Chris Claremont é um autor que ficou bastante marcado por sua longa e excelente fase escrevendo os X-Men, principalmente ao lado de John Byrne, na qual explorou e criou diversos personagens, tramas e mitologias para os mutantes. Mas seu trabalho não pode ser reduzido de forma alguma apenas ao que foi feito com super-heróis, pois o autor explorou outros gêneros (como Espada e Feitiçaria) em trabalhos com o ótimo Marada – a Mulher Lobo, o qual já comentei aqui no site, e o épico Dragão Negro, ambos em parceria com o desenhista britânico John Bolton e lançados por aqui pela editora Pipoca e Nanquim.
A história de Dragão Negro se passa no ano de 1193 e nela acompanhamos a saga de James Dunreith, um nobre que foi exilado por Henrique II e destituído de suas posses. Após a morte do rei, Dunreith retorna à Inglaterra, mas sua fama como feiticeiro traz grandes confrontos devido ao avanço da fé cristã no reino. Ele é convocado pela rainha Eleanor para investigar seu grande amigo de infância, Edmund DeValere, pois ele é suspeito de estar tramando uma grande traição que não se restringe à simples ganância, envolvendo um grande mal que pode levar perigo à todo reino. Caso as suspeitas sejam comprovadas, Dunreith será encarregado de exterminar o mal pela raiz, ao mesmo tempo em que tem que conviver com sonhos cada vez mais frequentes de um grande Dragão Negro, uma criatura mística que pode revelar muito sobre seu passado e as origens de sua feitiçaria.
O quadrinho foi originalmente publicado pelo selo Epic, iniciativa editorial dos anos 80 no qual os grandes autores da Marvel tinham liberdade para contar suas histórias e mantinham os direitos sobre elas. Dreadstar, Legião Alien, Groo e o já citado Marada são outros grandes exemplos dessa iniciativa, bastante pioneira se pararmos pra pensar que a Vertigo, iniciativa editorial bastante semelhante mas bem mais famosa, surgiu mais de uma década depois.
O roteiro de Chris Claremont é hábil em misturar histórias reais com lendas, utilizando personagens como Robin Hood e sua trupe para encorpar a trama. Seu texto é bastante poético, ainda que em alguns momentos, muito pelo padrão de escrita da época, ele se torne enfadonho de certa forma, travando um pouco o andamento da história e diminuindo parte de sua escala épica. Porém, com o devido distanciamento histórico, Claremont demonstra todas suas capacidades como escritor, com um bom desenvolvimento de personagens e construindo um final que foge do comum, surpreende o leitor e o satisfaz ao final da leitura.
É claro que a arte de John Bolton é um dos grandes atrativos deste trabalho. O desenhista tem um traço belíssimo, ótimo controle sobre a narrativa e sobre o uso do contraste entre o preto e o branco, criando cenas belíssimas com personagens muito bem construídos anatomicamente e com expressões faciais muito bem delineadas. Fica clara a influência do trabalho de Hal Foster, autor do clássico Príncipe Valente, sobre Bolton aqui, utilizando planos mais fechados do que o comum em obras do gênero Fantasia, principalmente quando falamos de quadrinhos europeus. É um dos grandes charmes da obra com certeza.
A editora Pipoca e Nanquim mantêm o excelente trabalho editorial nesta publicação. Além do belíssimo acabamento em capa dura, papel offset de alta gramatura e as bordas pretas das páginas, ainda há extras como belos rascunhos de John Bolton, que detalham um pouco mais sobre seu processo criativo, um elucidativo glossário, que ajuda o leitor a identificar as figuras históricas presentes na trama, e biografias bastante completas dos autores.
Se você gosta de boas histórias de fantasia, Dragão Negro com certeza merece sua atenção. Seja pela reunião de dois grandes nomes dos quadrinhos, seja pela exploração muito bem-feita da história da Inglaterra e a mistura de elementos fantásticos, a obra se torna bastante atrativa por mostrar um aspecto diferente do trabalho de seus criadores.
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Ficha Técnica
Editora : Pipoca e Nanquim
Ano de lançamento: 2018
Páginas: 204
Preço: R$64,90
Onde encontrar: Livrarias e lojas especializadas
Lucas Araújo
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