Cage: Max – O quadrinho perdido de Brian Azzarello, Richard Corben e José Villarrubia!

Já comentei em outros textos sobre como considero o selo Max uma das iniciativas editoriais mais interessantes que a Marvel já teve. Com a premissa de mais liberdade editorial e focada em uma faixa etária mais velha, o selo proporcionou alguns grandes destaques como o Justiceiro de Garth Ennis e Alias, o quadrinho protagonizado por Jessica Jones, escrito por Brian Michael Bendis, com desenhos de Michael Gaydos e cores de Matt Hollingsworth. Entretanto, há diversas séries que acabaram perdidas na memória dos leitores ao longo dos anos, mas que também merecem atenção, mesmo que não sejam tão brilhantes como essas duas que mencionei. Uma delas é a minissérie Cage, escrita por Brian Azzarello, desenhada por Richard Corben e com cores de José Villarrubia.

A trama em questão não foge muito do que conhecemos sobre Luke Cage, o homem que preso injustamente passa por experimentos na prisão nos quais adquire força sobre-humana e pele impenetrável. Embora nesta história o aspecto super-heróico seja um pouco nebuloso, Cage continua sendo um homem forte que atua no Harlem em Nova York como uma espécie de herói de aluguel. Certo dia, a mãe de uma garotinha que foi assassinada no meio de um conflito de gangues reúne todas suas economias para poder contratar Cage e descobrir quem foi o assassino de sua filha. Em meio a essa investigação, o “herói” acaba desafiando grandes chefões do crime que farão de tudo para tirá-lo do caminho.

Como você pode perceber, a trama elaborada por Brian Azzarello não tem grandes pretensões, é uma típica história de Luke Cage, mas devido às liberdades do selo Max ele pode apresentar uma abordagem mais adulta. As primeiras páginas da edição 1, com uma narração do protagonista em um clube de strip-tease em que ele se apresenta, se tornou uma das sequências mais icônicas do personagem. O autor sabe como conduzir uma trama descompromissada que mantém a atenção do leitor mesmo com uma história simples e sabe brincar com o aspecto dos possíveis poderes de Cage, já que, pelo o que é apresentado, o mundo em que a trama se passa é mais realista que o universo regular da Marvel. O único porém é que, em algumas passagens, parece que Azzarello pensa que para que uma história seja considerada adulta basta enchê-la de palavrões e sexo, algo que acaba soando meramente pueril.

Com relação à arte, o trabalho de Richard Corben é excelente, tanto no aspecto narrativo quanto, principalmente, no estético. Arrisco dizer que a sua representação de Luke Cage é a definitiva, ele abandona o visual clássico do personagem com a icônica camiseta amarela, modernizando-o para os anos 2000, e também faz um bom trabalho de ambientação com seu traço sujo, que remete à Nova York do início do século, mas que também é alusiva aos anos 70, como vemos em filmes da Nova Hollywood, sendo o principal exemplo Taxi Driver. Aliás, esse trabalho de ambientação é muito bem complementado pelo trabalho de cores de José Villarrubia, que segue a estética mais suja do traço de Corben.

A minissérie em cinco edições foi publicada por aqui nas cinco primeiras edições da revista Marvel Max da Panini, entre o final de 2003 e o início de 2004 (foi originalmente publicada pela Marvel em 2002). Como mencionei anteriormente, esse é um quadrinho que acabou escanteado ao longo dos anos, nunca foi republicado por aqui e até mesmo nos EUA há pouquíssimas republicações. Dito isso, você pode ir atrás das edições de Marvel Max em sebos ou encontrá-la facilmente na internet para leitura por meios, digamos, alternativos.

Cage foi um dos primeiros quadrinhos publicados no selo adulto da Marvel, que acabou sendo esquecido ao longo dos anos, mas que merece ser lido, nem que seja para apreciar o trabalho de Richard Corben na arte. Eu recomendo que você escave o catálogo deste selo, tem muita coisa legal publicada que merece a atenção, e que eventualmente vou comentar por aqui, de uma época em que a Casa das Ideias merecia esse título.

Ficha Técnica

Editora: Panini
Tradução: Alexandre Mandarino/HC
Ano de lançamento: 2003
Páginas: Cerca de 22 por capítulo, publicados entre as edições 1 e 5 da revista Marvel Max

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.