Moonshadow – Um clássico por excelência!

Ao longo da história dos quadrinhos sempre houveram obras que exploraram os limites da mídia, rompendo-os e estabelecendo novos parâmetros. Quando J. M. DeMatteis e Jon J. Muth, com participações de Kent Williams e George Pratt, se uniram para conceber Moonshadow, que foi republicado por aqui recentemente pela editora Pipoca e Nanquim, eles criaram uma obra desse tipo, que quebrou paradigmas e estabeleceu um novo patamar para as histórias em quadrinhos.

Neste quadrinho acompanhamos Moonshadow, um jovem romântico, fruto do relacionamento de uma terráquea com um ser alienígena, durante sua jornada do despertar. Tendo vivido boa parte da existência em um zoológico espacial, imerso em uma enorme biblioteca, que reúne espécimes abduzidos de todo o cosmo pela misteriosa raça de esferas sorridentes conhecidas simplesmente como Des-Mesus, o inocente Moon — cujo conhecimento das coisas se baseia apenas em livros e no que sua mãe hippie lhe contava — parte em uma aventura ao lado do canalha Ira e do fiel gato Frodo, para descobrir que a vida é muito diferente do que ele imaginava.

J.M. DeMatteis fez provavelmente o melhor trabalho de sua carreira quando concebeu Moonshadow. Seu roteiro tem um ar muito poético, seja na forma com a qual preenche os espaços da página com seu texto, seja no conteúdo em si. Ele narra a jornada de descoberta de Moonshadow de maneira sensível, mas também muito intensa. É incrível como ele consegue fazer com que a história cresça conforme o protagonista faz suas descobertas, chegando ao final de forma catártica e bela. O epílogo desta obra é uma das coisas mais belas que eu já li.

O autor também aproveita para exibir todas as suas influências durante a obra. Em diversos momentos vemos paralelos entre Moonshadow e a obra de escritores como Charles Dickens, Kurt Vonnegut, Dostoiévski, Tolkien e muitos outros, além de outros artistas como os Beatles. Além de tudo isso, DeMatteis também faz um fantástico trabalho de desenvolvimento de personagem, fazendo, por exemplo, com que personagens inicialmente repulsivos causem empatia ao leitor, e também consegue discutir variados temas como política, filosofia, religião, sexo, guerra, morte e vida. Um roteiro verdadeiramente brilhante.

Mas é claro que os méritos do quadrinho não estão somente na alta qualidade do roteiro. A Arte de Jon J. Muth é algo simplesmente sublime, é até difícil elogiar utilizando apenas palavras. O autor sabe como trazer à vida as ideias de DeMatteis e faz um trabalho que provém ao leitor uma viagem pelos confins do universo e que encanta de maneira ímpar. É tudo muito bem pensado, escolhido e apresentado. Um trabalho digno de um gênio.

A edição da editora Pipoca e Nanquim é muito completa, contendo todas as doze edições originais e suas respectivas capas, o epílogo publicado anos depois e extras que ajudam a entender um pouco do processo de criação dos artistas, com alguns rascunhos, roteiros e propostas preliminares e alguns comentários dos criadores. Um trabalho primoroso digno da obra. Cabe também um elogio à tradução de Érico Assis, já que a obra é repleta de jogos de palavras que adicionam mais camadas à história e que se o tradutor não for competente, podem ser perdidos.

Moonshadow é uma daquelas histórias que os leitores devem revisitar diversas vezes durante a vida. Uma obra seminal que mudou os quadrinhos quando foi lançada e que continua nos encantando não importa quanto tempo passe. Um verdadeiro clássico, sem dúvidas.

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Ficha técnica

Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Érico Assis
Ano de lançamento: 2019
Páginas: 540
Preço: R$139,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.