É inegável que a descoberta do trabalho de Hiroshi Hirata (Hirata Hiroshi no original) pelo mercado editorial brasileiro é um dos grandes marcos dos últimos anos. O autor especialista em dramas históricos focados nos samurais e na desconstrução da figura desses guerreiros tratados como infalíveis em muitos momentos é um dos grandes nomes da mídia, sempre trazendo verdadeiros épicos que encantam e ensinam. Em Mais Forte Que A Espada, seu mais recente trabalho publicado por aqui pela editora Pipoca e Nanquim, Hirata mais uma vez apresenta um trabalho consistente e diferente sobre samurais.
O quadrinho se passa durante Período Sengoku (1467 – 1615), o mais longo período japonês de guerras civis, e é protagonizado por Hisa, uma jovem criada para ser a dedicada esposa de uma família nobre, se casa com Yasuhide Shimizu, destinado a se tornar o soberano e general da província de Izu, a serviço do clã Hojo. Nesse período conturbado da história japonesa, Hisa irá ser confrontada com a violência e a guerra e terá, ao lado de seu marido e filhos, aprender como governar uma região sem utilizar o medo como ferramenta. A obra aborda um longo período de tempo, no qual acompanhamos o envelhecimento da protagonista e o crescimento de seus filhos, os desafios que eles enfrentam e as mudanças pelas quais o Japão passa ao longo dos conflitos entre poderosos generais.
Como é possível perceber pela sinopse, a obra já se diferencia bastante do que geralmente é feito em histórias desse tipo por ser protagonizada por uma mulher, muito forte tanto fisicamente quanto emocionalmente. Hirata apresenta muita sensibilidade em abordar certos temas, seja o próprio papel da mulher na sociedade daquele tempo, subvertido em muitos momentos por Hisa, seja ao mostrar os dramas da guerra e o impacto que ela pode ter nas famílias. Além disso, como é característico em seu trabalho, o autor apresenta facetas diferentes dos samurais, deixando de lado a figura de guerreiro honrado e de reputação ilibada, e apresentado a perspectiva de que muitas vezes esses guerreiros podiam agir de formas abjetas, se aproveitando de sua privilegiada posição social para cometer todo tipo de atrocidade.
É impressionante também notar o apuro histórico que Hirata procura apresentar em seus trabalhos, tendo cuidado com a ambientação, as roupas, as comidas e as armas, além de se atentar ao apresentar toda a hierarquia da sociedade japonesa na época, muitas vezes alternando o ponto de vista entre diferentes personagens para dar uma maior abrangência para a trama, fazendo com que em muitos momentos o leitor se sinta andando pelo Japão feudal. É tudo muito bem estudado e justifica o tempo que ele demorava entre a produção de suas obras, já que exigia muita pesquisa e preparo (como ele mencionava em entrevistas). Infelizmente, Hirata nos deixou em 2021 aos 84 anos.
O traço de Hirata também é espetacular, não à toa ele é um dos grandes autores desse gênero. Consegue ao mesmo tempo representar cenas de ação empolgantes e ágeis e também momentos mais introspectivos, calmos, cadenciando a narrativa. As batalhas são dignas de grandes filmes do gênero, com enquadramentos dinâmicos e momentos empolgantes. Aliás, para aqueles que estão familiarizados com o trabalho do autor, há uma ótima referência a um grande guerreiro em certo momento da história com a qual é impossível não se empolgar.
O quadrinho foi publicado em dois volumes e segue o padrão dos mangás da Pipoca e Nanquim, com capa cartonada, sobrecapa e papel lux cream. O trabalho editorial é muito competente, com destaque para o glossário muito completo elaborado pela tradutora da obra, Drik Sada, que elucida diversos aspectos da trama e torna a obra ainda mais completa.
Mais Forte Que A Espada é uma ótima porta de entrada se você quer conhecer o trabalho de Hiroshi Hirata, um dos grandes gênios dos quadrinhos. Seu trabalho é tão impactante que é muito provável que ao ler uma de suas obras você o coloque na sua lista de autores favoritos. Que ele continue sendo publicado por aqui e que cada vez mais leitores possam conhecê-lo, aprender ao mesmo tempo em que se aprecia uma boa leitura nunca é demais.
Para comprar esse quadrinho clique AQUI e AQUI. Ao comprar pelos nossos links você nos ajuda a continuar trazendo Justiça pra Cultura Pop! Ah e sempre tem um desconto bem legal 😉
Ficha técnica
Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Drik Sada
Ano de lançamento: 2022
Páginas: 356 (cada um dos dois volumes)
Preço: R$76,90 (cada volume)
Lucas Araújo
Latest posts by Lucas Araújo (see all)
- Domínio Público – A exploração dos artistas nos quadrinhos de super-heróis! - 26 de novembro de 2024
- As Muitas Mortes de Laila Starr – A vida sob a perspectiva da morte! - 4 de novembro de 2024
- Namor – As Profundezas – E se Lovecraft escrevesse um quadrinho da Marvel? - 18 de outubro de 2024