Jeph Loeb e Tim Sale são uma das duplas mais famosas dos quadrinhos de super-heróis, sempre que há o nome deles em uma capa pode certeza que a história é no mínimo interessante. Depois de terem produzido obras como Batman – O Longo Dia das Bruxas e Superman – As Quatro Estações, Loeb e Sale se uniram para um projeto que ficou conhecido como “quadrilogia das cores”, no qual eles abordaram o início da trajetória de alguns heróis da Marvel sob a perspectiva de algum acontecimento trágico pelo qual eles haviam passado. Demolidor – Amarelo, um dos integrantes dessa quadrilogia, é um quadrinho tocante que se tornou um dos melhores já protagonizados pelo Homem Sem Medo.
Confrontando o luto pela perda de Karen Page, o amor de sua vida, Matt Murdock começa a escrever uma carta para ela como se estivesse estabelecendo uma última conversa, na qual ele começa a refletir sobre como a conheceu, sua infância, os ensinamentos que teve com seu pai (um boxeador decadente que teve problemas com a máfia), o início de sua sociedade com o amigo Foggy Nelson e seus primeiros dias como Demolidor. Ao confrontar seu passado, Matt procura encontrar forças para seguir seu futuro e reafirmar o objetivo de seu trabalho como advogado durante o dia e super-herói durante a noite.
Jeph Loeb sabe como construir uma história sensível sobre a perda de um ente querido e que ao mesmo tempo funciona como uma excelente história de origem para aqueles que ainda não estão familiarizados com o Demolidor. Cada uma das seis edições que compõem a trama apresentam um aspecto da vida de Matt Murdock e vão se conectando como um quebra cabeças, de forma que ao final da história o leitor tem uma maior compreensão dos motivos que o fazem agir como um vigilante e sobre o amor que ele sentia por Karen. A dinâmica entre Matt, Foggy e Karen é bem trabalhada, fazendo com que o leitor se afeiçoar a eles e compreenda o que significou a tragédia ocorrida com Karen para as pessoas ao seu redor. Não é uma simples história de super-herói, mas uma trama sobre amizade, amor e perda.
Tim Sale, que infelizmente faleceu este ano, é um dos mais talentosos artistas que os quadrinhos já tiveram. Desce a concepção das capas até as histórias em si, é perceptível como Sale pensava com muito cuidado em tudo, com um traço muito particular e elegante e uma narrativa ágil que sabe como fazer com que o leitor mergulhe na história, além de momentos de muita sutileza que poucos artistas sabem como colocar nas páginas (como exemplo, repare na cena em que Karen vê o Demolidor pela janela do escritório, mas é algo tão rápido que Sale desenha apenas parte da silhueta do personagem). Tudo isso é muito bem complementado pelo magnífico trabalho de Matt Hollingsworth, que emula no digital um estilo aquarelado que dá um certo toque de sonho e nostalgia para a obra.
O quadrinho foi publicado por aqui pela editora Panini em formato capa dura, papel couché e alguns extras, que envolvem um prefácio de Stan Lee, no qual ele exalta o trabalho de Loeb e Sale, e alguns detalhes dos bastidores de produção da obra. A publicação tem alguns problemas de revisão, que não atrapalham a leitura mas que infelizmente estão aparecendo com certa frequência nos quadrinhos da editora.
Demolidor – Amarelo é um dos melhores quadrinhos do personagem e uma demonstração da força que a dupla Jeph Loeb e Tim Sale possuem em seus trabalhos. O personagem voltou a estar em alta devido à sua aparição no seriado da Mulher-Hulk, então é uma boa oportunidade de você ler essa história. Um quadrinho que vai além dos super-heróis e suas lutas contra as ameaças ao universo.
Ficha técnica
Editora: Panini
Tradução: Marcelo Soares e Fernando Lopes
Ano de lançamento: 2019
Páginas: 168
Preço: R$62,00
Lucas Araújo
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