O Homem-Aranha de Michelinie e McFarlane – Uma das melhores fases do personagem!

O Homem-Aranha é um dos personagens favoritos dos leitores de quadrinhos de super-heróis, é inegável a grande popularidade que o personagem obteve ao longo dos anos, tendo atingido diversas outras mídias como animações e filmes. Criado em 1961 por Stan Lee e Steve Ditko, o personagem foi escrito por diversos autores, passando por fases excelentes, mas também por algumas coisas não tão legais assim (sendo bastante generoso) ao longo desses mais de cinquenta anos de publicação. Uma das fases de maior destaque do personagem foi concebida no final dos anos 80, escrita pelo renomado roteirista David Michelinie e ilustrada em sua maioria por Todd McFarlane, artista ainda em início de carreira que trouxe certa inovação para o visual do aracnídeo e que posteriormente se tornou um dos fundadores da Image.

Michelinie chegou um pouco antes em The Amazing Spider-Man, a principal revista do herói aracnídeo, tendo sido o responsável por escrever a edição especial na qual Peter Parker se casa com Mary Jane e iniciam a vida morando juntos. Embora já fossem boas histórias, a chegada de Todd McFarlane traz uma nova roupagem para as histórias, pois aos poucos o artistas começou cada vez mais apostar em uma abordagem artística mais arrojada, com ângulos de câmeras inventivos, as famosas teias espaguete, o pouco apreço pela anatomia (um dos pontos centrais que seus críticos ressalta) e a energia que cada virada de página traz ao leitor.

O roteirista sabe muito bem como trabalhar o relacionamento entre Peter e Mary Jane, os percalços dos primeiros meses de casamento são muito bem entrelaçados aos desafios que Peter enfrenta enquanto herói, sendo que em diversos momentos os problemas dele em sua vida pessoal são resolvidas por sua face heróica e vice-versa. Além disso, Michelinie utiliza de forma bem trabalhada o elenco de apoio com personagens como Flash Thompson, Tia May e Harry Osborn, e a galeria de vilões do Homem-Aranha fazendo com que quase todos eles apareçam ao longo das histórias, como o Dr. Octopus, Lagarto, Duende Verde, Electro e a criação de um dos vilões mais icônicos do personagem, para o bem ou para o mal, Venom. O autor é muito bom em escrever histórias que funcionam bem isoladas, mas que também apresentam uma continuidade e vão evoluindo os personagens no decorrer das tramas.

Sobre o trabalho de McFarlane, você pode não gostar por achar muito “anos 90” ou exagerada, mas, como mencionei anteriormente, é notável a presença da energia em cada página do quadrinho e a revitalização em questão de designs e diagramação que o artista trouxe para o Homem-Aranha, apresentando o personagem para um novo público e atingindo altos níveis de popularidade e vendas. Posteriormente, McFarlane assumiu também os roteiros em histórias do personagem, como pode ser visto em Tormento, mas aí fica evidente sua incapacidade como escritor (como o próprio admitiu em entrevistas).

Claro que, muito devido ao modelo de publicação dos quadrinhos de super-heróis, essa fase tem alguns pontos baixos. Vez ou outra, Michelinie tem que lidar com a necessidade de crossovers e mega sagas que atrapalham o ritmo das histórias e que muitas vezes ficam sem sentido, visto que a continuação e o que antecede essas histórias foram publicadas em revistas de outros personagens. Outra questão é que ao longo da publicação da série, ela foi quinzenal em alguns momentos, o que impossibilitava que McFarlane desenhasse todas as edições. Isso fez com que artistas variados atuassem em algumas edições e, embora alguns fossem talentosos, como Erik Larsen, haviam muitos que eram esquecíveis e tiravam o brilho do aspecto visual que o quadrinho tinha quando a equipe criativa titular estava presente nas histórias.

A série foi publicada na íntegra por aqui pela Panini no formato omnibus, que tem se tornado cada vez mais frequente no mercado brasileiro, com capa dura,sobrecapa, papel couché e alguns extras como capas e um ótimo texto de Michelinie no qual ele fala sobre sua relação com o Amigão da Vizinhança. Particularmente, não é um dos meus formatos favoritos devido ao preço e por não ser muito fácil de ler devido ao grande volume de páginas, mas o principal ponto positivo desse formato é a oportunidade de poder adquirir uma fase completa toda de uma vez. 

Se você é fã do personagem e quer acompanhar boas histórias dele, a fase de David Michelinie e Todd McFarlane é uma das melhores que o Homem-Aranha teve ao longo de sua trajetória. Um bom gibi de super-herói publicado de forma regular, algo cada vez mais raro de ser encontrado devido ao modelo de publicação do mercado norte-americano, que poda a criatividade dos artistas. Leia e divirta-se.

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Ficha técnica

Editora: Panini
Tradução: Marcelo Araujo, Douglas Bettioli, Paulo Cecconi, Mario C. Barroso, PM Agria, Ségio Miranda, Henrique Miranda
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 856
Preço: R$299,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.