cheio. Mas não posso dizer isso pois, quando o filme erra, erra demais.

Indiferença é um sentimento que permeia todo o filme, você não consegue se importar com nada do que acontece. Com nenhuma morte, com nenhuma situação de perigo, com nenhuma reviravolta. Pude comprovar isso na sessão em que eu estava, as coisas aconteciam e ninguém reagia, nenhuma reação ou expressão de surpresa nem nada, somente um silêncio desolador.

O culpado por isso tem nome e sobrenome: Zack Snyder. Considero-o um diretor muito superficial (é possível ver isso em outros filmes dele, como Watchmen), pois a história pode ter várias camadas, mas ele só vai conseguir te mostrar a primeira, a mais rasa. Ele é um péssimo diretor de atores, os deixa muito soltos, o que as vezes prejudica a condução de uma cena. E por falar em cenas, há algumas que são completamente inúteis para o desenrolar da história (talvez seja um problema na montagem no filme, mas enfim…) e algumas que beiram ao ridículo (sim, me refiro à cena do “Do you bleed?”). Ele é bom na questão visual e em cenas de ação, mas é um péssimo Storyteller.

Lembra que eu falei que o Snyder deixa os atores muito soltos? Então, talvez isso tenha possibilitado a caricata e ridícula versão de Lex Luthor que vemos no filme. Sério, esse personagem talvez seja o maior ponto negativo do filme junto com a direção de Zack Snyder. Antes da estreia, Jesse Eisenberg prometia em entrevistas uma abordagem nunca vista desse icônico vilão, mas o que ele apresenta aqui é uma espécie de versão “Mark Zuckerberg” do personagem interpretado por Gene Hackman nos filmes clássicos de Richard Donner.

E quanto ao Superman? Henry Cavill não é um bom ator, até aí tudo bem, já vimos sua interpretação em Homem de Aço, que é um filme que eu até gostei. Mas aqui neste filme, no qual ele tinha que interpretar o Clark Kent repórter e o Superman ao mesmo tempo, ele demonstra que a única diferença entre Clark e Superman são somente os óculos. O mesmo tom de voz, a mesma postura, os mesmos trejeitos. A equipe do Planeta Diário deve ser composta de péssimos repórteres, com exceção da Lois Lane, pois é ridiculamente fácil perceber que esse cara é o Superman.

Falando em Lois Lane, não criticarei a interpretação de Amy Adams, que considero bem competente, mas sim um defeito que já havia sido constatado em Homem de Aço: sua onipresença. A personagem está em todos os lugares, em praticamente cada cena importante do filme e não nos é explicado o porquê. Um grande buraco no roteiro. O mesmo roteiro que descaracteriza personagens que qualquer pessoa conseguiria definir pois estão profundamente difundidos na cultura pop, que faz com que personagens realizem ações que ferem completamente seu código moral, que torna o Superman um individualista que não se importa com a humanidade se Lois Lane estiver bem, que faz o Batman ser um assassino sem qualquer remorso. Acreditei que a entrada de Chris Terrio, um renomado roteirista, iria impor ordem ao roteiro do filme, mas aparentemente o que vimos foi uma grande parte do que já havia sido escrito pelo contestado David Goyer.

Não quero dar nenhum spoiler, mas quero comentar um fato que vi em outras críticas e que acho importante deixar claro: O final NÃO é corajoso. É previsível, você consegue ver o que vai acontecer antes que aconteça e não reage de forma alguma, somente demonstrará, conforme eu disse antes, completa indiferença.

Espero que a Warner tire Zack Snyder do projeto dos filmes da Liga, pois em minha opinião ele já demonstrou que não é capaz de conduzir o futuro da DC nos cinemas. Mas duvido que isso aconteça, pois, no momento em que escrevo esse texto, o filme está batendo recordes de bilheteria e é isso que interessa ao estúdio. Nos resta torcer que os próximos filmes sejam melhor produzidos, melhor preparados e que a Warner não tente criar tanto hype quanto fez com este filme. Vá assistir com as expectativas bem baixas e você não sairá decepcionado, mas isso de forma alguma será algo positivo.

Nota: 6,0/10

Ficha Técnica

Duração: 151 minutos
Estúdio: Warner Bros.
Direção:
Zack Snyder
Roteiro: Chris Terrio e David S. Goyer
Elenco: Henry Cavill, Ben Affleck, Amy Adams, Jesse Eisenberg, Gal Gadot, Diane Lane, Laurence Fishburne, Jeremy Irons, Holly Hunter, Scoot McNairy, Harry Lennix, Tao Okamoto e Callan Mulvey, Jeffrey Dean Morgan, Lauren Cohan, Kevin Costner, Ezra Miller, Jason Momoa e Ray Fisher.

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.