Os Ômega Men – O poder da revolução!

É muito difícil que, caso você leia quadrinhos com certa regularidade, nunca tenha ouvido o nome de Tom King. O autor norte-americano tem se destacado por apresentar obras sensacionais como Visão, Xerife da Babilônia e Senhor Milagre, mas também por alguns deslizes como sua fase na revista do Batman e Heróis em Crise. De todo modo, King já chamava a atenção desde seu primeiro trabalho como escritor solo (antes ele tinha sido co-roteirista da série Grayson, ao lado de Tim Seeley), a minissérie Os Ômega Men, desenhada majoritariamente por Barnaby Bagenda, mas com artes complementares de Toby Cypress, Ig Guara, José Marzan Jr., e cores de Romulo Fajardo Jr. e Tomeu Mory.

Os Ômega Men são párias espaciais, um grupo composto por membros distintos que possuem o objetivo de libertar o sistema Vega de um terrível governo tirano. Seus métodos são bem pouco ortodoxos, o que faz com que eles sejam tratados como terroristas pela mídia, embora parte da população os vejam como revolucionários patriotas. Eles chegam ao extremo de suas ações quando assassinam o Lanterna Branco Kyle Rayner, que havia sido direcionado ao setor Veja para mediar o conflito entre governo e rebeldes, e transmitem o assassinato para todo o setor ao vivo na tv. Entretanto, conforme a história avança, o leitor verá que as ações dos Ômega Men vão muito além do que parece e que nem tudo que se ouve e se vê é necessariamente verdade.

O roteiro dessa obra esta entre os melhores que Tom King já escreveu, apresentando forte teor político e demonstrando diversos pontos de vista de uma questão que, embora pareça distante por se passar no espaço, é extremamente contundente para o mundo em que vivemos. O autor utiliza sua experiência como ex-agente da CIA para contar uma história que mostra o perigo de interferências de agentes externos em certos conflitos, como as pessoas não obedecem a nenhum limite quando estão em busca de um recurso natural para ser utilizado em sua economia, como a mídia pode manipular a visão sobre certos movimentos e taxá-los como terroristas e como em uma guerra nem tudo é preto e branco. Pense um pouco e você verá que é muito fácil fazer certos paralelos com o que acontece em nosso mundo em locais como o Oriente Médio e a América Latina.

King sabe como construir toda uma mitologia para os personagens e planetas envolvidos na trama, fazendo com que tudo aquilo realmente pareça vivo. Ele cria toda uma estrutura política e até mesmo religiosa que remete aos melhores autores de ficção científica, sendo o mais interessante o contraponto entre ômega e alfa, a vida e a morte, o início e o fim e como isso pode ir se transformando conforme o conflito vai se desenrolando.

É importante também notar como o autor utiliza a grade de nove quadros por página (que se tornou famosa nos trabalhos de Alan Moore) para dar um aspecto mais sofisticado sob o ponto de vista narrativo e também para inserir um pouco de metalinguagem no encerramento da obra. Numa indústria tão massacrante quanto a dos EUA, é sempre legal ver um autor que pensa não só na história que pretende contar, mas também em como irá contá-la.

A arte de Barnaby Bagenda é muito competente, apresentando uma estética muito moderna em seu traço, embora lembre um estilo mais clássico em alguns momentos. A qualidade de seu trabalho fica evidente quando outros artistas precisam desenhar algumas páginas e não conseguem obter o mesmo brilho. Narrativamente falando, ele não faz nada muito arrojado, visto que ele está seguindo o que foi determinado por Tom King, mas merece elogios já que ele consegue se destacar mesmo assim.

O quadrinho foi publicado pela Panini em dois volumes em capa cartonada e em papel couché, com preço acessível para os padrões de hoje em dia, além de um trabalho editorial competente. Os extras consistem em todas as capas produzidas para a série e o guia que Tom King escreveu estabelecendo as diretrizes que seriam seguidas na história, com a denominação de cada planeta do sistema Vega e as principais características dos protagonistas.

Os Ômega Men é uma leitura perfeita caso você esteja procurando algo diferente feito com super-heróis. É um quadrinho que convida o leitor a refletir e fazer paralelos com o que é apresentado na trama e com o que vemos diariamente em várias partes do mundo. Embora não acerte sempre, esse quadrinho demonstra o porquê você sempre deveria ficar atento a um trabalho que tenha o nome de Tom King na capa.

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Ficha técnica

Editora: Panini
Tradução: Rodrigo Oliveira
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 144 (volume 1)/136 (volume 2)
Preço: R$31,90 (volume 1)/ R$27,90 (volume 2)

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.