Imaginar como os heróis se comportariam no mundo real não é um tema novo nas histórias em quadrinhos. Desde que Alan Moore sugeriu essa temática no início dos anos 80 com Miracleman e um pouco depois com Watchmen, tivemos diversos autores que exploraram essa perspectiva desse tipo de personagem, como Authority de Warren Ellis e Os Supremos de Mark Millar, passando pelos pouco inspirados quadrinhos (sendo bastante generoso) dos primórdios da Image como Youngblood de Rob Liefield. Um outro exemplo, de bastante qualidade, desse tipo de história é a série Poder Supremo, escrita por J. Michael Straczynski e desenhada por Gary Frank.
Para entender como a série surgiu, é importante entender um pouco do contexto da época em que ela foi publicada. Como mencionei quando comentei sobre o primeiro volume do Justiceiro Max de Garth Ennis, no início dos anos 2000 a Marvel apostou na criação do selo Max em que seriam publicadas séries visando o público adulto, como Alias, Justiceiro e o próprio Poder Supremo. Com essa orientação editorial, Straczynski decidiu reimaginar a antiga equipe da editora, o Esquadrão Supremo, que não passava de um mero pastiche da Liga da Justiça, num mundo realista em que não havia heróis e explorando como o surgimento desses seres influenciaria o nosso mundo.
A história gira em torno de Hyperion (equivalente ao Superman) que cai na terra e é encontrado por um casal de fazendeiros, mas rapidamente é rastreado e capturado pelo governo dos EUA, que cria uma família e uma casa para que ele cresça, isolado de tudo. Aos poucos Hypérion vai descobrindo a verdade de sua origem e começa a questionar as intenções do governo, se libertando das amarras e se tornando um herói independente. Ele acaba encontrando Princesa do Poder (Mulher Maravilha), Falcão Noturno (Batman), Doutor Espectro (Lanterna Verde), Tufão (Flash) e Anfíbio (Aquaman), se aliando a eles para atingir seus objetivos.
Straczynski coloca bastante política em seu roteiro, debatendo qual seria o papel do super-herói no mundo e como suas ações poderiam parar ou iniciar conflitos entre as nações. Ele também explora a perspectiva dos heróis com relação ao mundo e como criaturas tão poderosas lidam com a responsabilidade desses poderes e como facilmente podem ser levados pela tentação de dominar o mundo e subjugar a todos.
Além de um roteiro bem escrito que explora todas essas questões, Poder Supremo tem uma arte espetacular de Gary Frank. O artista já havia trabalhado com Straczynski no interessante Midnight Nation, mas aqui apresenta um trabalho ainda mais apurado, provando que é um dos melhores artistas do gênero em atividade.
O maior problema da publicação é que ela não tem final. Antes que você pergunte, isso não é um problema da Panini, mas da própria Marvel, já que a série não foi concluída lá fora, embora tenha tido alguns spin offs que aprofundem alguns personagens.
Por falar e Panini, a edição possui capa dura e papel couchê, com um trabalho editorial competente (não encontrei erros relevantes de revisão). Como extras temos alguns rascunhos dos personagens e ideias de capas, que embora não contem muito sobre os bastidores da série, trazem certa elucidação sobre o processo de criação do visual de cada personagem.
Embora não apresente nada realmente novo, Poder Supremo é uma ótima série sobre os impactos dos super-heróis em um mundo realista. Com um roteiro bem estruturado e belíssima arte, merece a atenção de leitores que busquem algum um pouco fora do padrão do gênero.
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Ficha técnica
Editora : Panini
Ano de lançamento: 2018
Páginas: 440
Preço: R$ 112,00
Lucas Araújo
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