A Canção de Roland – A vida e seus pequenos momentos!

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Há diversas obras que abordam a perda de um ente querido, sejam quadrinhos, músicas ou filmes. Essa é uma das grandes tristezas da vida, já que nos fazem encarar nossa finitude e refletir sobre isso. É preciso sensibilidade para abordar o tema, sendo inegável que Michel Rabagliati foi preciso nisso em A Canção de Roland, seu primeiro trabalho publicado no Brasil trazido pela editora Comix Zone.

Neste quadrinho acompanhamos a história de Paul no momento em que seus sogros Roland e Lisette decidem se mudar para Quebec para aproveitarem a aposentadoria. Porém, pouco tempo depois Roland descobre estar doente e isso irá impactar todas as pessoas ao seu redor, mostrando a importância dos laços familiares e a aflição pela proximidade da morte.

Você com certeza deve conhecer autores canadenses como Jeff Lemire e Darwyn Cooke, que por mais que tenham suas particularidades, são bem próximos do que é feito nos quadrinhos publicados nos EUA (aliás, estes dois autores ficaram famosos por publicações nesse território). Michel Rabaliatti, por outro lado, se aproxima muito mais da produção europeia de quadrinhos, tendo como principal influência o trabalho de Hergé em seu personagem Tintim. Isso fica evidente tanto em seu traço, quanto em sua narrativa

O autor sabe muito bem como conduzir a história, em nenhum momento ela fica sombria ou pesada. Ele consegue muito bem alternar entre momentos bem-humorados, sérios, reflexivos e emocionantes, mantendo o leitor preso à trama por sua dinâmica e também por abordar temas como política e as expectativas que rondavam a sociedade na virada do milênio. É interessante como a obra tem um tema central, mas consegue ter bastante pluralidade para abordar diversas outras questões.

O grande atrativo do quadrinho é com certeza a forma como Rabagliatti consegue trazer diversas situações do cotidiano que trazem identificação imediata ao leitor. Seja na cena em que Paul tenta enviar um email e tem que lidar com problemas tecnológicos, seja quando a família tem que acompanhar o tratamento de Roland no hospital, o autor é bastante preciso em retratar a situação e sensível o suficiente nos diálogos para que qualquer um que já tenha passado por algo do tipo se sinta dentro do quadrinho na posição dos personagens. Confesso que, embora muito bem feito, eu já havia visto esse tipo de trabalho em diversas outras obras até melhor executado, como no excepcional Rugas de Paco Roca, mas na sequência final o quadrinho me ganhou com uma das coisas mais bonitas que eu já vi sendo feita em uma narrativa.

Este é o primeiro lançamento da editora Comix Zone, fundada pelo escritor Ferréz e pelo youtuber Thiago Ferreira, e é sempre muito legal que surjam novas editoras em nosso mercado, trazendo quadrinhos com temáticas diferentes e diversificando as possibilidades de leitura do público. Com um bom acabamento em capa dura, papel de boa qualidade e um preço competitivo, a editora fez uma boa estreia no mercado. Porém, há alguns deslizes editoriais como alguns erros de revisão e a falta de notas editorias, embora hajam algumas, que trouxessem algumas explicações sobre as regionalidades do local em que se passa obra, neste caso, a província de Quebec no Canadá. Em alguns momentos fiquei um pouco perdido porque os personagens mencionam figuras políticas e acontecimentos que não são muito bem explicados, mas nada que impacte o ritmo da leitura. De todo modo fica aqui os apontamentos para que a editora se atente em próximos lançamentos.

A Canção de Roland é uma publicação muito bem-vinda ao mercado, trazendo um autor muito talentoso que era um completo desconhecido ao público brasileiro. O personagem Paul possui outros quadrinhos lançados e eu espero que eles sejam publicados, assim como gostaria de ver cada vez mais apostas em autores inéditos por aqui. O mercado brasileiro de quadrinhos agradece.

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Ficha Técnica

Editora : Comix Zone
Ano de lançamento: 2019
Páginas: 192
Preço: R$79,90
Onde encontrar: Livrarias e lojas especializadas

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.