Lone Sloane – A energia cósmica de Philippe Druillet!

Algumas lacunas do nosso mercado de quadrinhos são simplesmente inexplicáveis. Existem diversos gênios que nunca foram publicados por aqui ou que nunca tiveram muito destaque no catálogo das editoras brasileiras. Felizmente, aos poucos, essas lacunas são preenchidas como no caso de Lone Sloane, quadrinho do genial Philippe Druillet, auxiliado por Jacques Lob nos roteiros de alguns álbuns e Jean-Paul Fernandez nas cores, publicado por aqui pela editora Pipoca e Nanquim.

A publicação reúne seis álbuns do personagem criado por Druillet, sendo eles As 6 Viagens de Lone Sloane, Delirius, Gail, Chaos e Delirius 2, nos quais acompanhamos diversas histórias do explorador cósmico nas quais ele enfrentará tiranos despóticos, piratas espaciais, dragões e criaturas alienígenas, em mundos hostis e opressores, onde todos querem manipulá-lo e tomar seus poderes.

Toda a reverência que fiz no início deste texto tem um motivo, já que Druillet é um dos maiores gênios surgidos nos quadrinhos em todos os tempos, tendo sua influência transgredido a mídia e atingido realizadores nas mais diversas áreas, principalmente no cinema. Nascido em 1944, na França, ele iniciou sua trajetória em 1966 publicando Le Mystère des Abîmes, na qual seu herói Lone Sloane estreou. Depois disso, ele se tornou colaborador regular na revista franco-belga Pilote, na qual foi publicada As 6 Viagens de Lone Sloane e começou a revolucionar com seu estilo. Mas foi em 1974, quando se juntou a Moebius, Jean-Pierre Dionnet e Bernard Farkas para fundar a editora Les Humanoïdes Associés e criar a lendária revista Métal Hurlant, que o autor mudou para sempre a forma em que os quadrinhos seriam feitos dali pra frente.

As histórias de Lone Sloane são repletas de elementos clássicos de ficção científica e refletem muito a forma de pensar de seu criador. Druillet é avesso a qualquer forma de conservadorismo, então ele imprime isso em sua narrativa muito fora do comum, com uma forma bastante peculiar de como usar o espaço da página para contar uma história. Você se pegará em diversos momentos tendo que girar o quadrinho para prosseguir na história, num tipo de interação entre leitor e obra que é impressionante ainda nos dias de hoje, décadas após a publicação original. Seu traço também é impressionante, criando cenários que são completamente imersivos por mais que não tenham qualquer aspecto realista. É como se cada página emitisse grandes quantidades de energia cósmica.

Além do inegável impacto visual, Druillet também insere em suas histórias diversas questões bastante recorrentes em nosso mundo, principalmente no aspecto político e na questão da liberdade do ser humano. Por mais que as tramas envolvam personagens cósmicos em meio a conflitos intergaláticos, é muito perceptível as diversas analogias com o que estamos vivendo até os dias de hoje no aspecto da repressão e conflitos políticos.

Para que você entenda o quão impactante e revolucionário é o trabalho de Druillet é preciso dizer que a sua galeria de fãs vai desde colegas de profissão como Hergé (o criador do TinTin), Moebius (que teve uma verdadeira transformação em seu estilo ao ter contato com o trabalho do autor) e René Goscinny (um dos criadores do Asterix e um dos mais geniais roteiristas de todos os tempos), até verdadeiros ícones do cinema como George Lucas e Ridley Scott. É possível até mesmo dizer que Jack Kirby e Druillet influenciaram um ao outro em seus trabalhos, numa espécie de sintonia entre gênios que propiciou alguns dos mais incríveis trabalhos da indústria.

O trabalho da editora Pipoca e Nanquim é sempre muito primoroso, mas aqui os caras se superaram. Além da capa dura e do papel de alta qualidade, há um acabamento metalizado que destaca a publicação em meio às outras e textos extras que ajudam a contextualizar a importância do autor, assim como um trabalho de letreiramento super competente. Como ponto negativo, há um pequeno erro ao atribuir a René Goscinny a criação do personagem Lucky Luke em um dos textos, mas nada que impacte a leitura em si.

Lone Sloane é um trabalho que mostra todo o poder da criatividade de um verdadeiro criador de tendências, um gênio que merece ser mais conhecido pelos leitores de todo o mundo. Druillet é capaz de transportar o leitor aos confins do cosmo a cada virada de página e essa é uma habilidade que talvez nenhum outro autor possua. Leia sem medo e eu garanto que a viagem cósmica vai valer a pena. Simplesmente genial.

PS: Como leitura complementar, recomendo o excelente artigo sobre Druillet publicado no Formiga Elétrica, no qual o Raphael Ranieri fez uma ótima apresentação da trajetória do artista e sua importância para a mídia.

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Ficha técnica

Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Octavio Aragão
Ano de lançamento: 2019
Páginas: 340
Preço: R$ 129,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.