Particularmente, acho interessante quando um artista procura em um trabalho explorar e debater qual o papel da arte, independente da mídia, pois quase sempre é possível obter grandes reflexões sobre o assunto e engrandecer nossa compreensão sobre as obras. Isso é ainda mais intenso quando o artista é um grande expoente de sua área, o que acontece em Museu, quadrinho publicado por aqui pela editora Pipoca e Nanquim e escrito e desenhado por Christophe Chabouté, um dos mais excepcionais quadrinistas da atualidade.
Nessa obra, Chabouté nos apresenta o Museu d’Orsay, em Paris, não sob a perspectiva de um visitante, mas das obras lá expostas. Pode parecer meio estranho no início, mas ao longo da trama o autor vai mostrando as esculturas e pinturas saindo de suas poses quando o museu fecha, compartilhando suas observações diárias e se questionando sobre o comportamento que os visitantes tiveram ao longo do dia.
Chabouté é um autor muito sensível e é essa sensibilidade que se torna um dos grandes pontos de atenção da obra, já que ele utiliza essa sua característica para observar e refletir sobre o que nos torna humanos. Ele subverte a perspectiva entre observado e observador que há com relação à obras de arte e mostra diversos aspectos do comportamento humano no dia a dia e como a arte pode influenciá-lo, funcionando como uma espécie de troca, ao mesmo tempo que também apresenta um interessante contraste entre a finitude da vida e a longevidade das obras de arte.Há também um fator interessante sobre como o comportamento humano também pode despertar curiosidade e ser uma arte por si próprio, algo que ele já havia abordado em outro grande trabalho, no caso, Um Pedaço de Madeira e Aço.
Com relação à arte, novamente o autor demonstra todo seu talento ao exibir um traço elegante, refinado, narrativa contemplativa que prende o leitor a cada virada de página. Aliás, a narrativa é um dos grandes destaques de seu trabalho, é impressionante como ele sabe explorar os silêncios, algo que já foi visto em outras obras suas publicadas por aqui, falando muito ao mesmo tempo em que não está dizendo nada.Não há outro adjetivo para definir isso que não seja brilhante.
A publicação da Pipoca e Nanquim possui capa dura, papel offset, sem extras com exceção de uma breve biografia do autor. Sempre que posso elogio a iniciativa da editora de ter apresentado o autor ao público brasileiro e continuar publicando-o ao longo dos últimos anos. Uma grande adição ao mercado brasileiro de quadrinhos, sem dúvidas.
Museu é aquele tipo de obra que traz novas perspectivas para nossa vida, é muito possível que na sua próxima visita a um museu depois de lê-la você veja as coisas de modo diferente. A arte funcionando como reflexão, como os grandes artistas conseguem proporcionar. Se você não conhece o trabalho de Christophe Chabouté, está perdendo tempo.
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Ficha técnica
Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Fernando Paz
Ano de lançamento: 2023
Páginas: 196
Preço: R$109,90
Lucas Araújo
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