Jeff Lemire é um dos autores de quadrinhos mais comentados dos últimos anos. O canadense tem sido bastante premiado e reconhecido tanto pelos leitores quanto pelas editoras, que vêm publicando diversos de seus trabalhos por aqui. E dessa vez foi a editora Pipoca e Nanquim que trouxe um trabalho do autor para o Brasil, O Ninguém, quadrinho escrito e desenhado por Lemire que adapta, de forma bastante livre, o livro O Homem Invisível de H. G. Wells.
Em O Ninguém, Lemire constrói uma história intimista ambientada em uma pequena cidade do interior, algo no qual ele é especialista, visto trabalhos como Condado de Essex, O Soldador Subaquático e Gideon Falls. Dessa vez acompanhamos a jornada de John Griffen, um cientista que após uma experiência traumática busca paz em sua vida e vai parar na pacata cidade de Boca Larga. Devido à sua aparência peculiar, pois seu corpo é totalmente coberto por ataduras, ele acaba chamando a atenção da população, principalmente de uma jovem chamada Vickie. Mas quando ocorre um terrível crime na cidade, os cidadãos assumem que Griffen é o principal suspeito, passando a caçá-lo, o que pode acabar revelando um terrível segredo.
É sabido que algumas das mais evidentes habilidades de Lemire são a construção de seus personagens e dos relacionamentos entre eles, aproximando a trama do leitor e causando certa identificação. Em O Ninguém isso fica bastante evidente, seja no relacionamento entre John e Vickie, seja na visão que os cidadãos têm de John. E é nessa construção de relacionamentos que Lemire explora a essência do ser humano, como as pessoas tem medo do diferente, como podem tentar perseguir alguém somente por sua aparência ou discreta forma de agir, assim como também mostra como verdadeiras amizades podem surgir nas situações mais adversas. Muitas vezes o autor foge do óbvio e isso é muito gratificante, ainda mais em um ramo em que é frequente que autores busquem soluções fáceis para conduzir uma história.
Além do roteiro muito bem escrito, intimista e emocionante, a arte de Lemire tem muito a dizer. Já mencionei em outras resenhas que o considero um dos maiores narradores gráficos da atualidade, e em O Ninguém ele continua honrando esta alcunha, seja nos momentos em que ele alterna o tempo ao mudar sua arte para um estilo pintado, seja na própria escolha de cores, já que o branco e o azul apresentam a melancolia que o roteiro procura transpor. Há também as belas homenagens à grandes clássicos dos quadrinhos nas capas que abrem cada capítulo, que são um detalhe muito interessante para os fãs mais iterados. É tudo muito bem pensado e embora alguns possam criticar seu traço bastante incomum, classificando-o como feio, ele se encaixa perfeitamente na história que o autor quer contar.
Há algum ponto negativo neste quadrinho? Bom, não há nada que chame a atenção neste quesito, já que a história não apresenta grandes pretensões, mas pode-se dizer que, caso você esteja acostumado com o trabalho de Jeff Lemire, não encontrará nada exatamente novo por aqui. Isso não é bem um ponto negativo, mas fica o aviso.
O trabalho da editora Pipoca e Nanquim é sempre bastante competente e aqui não foi diferente. Além do ótimo tratamento gráfico e editorial, há também um excelente texto complementar escrito pelo editor Alexandre Callari no qual ele faz uma ótima contextualização do trabalho de H. G. Wells e das adaptações feitas ao longo dos anos. Além disso, há também uma completa biografia de Lemire que ajudará os leitores mais novatos a conhecerem mais sobre seus outros trabalhos.
O Ninguém é uma ótima porta de entrada para se conhecer o trabalho de Jeff Lemire, mas também pode agradar àqueles que já tiveram contato com o trabalho do autor. É um belo quadrinho e espero que as editoras continuem a trazer os trabalhos deste grande artista. Pelos números de vendas que ele apresenta, esse é um desejo que será facilmente atendido.
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Ficha técnica
Editora : Pipoca e Nanquim
Ano de lançamento: 2019
Páginas: 156
Preço: R$ 59,90
Lucas Araújo
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