Castanha do Pará – A realidade do Brasil!

A produção de quadrinhos nacionais vem crescendo tanto em questão de volume quanto em questão de qualidade há um bom tempo, apresentando diversos autores que vem recebendo cada vez mais destaque tanto da mídia especializada quanto do público, seja em iniciativas como o selo Graphic MSP, seja em publicações independentes que são financiadas através de plataformas como o Catarse. Gidalti Junior, autor de Castanha do Pará, é um dos exemplos de autores que tem surgido nos últimos anos no Brasil.

Inspirado no conto Adolescendo Solar, de Luizan Pinheiro, Castanha do Pará conta em forma de fábula a história de Castanha, um menino-urubu que vive suas aventuras pelos cenários do tradicional mercado público Ver-o-Peso, em Belém. Ele mora nas ruas e sobrevive dos furtos e das migalhas daqueles que se sujeitam a ajuda-lo. Embora haja elementos fantásticos em sua história, Castanha representa a vida de diversos jovens que vivem nas ruas do Brasil.

Esse é o trabalho de estreia de Gidalti Junior nos quadrinhos e é impressionante como o autor já apresenta tanta maturidade como quadrinista em Castanha do Pará. Em uma trama que mistura o real e o surreal, Gidalti transporta o leitor para as ruas de Belém sob a perspectiva de Castanha, apresentando sua conturbada história de vida e a visão que as pessoas ao redor têm do jovem menino-urubu, além de demonstrar as consequências que a violência pode atingir a vida de uma pessoa. Você vibra com Castanha em seus momentos de felicidade, sente seu sofrimento na pele nos momentos tristes e identifica muito do que ele passa nos noticiários da tv.

O trabalho de ambientação feito por Gidalti é fantástico, você se sente naquele ambiente, seja pelo cuidado em transmitir os sotaques de cada personagem e a cultura do local, seja por representar de maneira deslumbrante os cenários com sua arte.

Falando em arte, cada quadro de Gidalti é impressionante, seja pelo seu traço a lápis realista, seja pelo ótimo uso das cores que impactam o leitor em cada virada de página. O artista brilha principalmente nos planos abertos, nos quais ele detalha cada ponto dos cenários, e nos momentos mais surrealistas, nos quais diversos elementos inesperados são apresentados e enchem as páginas e os olhos dos leitores. Tudo isso envolto em uma narrativa que cadencia o ritmo da história e apresenta cenas catárticas nos momentos certos.

Não à toa, Castanha do Pará foi o primeiro quadrinho agraciado com o Jabuti na categoria Histórias Em Quadrinhos, criada em 2017. A obra merece todos os elogios mencionados nesse texto e é até um pouco estranho que não seja tão comentada entre os leitores, parece não ter ganho tanta popularidade mesmo com o impacto da premiação.

A publicação da editora Sesi-SP possui capa cartonada e papel offset de boa gramatura. O único extra presente é uma introdução escrita pelo jornalista Ramon Vitral, na qual ele detalha um pouco como foi o processo de concepção da obra. É importante mencionar também que inicialmente, Castanha do Pará foi publicada de forma independente através de um financiamento coletivo e que sua capa foi censurada em uma exposição dedicada a HQs paraenses em um shopping de Belém, após a reinvindicação de policiais militares incomodados com a arte.

A Imagem que foi ridiculamente censurada.

Castanha do Pará é uma leitura indispensável, um quadrinho que representa o nível de qualidade atingido pelos autores brasileiros nos últimos anos e que traz reflexões importantíssimas, além de apresentar uma região do país que muitas pessoas não conhecem. Gidalti Junior está com um novo projeto no Catarse, um quadrinho sobre a música brega paraense, que eu recomendo que você dê uma olhada e pense em apoiar. Estou ansioso para ler as próximas histórias que este autor pretende contar.

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Ficha técnica

Editora: Sesi-SP
Ano de lançamento: 2018
Páginas: 80
Preço: R$59,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.