Nova York é uma cidade icônica, que já foi retratada nas mais diversas mídias. Seja nos filmes de Martin Scorsese e Woody Allen, seja em séries de tv como Friends e Sex and The City, seja nas músicas de Frank Sinatra, Ramones e outros artistas, a cidade norte-americana já foi cenário de diversas histórias. Uma cidade como essa possui os mais diversos personagens, também icônicos, sendo uma das figuras mais reconhecidas os taxistas da cidade, que já vimos em obras como Taxi Driver e Deuses Americanos. E é essa figura que Cristophe Chabouté retratou em Yellow Cab, quadrinho escrito e desenhado por ele baseado no livro autobiográfico de mesmo nome escrito pelo francês Benoît Cohen.
Em Yellow Cab, acompanhamos Cohen que, após anos dirigindo filmes e séries de tv, percebe que precisa se renovar como artista para obter inspiração para novas obras. Em 2014, ele resolve se mudar para Nova York e se tornar taxista, a fim de buscar referências para um novo roteiro cinematográfico. Entretanto, logo ele percebe que essa não é uma tarefa fácil e se vê preso em uma espiral burocrática, mas durante esse processo ele conhecerá outros aspirantes a taxistas, imigrantes de vários lugares do mundo em busca do sonho americano, e irá se deparar com os mais diversos personagens como passageiros de seu táxi. Pelas ruas da Grande maçã, Cohen irá se questionar sobre seus objetivos de vida e sobre sua afeição à sua nova ocupação.
Chabouté é um dos grandes narradores dos quadrinhos em atividade, como já se pode observar em obras como Moby Dick, Um Pedaço de Madeira e Aço, Solitário e Henri Désiré Landru. Em Yellow Cab, o autor constrói uma trama que prende o leitor já nas primeiras páginas, conduzindo-o por um passeio em Nova York e pelos questionamentos que o protagonista apresenta. Em alguns momentos, o leitor irá compartilhar esses questionamentos, visto que eles são muito contundentes para qualquer um que já pensou em sua carreira profissional e os rumos que ela seguiu.
E esse passeio se torna deslumbrante graças ao talento de Chabouté também como desenhista. Ele trabalha momentos silenciosos como poucos, que trazem contemplação mesmo quando as cenas retratam o mais simples cotidiano e conduz a câmera de maneira cinematográfica quando Cohen está em seu táxi e podemos observar as ruas de Nova York representadas em seu estilo baseado no alto contraste. Cada novo passageiro possui expressões e vestuários próprios que representam os mais variados ambientes da cidade e tudo é muito bem representado pelo traço do artista.
A editora Pipoca e Nanquim foi a responsável por popularizar o trabalho de Chabouté no Brasil, o que sempre merece ser lembrado e elogiado, e mais uma vez apresenta um trabalho editorial e gráfico competente. A publicação possui capa dura e papel offset de alta gramatura. Não há extras, mas há biografias tanto de Chabouté quanto de Cohen, algo que sempre pontuo ser importante em qualquer tipo de publicação.
Yellow Cab é um dos melhores trabalhos de Chabouté lançados por aqui e uma demonstração de que o autor continua em alto nível, visto que esse álbum foi originalmente publicado este ano na França, ou seja, é o mais recente trabalho dele. Depois de um lançamento um pouco irregular com Henri Désiré Landru, o francês voltará a figurar em diversas listas de melhores do ano. Se você ainda não conhece o trabalho desse grande gênio, não perca e tempo e leia, essa é uma bela oportunidade de também ficar encantado com esse autor.
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Ficha técnica
Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Rafael Meire
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 172
Preço: R$74,90
Lucas Araújo
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