O Efeito He-Man – Por que gostamos disso?

Nostalgia é um sentimento que muitas vezes nos traz paz, a lembrança de um lugar idealizado no qual não tínhamos problemas e podíamos nos divertir sem preocupações, mas você já parou para pensar em como as grandes corporações conseguem manipular esse sentimento para ditar nossos padrões de consumo nas mais diversas mídias? É isso que Box Brown procura demonstrar em seu mais recente trabalho publicado por aqui pela editora Mino, O Efeito He-Man.

Neste quadrinho, Brown coloca uma lupa sobre os anos 80 e busca analisar como o marketing voltado para crianças da época, de certa forma influenciado pelas técnicas de propaganda da Segunda Guerra Mundial, moldou a mente dos adultos de hoje. Com base em desregulações da era Reagan, as empresas de brinquedo e entretenimento conseguiram despejar centenas de conteúdos nos cérebros das crianças americanas para dominar seu psicológico. Mas quais são as consequências de superlotar um cérebro em desenvolvimento com o mesmo tipo de marketing utilizado na época do “terror vermelho”, o auge da propaganda anti-comunismo americana?

Box Brown é um especialista em documentários em quadrinhos e sabe como contar uma história de forma séria, repleta de informações, mas também leve e divertida. Ele não tem medo de citar nomes e demonstra como Disney, Mattel, Hasbro, Marvel, DC, George Lucas, entre outros, utilizaram a indústria de brinquedos como alicerce e expandiram seu poder para outros segmentos, como o entretenimento, para ditar quais os gostos de toda uma geração e também das seguintes. Basicamente, o autor explica porque somos como somos e porque gostamos tanto de coisas como Star Wars, super-heróis, Transformers etc, como esses gostos não surgiram naturalmente, mas foram construídos por uma intencional estratégia de marketing diretamente ligada aos princípios do capitalismo. Não só isso, mas essas estratégias também buscavam nos dizer quem eram os heróis e os vilões do mundo real, que nos anos 80 vivia uma situação geopolítica bastante conturbada.

É visível a profunda pesquisa para conceber esse trabalho, tanto que o autor apresenta uma extensa bibliografia no final. Gosto de como ele utiliza uma divertida ironia para tirar algumas risadas do leitor, mas também profundas reflexões que te deixam pensando sobre o assunto mesmo muito tempo depois da leitura. As alfinetadas, principalmente na Disney, são um charme a parte, mas interessante notar como Brown não se coloca como alguém externo à situação, mas sim como um dos que foram “vítimas” dos padrões de consumo que foram estabelecidos por essas empresas.

Com relação à arte, o autor apresenta um estilo de traço muito característico, com uma pegada underground. Não há grandes arrojos narrativos, mas há muita inteligência e sagacidade para construir certas ironias em alguns quadros, com contrastes entre o texto apresentado e a imagem do quadro, ou com brincadeiras semióticas, algumas sutis, outras nem tanto.

A edição da Mino tem capa cartonada com orelhas e papel offset. Com relação aos extras, há um posfácio do autor em que ele dá alguns detalhes sobre a produção da obra, a já mencionada bibliografia e também algumas notas adicionais em que ele pontua algumas situações e situações apresentadas ao longo da história.

O Efeito He-Man não é só um belo documentário em quadrinhos, vai além disso, é um estudo sociológico que explica como as gerações dos anos 80, 90 e 2000 foram influenciadas ainda na infância por grandes empresas que moldaram parte de sua personalidade. Ou seja, o capitalismo em sua mais plena forma, não é mesmo?

Para comprar esse quadrinho clique AQUI. Ao comprar pelos nossos links você nos ajuda a continuar trazendo Justiça pra Cultura Pop! Ah e sempre tem um desconto bem legal 😉

Ficha Técnica

Editora: Mino
Tradução: Dandara Palankof
Ano de lançamento: 2023
Páginas: 272
Preço: R$80,00

(Visited 119 times, 1 visits today)
The following two tabs change content below.

Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.