A Adoção – O amor entre pai e filho em suas mais diversas formas!

A cada obra que leio roteirizada por Zidrou, percebo que o quadrinista belga é um verdadeiro especialista em escrever tramas extremamente humanas que ao explorarem o cotidiano, apresentam um estudo sobre nossas vidas, anseios e situações que podem mudar nossa perspectiva sobre diversas questões. A Adoção, obra que ele fez ao lado do artista francês Arno Monin publicada por aqui pela editora Nemo, é mais um quadrinho que possui essas características e exemplifica seu talento como autor.

Nesta obra, acompanhamos a história de uma família francesa que adota uma garotinha peruana chamada Qinaya, após um grande desastre ocorrido na terra natal da criança. Gabriel, um açougueiro aposentado, tem dificuldades com a nova situação já que deve aprender a ser avô de Qinaya sem nunca ter tido tempo para aprender a ser pai. Conforme o tempo passa, os dois desenvolvem uma bela relação repleta de amor e aprendizado e criam laços que mudam a perspectiva de Gabriel. Entretanto, uma reviravolta faz com que ele precise de respostas e, em meio a uma viagem para um lugar desconhecido, aprenda que boa parte delas estavam mais perto dele do que imaginava.

Zidrou constrói uma história que fala sobre paternidade de forma muito sensível, mostrando todos os desafios presentes em uma relação pai e filho e utilizando de forma hábil o clichê de homem velho turrão que acaba se sensibilizando por causa de uma criança. Aliás, o autor se utiliza desse clichê, mas consegue surpreender o leitor algumas vezes durante a trama, apresentando um total controle da narrativa e sabendo os momentos certos de ressignificar algumas certezas que Gabriel possui. É interessante notar que, ao final da leitura, até mesmo o título da obra possui um novo significado e é impossível que você não se emocione, algo característico dos trabalhos do autor como os ótimos Verões Felizes, que trata sobre relacionamento familiar, e A Obsolescência Programada de Nossos Sentimentos, que trata sobre envelhecimento.

Em seus trabalhos, o roteirista costuma estar acompanhado de grandes artistas, como é o caso de Arno Monin. Seu traço tem personalidade, ele se preocupa com que cada personagem tenha identidade própria com muito carisma e com que o leitor se apegue a eles. Monin também se atenta em apresentar belos cenários, conduzindo o leitor em uma viagem pela vida cotidiana na França e também pelas surpresas que Gabriel tem ao longo da história, e narrativamente mantém a cadência presente no roteiro, sem se arriscar em ângulos de câmera mais arrojadas e mantendo uma disposição de quadros bastante tradicional. É necessário também destacar o trabalho de cores feito pelo artista, que usa tons alegres e introspectivos de acordo com o clima da cena retratada na página.

A edição da Nemo tem capa cartonada, papel offset de boa gramatura e formato ‎ 20.5 x 1 x 27.5 cm, sem extras. O trabalho editorial é competente, com um bom trabalho de revisão, sem erros perceptíveis ao longo da leitura. Algo a se destacar no trabalho da editora é sua curadoria, o catálogo montado por ela nos últimos anos é um dos melhores do mercado, com forte presença de autores europeus e alguns multi premiados (como Pele de Homem, que já comentei por aqui).

A Adoção é um quadrinho que emociona e ensina, uma obra que fala do amor entre pai e filho e de todos os problemas que uma relação como essa pode ter. Uma boa oportunidade para se conhecer o trabalho de Zidrou, caso você ainda não esteja familiarizado com o nome dele, e um dos melhores lançamentos deste ano.

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Ficha técnica

Editora: Nemo
Tradução: Renata Silveira
Ano de lançamento: 2022
Páginas: 136
Preço: R$74,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.