Legado de Júpiter – Game Of Thrones com Super-Heróis!

Mark Millar é uma figura um pouco controversa no meio dos quadrinhos. Alguns o alçam ao patamar de grandes roteiristas como Alan Moore e Neil Gaiman, outros acham que ele apenas usa artifícios apelativos em suas obras para chamar a atenção, mas no final seus trabalhos não tem conteúdo. Eu acho que Millar é um pouco irregular, pois ao mesmo tempo em que escreve trabalhos sem brilho algum, também consegue acertar em cheio em alguns quadrinhos memoráveis. Legado de Júpiter, parceria do roteirista com o artista Frank Quitely, se encaixa mais na segunda situação.

O primeiro volume da série lançado pela Panini reúne as 5 primeiras edições da série, que se iniciou em 2013 nos EUA. A história se inicia no ano de 1932, pouco depois do grande crash de 1929 que originou a Grande Depressão. Sheldon Sampson, um empresário que perdeu tudo durante a crise econômica, começa a sonhar com uma ilha perto da África e resolve viajar para lá acompanhado de seu irmão, Walter, e alguns amigos. Eles acreditam que encontrarão uma solução para resolver os problema de seu país nessa ilha.

A história avança para o ano de 2013 e o mundo parece o mesmo, porém cheio de super- heróis. Vemos que Sheldon se tornou o Utópico, uma espécie de Superman, que lidera todos os outros super- heróis e acredita que eles não devem intervir diretamente na política do mundo, pois este deveria ser um problema a ser resolvido pela própria sociedade. Acompanhamos também a vida de seus filhos, Chloe e Brandon Sampson, que são pessoas problemáticas que pouco se importam com o legado de seus pais.

Walter começa a se incomodar com a postura pouco intervencionista de seu irmão quanto aos problemas políticos e econômicos da humanidade e começa a tramar uma tomada de poder com o auxílio de Brandon. A partir desse momento começa uma espécie de Game of Thrones entre a comunidade super-heroica que desencadeará acontecimentos avassaladores.

Nesta HQ Mark Millar trabalha muito bem o relacionamento entre os personagens e faz analogias muito pertinentes com o nosso mundo atual. É conhecido o alinhamento político de Millar e as críticas que vemos aqui são recorrentes em outros trabalhos dele. Claro que além disso ele entrega uma história muito divertida de super-heróis, que te faz ficar interessado na história até o final (que não é bem final porque a série ainda não acabou, mas enfim…)

A arte de Frank Quitely é sensacional, mantendo o alto nível do trabalho deste artista que já estamos acostumados em outras obras, como Grandes Astros Superman e We3. Quitely é um dos artistas mais competentes na questão narrativa da indústria de quadrinhos atualmente, como você pode ver nas incríveis cenas de ação contidas nesse quadrinho.

Claro que a obra não é só elogios, pois há alguns pontos passíveis de crítica. Sobre o roteiro, achei que Millar demorou muito pra desenvolver o plot principal da série. Pra você ter uma ideia, a história só se inicia mesmo a partir do quarto capitulo, mas admito que os três primeiros tem a função de construir o universo que vamos acompanhar, só acho que ele poderia ser mais sucinto. Quanto aos desenhos, Quitely não apresenta muita criatividade ao criar os uniformes dos personagens. Não é algo que incomoda muito, mas demonstra uma certa “preguiça” do artista.

A série sofreu diversos atrasos em sua publicação nos EUA, muito devido a conhecida lentidão de Quitely para concluir seus trabalhos. Para preencher os hiatos da série, Millar lançou Jupiter’s Circle (ainda inédito no Brasil), uma série que conta as histórias dos primeiros anos de atuação dos super-heróis neste mundo. Ainda não há previsão para conclusão da série e conhecendo a periodicidade de Quitely, isso não deve acontecer tão cedo.

Legado de Júpiter merece sua atenção, principalmente se você é fã de outros trabalhos dessa dupla criativa. Fiquei curioso para acompanhar os futuros rumos da história e torço para que a série seja finalizada o mais breve possível (como eu disse, isso ainda vai demorar bastante…). Quando Mark Millar lança um trabalho, todos ficamos curiosos para ler independente da qualidade. Esse é um mérito que poucos autores possuem.

Ficha Técnica

Editora : Panini
Ano de lançamento: 2016
Páginas: 136
Preço: R$45,00
Onde encontrar: Livrarias e lojas especializadas

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.