Torpedo 1936 Vol.1 – Uma visão diferente das histórias noir!

Quando se trata de histórias noir, imediatamente pensamos em protagonistas policiais durões que combaterão o crime de toda forma possível e que se relacionarão com mulheres exuberantes. Em Torpedo 1936, Enrique Sánchez Abulí subverte o gênero ao construir uma trama repleta de violência e humor, protagonizada por um bandido desprezível e seu fiel ajudante. Tudo isso muito bem ilustrado, inicialmente por Alex Toth e posteriormente por Jordi Bernet.

Luca Torelli, que possui o apelido de Torpedo, é um assassino profissional inescrupuloso e frio, que executa seus serviços em meios à turbulenta década de 1930, pós Grande Depressão, em Nova York, acompanhado de Rascal, seu fiel Escudeiro. Ele irá se envolver em histórias que envolvem desde assassinatos passionais e por cobranças de dívidas, até a serviços como segurança de mafiosos e políticos.

Repare como a arte de Alex Toth, nessa imagem, se difere do traço de Jordi Bernet nas imagens seguintes desse texto.

Abulí é considerado um dos maiores nomes quando se fala em quadrinhos espanhóis, muito por ter revolucionado o mercado com suas histórias adultas, sendo Torpedo sua criação mais famosa. Em uma sequência de histórias curtas o autor é hábil em apresentar tramas variadas e autocontidas, mas que ao longo das publicações, deixa algumas pontas soltas a serem fechadas em histórias posteriores. O toque de humor também é essencial para diferenciar Torpedo 1936 das histórias do mesmo gênero, além da construção de um protagonista que o leitor irá odiar, mas não conseguirá parar de acompanhar suas histórias.

Entretanto, há uma crítica que preciso fazer com relação aos roteiros de Abulí: o excessivo uso de estupros como mecanismo das tramas. Entendo que ele queira mostrar como o protagonista é uma pessoa ruim, mas em alguns momentos isso fica repetitivo e pode acabar afastando alguns leitores. Claro que essa crítica pode conter um pouco de anacronismo, já que não havia esse tipo de preocupação nos anos 80, quando essas histórias foram escritas, mas acho importante pontuar para que o leitor não seja surpreendido.

Alex Tooth é uma verdadeira lenda dos quadrinhos e aqui apresenta um bom trabalho, mas é inegável que o traço de Jordi Benet é o definitivo da obra. Com bom domínio do preto e branco, o desenhista espanhol apresenta um traço sujo, detalhado e que faz bom uso das expressões faciais dos personagens. Só sinto que sua narrativa fica um pouco presa no esquema de seis quadros fixos por página, mas entendo que seja uma determinação da época da publicação e que era comum nos quadrinhos serializados espanhóis.

A editora Figura apresenta um bom trabalho, tanto editorial quanto gráfico. Em capa dura e papel offset de boa qualidade, a publicação também traz ótimos extras que ajudam a dar contexto a obra e explicam sua importância para os quadrinhos, tendo recebido diversos prêmios, como o cultuado Angoulême, ao longo dos anos.

Torpedo 1936 é um quadrinho para leitores que curtem uma narrativa noir e que querem consumir algo diferente sendo feito com o gênero. Esse é o primeiro de três volumes que a editora promete publicar, espero que ela consiga cumprir isso e que tenhamos a obra publicada integralmente por aqui.

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Ficha técnica

Editora: Figura
Tradução: Ernani Sso
Ano de lançamento: 2020
Páginas: 228
Preço: R$ 69,00

 

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.