Alan Moore e “gibi de boneco” são duas coisas que eu gosto muito e que, quando misturadas, geralmente geram trabalhos no mínimo interessantes. O escritor britânico explodiu em popularidade com trabalhos que abordaram a desconstrução de super-heróis, como os excepcionais Miracleman e Watchmen,e ficou marcado como o autor que não gosta desse tipo de personagem, por mais que ele já tenha comentado que isso não era exatamente verdade.Durante os anos 90, Moore produziu algumas obras com outra abordagem sobre super-heróis, com um aspecto muito mais otimista e, em algumas ocasiões, bem-humorado. É isso que vemos em Top 10, quadrinho que ele produziu ao lado dos artistas Gene Ha e Zander Cannon.
A obra se situa na cidade de Neópolis, mais especificamente no 10º Distrito Policial, onde todos habitantes possuem superpoderes (incluindo até mesmo os animais de estimação), o que torna o trabalho da policia ainda mais difícil. Durante cada uma das histórias, acompanhamos o dia a dia desses policiais investigando assassinatos, impedindo assaltos, resgatando vítimas de acidentes e interagindo entre si em situações que vão do drama à comédia. Além da série principal, a publicação também inclui uma minissérie protagonizada por Smax e Toybox, dois dos policiais de Top 10, e outra minissérie chamada Top 10: The Forty-Niners que conta a origem de Neópolis e seu departamento de polícia.
É muito pouco provável que você nunca tenha ouvido o nome de Moore, já que ele é um dos autores mais populares e geniais que os quadrinhos já tiveram. O que você pode não saber, devido à sua fama de rabugento, é que ele também pode ser engraçado quando quer. As situações apresentadas por ele em Top 10 arrancam boas risadas ao brincar com os absurdos que podem acontecer em uma cidade habitada apenas por seres super poderosos, desde um cachorro falante que se apaixona por uma humana, até uma infestação de ratos que gera uma Crise Nas Infinitas Terras. É brilhante a forma com que o Mago dos Quadrinhos consegue também inserir momentos dramáticos que emocionam o leitor, o final de um dos capítulos é uma das coisas mais lindas que você poderá ver nesta mídia. Além disso, os mais aficionados perceberam as diversas referências a vários clássicos dos quadrinhos de super-heróis, com detalhes presentes em cada quadro, que você deve prestar atenção se não quiser perder nada.
Narrativamente, é interessante notar também como Moore utiliza algumas características tradicionais de seus trabalhos, como as páginas de nove quadros que ficaram marcadas por Watchmen, mas faz uma mescla com recursos utilizados em histórias clássicas. A inventividade dele fica ainda mais notável na minissérie de Smax, já que ele mistura os super-heróis como uma trama de fantasia que beira a paródia dos clássicos do gênero. O autor não tem toda a fama à toa, como você pode perceber.
Com relação à arte, o trabalho de Ha e Cannon é muito competente, com o primeiro tendo um traço mais tradicional no que tange à histórias de super-heróis e o segundo com um estilo mais cartunesco. É notável a criatividade dos dois em elaborar conceitos visuais, uniformes e ambientes, seja a própria Neópolis, alguma terra paralela ou a terra natal de Smax. Pena eles não terem muitos trabalhos de destaque além dessa parceria com Moore.
A publicação da editora Panini tem capa dura, papel couché e não contém extras. A edição tem alguns problemas envolvendo revisão e tradução, visto que há alguns erros de português ao longo da leitura e ocorrem situações em que um mesmo termo é traduzido de formas diferentes em trechos da história (talvez isso aconteça pois há mais de um tradutor). A editora vem sendo criticada há um bom tempo por seu trabalho editorial e nesse caso o puxão de orelha se faz necessário, visto que atrapalha um pouco o ritmo da leitura.
Top 10 é uma oportunidade de ver uma faceta diferente de Alan Moore e atestar a sua paixão por super-heróis, que infelizmente foi abalada pela forma com a qual ele foi tratado pela indústria. Ao término da leitura fica a vontade de ler mais histórias desse universo e é uma pena que Moore nunca voltará a ele. Viaje para Neópolis e aproveite, mas cuidado com os acidentes de teletransportadores, a gangue dos vampiros e com o motorista de táxi clarividente.
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Ficha técnica
Editora: Panini
Tradução: Rogerio Saladino e Leandro Luigi Del Manto
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 576
Preço: R$204,90
Lucas Araújo
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