Bórgia – A incessante busca pelo poder!

Alejandro Jodorowsky é um dos artistas mais versáteis que a humanidade já viu. Essa afirmação pode soar como mera hipérbole, mas o chileno de 95 anos já demonstrou seu talento nas mais diversas mídias, como cinema, literatura e, a favorita segundo ele, os quadrinhos. Sempre acompanhado por grandes artistas, o autor se aventurou em diversos gêneros e quando decidiu produzir uma história que abordaria o lado mais sombrio da igreja católica, ele se uniu a outra lenda, Milo Manara, para produzir Borgia.

Publicada originalmente na França em quatro volumes entre os anos de 2004 e 2010, o quadrinho mostra como o espanhol Rodrigo Bórgia, por meio de de intrigas, subornos, ameaças e outros crimes, se torna o papa Alexandre VI (durante os anos de 1492 a 1503) e dá início a um dos períodos mais controversos e deturpados da Igreja Católica. A sede de poder de Rodrigo se espalha por sua família, os filhos César, Lucrécia, Giovanni e Godofredo, que juntos reunem acusações de nepotismo, venda de cargos eclesiásticos, fratricídio, incesto, envenenamento e manipulação política. Não à toa, Jodorowsky afirma que eles são o primeiro clã mafioso da história.

O autor não se apega a qualquer limite e constrói uma excelente trama política que demonstra como a família Bórgia utilizou o poder da fé para realizar diversas atrocidades a fim de dominar uma Europa que já não acreditava na bondade de Deus e que era assolada por mazelas como a peste bubônica e vários conflitos territoriais que culminaram na formação de vários estados.

Claro que Jodorowsky toma várias liberdades criativas, “aumentando o volume” de alguns acontecimentos, envolvendo a participação de figuras históricas como Leonardo Da Vinci e Nicolau Maquiavel na trama, já que, como ele próprio admite em um texto presente no final do encadernado, estava tentando não só mostrar a história dos Bórgia, mas também os paralelos entre aqueles acontecimentos e o que vemos hoje em dia: Conflitos religiosos, guerras entre países, doenças, a poluição do meio ambiente, pessoas que utilizam sua influência política para atingir os próprios objetivos, etc. É uma história que quanto mais o leitor parar para pensar, mais ele irá encontrar e isso mostra como Jodorowsky é um dos escritores mais talentosos que os quadrinhos já viram, capaz de conceber tramas viscerais que são envoltas por uma sutileza que somente os grandes autores podem impor.

Um roteiro desse nível só poderia ser ilustrado por alguém de talento equivalente a esse escritor e Milo Manara atende a esse requisito com louvor. o próprio Jodorowsky afirma que ele foi sua primeira escolha para a arte e que fez grande esforço para que ele aceitasse a oferta. Deixando todas as polêmicas com as quais esteve envolvido nos últimos anos de lado, o artista italiano possui um dos traços mais belos dos quadrinhos, de uma leveza e personalidade únicas, você tem a sensação de que as páginas foram ilustradas por um verdadeiro artista renascentista. Os cenários são espetaculares, fazendo com que o leitor se sinta tão imerso que parece estar em Roma em pleno século XV, e o uso das cores é espantoso, fica visível que cada quadro é muito pensado e poderia estar exposto em alguma galeria.

Entretanto, por mais que o trabalho de Manara seja fabuloso, existem dois problemas que me chamam a atenção. O primeiro são os rostos, por mais que os personagens sejam muito bem retratados anatomicamente, muitas das mulheres são semelhantes, fica parecendo que a única diferença entre elas é o cabelo. O segundo é que sua narrativa não é muito fluida, já que a disposição dos quadros segue um estilo bem tradicional e pouco inventivo. Claro que, sendo um artista que publica trabalhos desde o final dos anos 60, o italiano mantém certas características dessa época, mas acho importante destacar esse contraste entre espetáculo visual e narrativa, por falta de palavra melhor, antiquada.

A edição da Pipoca e Nanquim possui capa dura e papel couché de alta gramatura, seguindo o padrão de apuro gráfico de suas edições. O tratamento editorial também segue o padrão de qualidade de outras publicações, com bom trabalho de tradução e revisão, e com relação à extras temos algumas artes de Manara e o texto já mencionado de Jodorowsky em que ele detalha o processo de produção da obra com informações muito valiosas e que aprofundam a experiência de leitura. Sempre gosto de ressaltar a importância desse tipo de material nas publicações e como as editoras muitas vezes ignoram.Vale mencionar também que o quadrinho já havia sido publicado por aqui pela Conrad em quatro volumes no ano de 2010.

Quando autores do nível de Alejandro Jodorowsky e Milo Manara se unem, os leitores podem imaginar que um ótimo trabalho será produzido e Bórgia é basicamente isso. Uma obra com várias camadas, que envolve o leitor e que é um grande espetáculo visual. Eu te entendo Jodo, quadrinhos também são minha mídia favorita para se contar uma história e esse é um exemplo do porquê disso.

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Ficha Técnica

Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Fernando Paz
Ano de lançamento: 2023
Páginas: 228
Preço: R$139,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.