O Gavião Arqueiro não é um personagem muito popular, convenhamos. Embora seja membro dos Vingadores e tenha aparecido em diversos filmes, Clint Barton quase nunca obteve muita simpatia dos leitores. Digo quase pois em 2012, Matt Fraction, David Aja e Matt Hollingsworth iniciaram a produção de uma das séries mais divertidas da história da Marvel, protagonizada por Barton e por Kate Bishop, a Gaviã Arqueira, e que se você ainda não leu, não deveria perder a oportunidade.
Fraction foca a série em responder uma questão simples, porém intrigante: o que o Gavião Arqueiro faz quando não está com os Vingadores? Em tramas por vezes bem-humoradas que lembram muito um sitcom, o autor explora o relacionamento de mestre e pupilo entre Clint e Kate, além do relacionamento de ambos com o simpático cachorro Sortudo, ao mesmo tempo em que constrói uma trama maior que envolve a máfia russa, a Shield, os Vingadores, as mulheres da vida de Clint e seu irmão, Barney.
A alternância de um clima descontraído com momentos mais sérios traz um ritmo muito bom para as histórias, demonstrando todo o talento de Fraction em construir relacionamentos humanos e trazer a simpatia dos leitores para com os personagens. Isso fica explícito nos diálogos bem construídos, nos quais os personagens realmente parecem pessoas falando, trazendo ainda mais fluidez para as tramas. Também é visível a capacidade do roteirista em trabalhar com a linha temporal das histórias, indo e voltando sem confundir o leitor e trazendo um dinamismo peculiar para essas histórias.
David Aja é um dos mais talentosos artistas que os quadrinhos já tiveram. O artista espanhol nunca se repente, sempre pensando em uma forma nova de narrativa para as histórias que está contando, com diagramações de página extremamente inventivas e com as capas que acertam em cheio em transmitir o clima da série. Aja deveria ser estudado por qualquer um que queira entender quais são os próximos passos dos quadrinhos mainstream norte-americanos.
O único ponto negativo do trabalho de Aja é que, muito devido a sua inventividade, não consegue manter os prazos exigidos pra esse tipo de quadrinho, o que acabou atrasando o fim da série inclusive (embora tenha 23 edições, a série durou de 2012 a 2015). Felizmente, Fraction teve a companhia de artistas competentes como Javier Pulido, Steve Lieber, Jesse Hamm, Annie Wu, Francesco Francavilla, Chris Eliopoulos, Jordie Bellaire, que mantêm a qualidade do quadrinho, embora sem a mesma criatividade.
Também é necessário dar destaque às cores de Matt Hollingsworth, que ajudam a dar a estética da série. Ele utiliza uma paleta mais simples de cores, que traz um estilo retrô para as páginas, mas que também traz um frescor. Em um dos encadernados há um extra no qual ele comenta sobre as cores do quadrinho e é muito interessante entender como funciona o processo de um colorista nos quadrinhos norte-americanos.
A série foi sucesso de publico e de critica, tendo recebido o prêmio Eisner e Harvey de melhor edição por seu número 11 (protagonizada por Sortudo, o carismático cachorro de Clint Barton), e os prêmios de melhor capista (por dois anos seguidos) e melhor artista para David Aja no Eisner. Não à toa, esses quadrinhos serão a principal inspiração para a vindoura série do Gavião Arqueiro que será lançada no Disney Plus no dia 24 de Novembro deste ano.
A Panini publicou a série em quatro volumes de capa dura (Minha Vida Como Uma Arma, Pequenos Acertos, Vingadora da Costa Oeste e Rio Bravo), que estão sendo republicados, o que torna mais fácil a leitura.
O Gavião Arqueiro de Matt Fraction, David Aja e Matt Hollingsworth é um dos melhores quadrinhos já produzidos pela Marvel, um marco da última década no que tange a estilo narrativo e criatividade. Leitura indispensável, um verdadeiro clássico moderno. Não perca tempo e leia.
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Ficha técnica
Editora: Panini
Tradução: Fernando Lopes, Paulo França e Roberto Barros
Ano de lançamento: 206 a 2018 (em formato encadernado no Brasil)
Páginas: entre 124 e 164 por volume
Preço: R$26,90 a R$46,00 por volume
Lucas Araújo
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