Fazer o simples é difícil. Essa é uma frase que virou um pouco de clichê quando falamos de obras de entretenimento, que tentam apelar para uma grande complexidade para ter alguma substância, mas falham miseravelmente, embora não deixe de ser verdadeira. No meio dos anos 80, o roteirista John Ostrander, ao lado do desenhista Luke McDonnell e do colorista Carl Gafford, decidiu resgatar um antigo conceito da DC que consistia em uma equipe composta por criminosos que fariam missões secretas para o governo dos EUA em troca de diminuição de sua pena sob o codinome de Força-Tarefa X, mais conhecido como Esquadrão Suicida, e acabou criando uma das séries mais legais envolvendo os personagens da editora.
Reunidos por Amanda Waller e liderados nas missões por Rick Flagg, os membros do Esquadrão Suicida envolvem vilões como Pistoleiro, Capitão Bumerangue, Magia e Pinguim, que estão diante de uma escolha simples: participar de missões secretas para o governo dos EUA e assim ter uma redução de sua pena ou apodrecer na cadeia. Simples, não?
E por falar em simplicidade, quero retomar o que disse no começo do texto. John Ostrander não tenta reinventar a roda e aposta numa história simples de super vilões com bom ritmo que entretém o leitor e o faz seguir edição a edição para ver o que vai acontecer com os personagens, já que eles são de tão baixo escalão e dispensáveis que tudo pode acontecer com eles. Parece algo fácil de se fazer, mas aparentemente está cada vez mais difícil para escritores produzirem séries mensais de boa qualidade como essa, seja pelo modelo de publicação das grandes editoras, que podam boa parte da criatividade dos autores pela necessidade de tudo estar interligado por grandes eventos, seja pela falta de interesse deles em produzir algo relevante para uma grande empresa que irá deter grande parte do lucro da obra, visto que se pode fazer algo autoral em editoras como a Image, Boom e Darkhorse.
Ostrander também é competente em adicionar contornos políticos às histórias do Esquadrão Suicida. O próprio conceito do grupo é uma forma de se discutir o tratamento da população carcerária, mas não só isso, o autor aproveita para fazer críticas, às vezes sutis, ao governo dos EUA, principalmente à gestão Reagan, visto a época em que o quadrinho foi publicado. Entretanto, algumas vezes o autor comete alguns deslizes como apresentar um anticomunismo barato e caricatural quando o Esquadrão tem que operar na URSS, embora seja compreensível que um autor estadunidense tivesse esse tipo de pensamento, ainda mais nos anos 80, basta observar o que era feito na época ( o maior exemplo disso talvez seja Rocky IV).
Com relação a arte, Luke McDonnell é um desenhista comum, sem muito brilho tanto em questão de narrativa quanto de traço. Ele é competente em transmitir o que Ostrander quer passar, mas segue os moldes do quadrinho mainstream padrão, sem arriscar muito. Sendo justo, é visível que seu trabalho melhora ao longo das edições conforme ele vai se acostumando com os personagens e o ritmo das histórias e ele até tenta adicionar novas camadas ao seu trabalho. Com relação às cores de Carl Gafford, também não há nada de muito destaque, apenas um trabalho correto que seguia o padrão da época.
A editora Panini publicou as oito primeiras edições, além de um especial com a origem da equipe, em um encadernado com o subtítulo de Provação Por Fogo em capa dura e papel couché. Falando de extras, a publicação traz um histórico da equipe feito pelo tradutor Mario Luiz C. Barroso, que foi editor da revista do Esquadrão na época da Abril e que já traduziu várias histórias deles, e há também uma biografia dos artistas envolvidos.
Não é a toa que essas histórias foram a base para o ótimo filme de James Gunn lançado em 2021, O Esquadrão Suicida escrito por John Ostrander é uma série que reúne tudo que um bom quadrinho mensal deve ter para prender o leitor ao longo das histórias, uma ótima série repleta de ação, intrigas e discussões relevantes. Espero que a Panini dê sequência à publicação e que os leitores brasileiros prestigiem. Se você está atrás de um quadrinho que faz o simples muito bem, não pode deixar passar.
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Ficha técnica
Editora: Panini
Tradução: Mario Luiz C. Barroso
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 232
Preço: R$84,90
Lucas Araújo
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