Um grupo de crianças com relações familiares conturbadas que unidas devem encontrar um meio de combater uma ameaça com contornos sobrenaturais à sua cidade interiorana. Se você conhece o trabalho de Stephen King com certeza já se deparou com uma sinopse muito semelhante à essa ou pelo menos viu algo que se inspirou fortemente no trabalho do escritor, como o fenômeno Stranger Things. E por falar em obras que se inspiram no trabalho de King, é isso que encontramos em Colorado Train, quadrinho escrito e desenhado por Alex W. Inker baseado no romance escrito por Thibault Vermot e publicado por aqui pela editora Comix Zone.
A história se passa uma antiga cidade mineradora cercada pelas montanhas vermelhas do Colorado em meio aos anos 90 e é protagonizada por quatro jovens que vivem ali: Michael, um adolescente perdido, apaixonado por skate, com cabelos longos, calças largas, moletom e tênis Converse, Durham, um garoto sem-teto viciado em drogas, o corpulento Donnie, que tenta escapar dos valentões da escola e Suzy, a rebelde andrógina, sempre com um olho roxo deixado por seu pai, o xerife local. Mesmo com todo caos de suas vidas, eles conseguem desfrutar de sua amizade e se divertir em meio às andanças de skate, a escola, as primeiras experiências amorosas e cervejas, até que um garoto da cidade, que estava desaparecido, é encontrado devorado.
Você pode acabar pensando por causa dessa sinopse que a obra pode ser um pouco genérica, de fato a trama não é muito original, mas o grande atrativo dela está na capacidade de Inker envolver o leitor no relacionamento muito bem construído entre os personagens, meio que fazendo com que você se sinta parte daquele grupo. Além disso, a ameaça sobrenatural que eles enfrentam não é somente uma criatura monstruosa, mas uma interessante crítica política a como os EUA tratam seus veteranos de guerra, uma espécie de “Rambo encontra IT”. Não vou entrar em muitos detalhes para evitar spoilers, mas você vai entender o que digo quando ler a obra.
Com relação à arte, Inker apresenta um traço em preto e branco com bastante identidade e sombrio o suficiente para trazer o ambiente de suspense e terror que a trama pede. narrativamente, ele apresenta um estilo bastante cinematográfico, tanto em ângulos quanto em enquadramento e fluidez. Isso não é à toa, visto que a biografia do autor disponibilizada pela editora sinaliza que o autor possui mestrado em cinema e também dá aulas sobre as interseções entre cinema e quadrinhos.
Ainda sobre a narrativa, cabe destacar um recurso que o autor utilizou e que traz ainda mais imersão durante a leitura. Cada capítulo da obra possui o título de uma música e ouvi-las enquanto você lê o quadrinho é uma experiência muito legal. Para facilitar, o autor disponibilizou na última página um QR Code que direciona para a playlist oficial do quadrinho no Spotify, onde todas essas músicas estão compiladas. Isso reforça ainda mais o aspecto cinematográfico do quadrinho, já que fica parecendo que você está acompanhando um filme e sua trilha sonora.
A edição da Comix Zone possui capa dura, formato grande e papel offset. No aspecto gráfico e de revisão o trabalho é impecável, mas senti falta de paratextos que aprofundam os temas que a obra aborda, algo que a editora já fez em outras publicações (como o excelente Social Fiction) e que considero muito bem vindo para contextualizar a obra. Quanto mais você souber sobre os temas abordados aqui, mais a sua experiência de leitura será enriquecedora.
Colorado Train é um quadrinho que ao mesmo tempo que é uma história de aventura com adolescentes se unindo para enfrentar um grande mal, ao mesmo tempo que encaram seus problemas de relacionamento familiar, também é uma crítica nada sutil à forma com que os EUA lidam com a guerra. Alex W. Inker é um autor para se ficar de olho, espero que mais trabalhos dele sejam publicados por aqui.
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Ficha Técnica
Editora: Comix Zone
Tradução: Fernando Paz
Ano de lançamento: 2023
Páginas: 232
Preço: R$139,90
Lucas Araújo
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