Não, você não está tendo um déjà-vu. Já temos uma critica de Coringa aqui no site, muito bem escrita pelo Montez que recomendo que você leia. Pela primeira vez no Justiça Geek teremos dois textos sobre o mesmo filme pois gostaria de registrar a minha opinião, que diverge da grande maioria das pessoas que viram o filme. Vamos lá.
Desde que o filme solo do Coringa foi anunciado fiquei com um pouco de receio já que já havia sido anunciado que o Batman não estaria no filme, o que me causa estranhamento já que acho necessário o contraponto do vilão, e que ele se passaria entre o fim dos anos 70 e o começo dos 80. Conforme foram anunciadas mais informações, como a confirmação do ótimo Joaquim Phoenix no papel principal e a estética fortemente influenciada por Taxi Driver, fiquei interessado em conferir o longa. Depois de assisti-lo pude atestar uma coisa: ele não tem nada demais.
O filme narra a história de Arthur Fleck, um homem atormentado por problemas mentais e castigado pela sociedade que vive em uma sombria e desolada Gotham junto de sua mãe, que está bem doente. Ao ter sua tentativa de se tornar um comediante stand up frustrada e cansado de ser ignorado, decide extravasar toda sua ira contra tudo e todos utilizando a violência.
O filme tem o mérito de realmente ser bastante perturbador, seja pelas situações que são apresentadas, seja pelos recursos utilizados, desde a ótima trilha sonora até um trabalho de fotografia e enquadramentos bem interessantes. Além disso, Joaquim Phoenix apresenta um bom trabalho de atuação, bastante físico, que incomoda o expectador. Ah também sutis referências aos quadrinhos, clássicos como Cavaleiro das Trevas e Piada Mortal, que agradam aos já iniciados. Nestes pontos o filme realmente acerta.
Pena que para por aí. De maneira resumida, o grande problema do filme é Todd Philips, diretor e roteirista do longa, que comete diversos equívocos na execução de suas ideias. Em certos momentos ele parece prepotente ao tentar se colocar no mesmo nível de grandes nomes da Nova Holywood, como Sidney Lumet, Martin Scorsese e William Friedkin, emulando esses diretores ao ponto de se tornar um mero pastiche. Sério, Coringa nada mais é do que uma fusão de Taxi Driver com Dia de Cão, com leves pitadas de Operação França (há uma cena de perseguição que parece ter sido tirada deste último).
Além da direção sem identidade, Philips comete diversos erros com relação ao roteiro. Eu não vou entrar no mérito do filme influenciar o comportamento das pessoas de maneira negativa, até porque qualquer obra de arte pode causa um impacto negativo numa pessoa que já tenha algum distúrbio, como por exemplo a forma como Taxi Driver influenciou o atentado à Ronald Reagan ou como Os Sofrimentos do Jovem Werthar causou uma onda de suicídios na Europa quando foi lançado. Entretanto, é inegável que o filme glorifica a violência e a figura de um psicopata sem fazer um contraponto para mostrar o quanto aquilo é perturbador. O Coringa começa como vitima da sociedade e acaba se tornando um símbolo da luta de classes em Gotham, de maneira irritantemente rasa e sem sentido. Não sei se isso foi feito de forma intencional ou se é pela incapacidade de Philips, mas nos dias de hoje é muito complicado transmitir esse tipo de mensagem em uma obra. É mais estranho ainda o comportamento do público ao ver isto, já que ao menos na sessão em que vi o filme, o público ria em momentos que deveriam causar tensão e ficava eufórico em cenas absurdamente violentas. O que está acontecendo com a nossa sociedade?
Coringa é um filme que prometia bastante, mas que no final não entrega nada demais. Com uma direção e roteiro cheios de problemas e uma atuação de Phoenix que é competente, mas que fica atrás de outros trabalhos do ator, chega quase a ser decepcionante. Pode ser muita exigência de minha parte, pode ser que o público se impressione com qualquer coisa que fuja o mínimo do padrão de filmes que adaptam quadrinhos, mas este filme não tem nada demais.
Lucas Araújo
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