A Obsolescência Programada dos Nossos Sentimentos – Não há idade certa para novas experiências!

Envelhecer é um processo natural da vida, entretanto nossa sociedade acaba estabelecendo regras não escritas que definem pessoas a partir de uma certa faixa etária como inválidas, que não podem passar por novas experiências e estabelecer novos relacionamentos. Foi em cima desse tipo de pensamento que o roteirista belga Zidrou, ao lado da artista holandesa Aimée de Jongh e com cores da artista junto de Michael Doig e Márcia Patrício, refletiu para criar A Obsolescência Programada dos Nossos Sentimentos, quadrinho lançado recentemente pela editora Pipoca e Nanquim.

Na obra acompanhamos a história de duas pessoas em períodos parecidos da vida. Ulisses, aos 59 anos, passa por um choque quando a empresa na qual trabalha decide antecipar sua aposentadoria. Viúvo e sem muitos planos sobre o que fazer, ele acaba sendo engolido pela solidão. Mediterrânea, após a morte de sua mãe, sente que o tempo está passando mais depressa que o normal, com os efeitos dele cada vez mais intensos em seu corpo e com a percepção das pessoas ao redor de que ela é uma mulher velha, o que a envolve em uma grande melancolia. Quando o mundo desses dois personagens se encontram, eles irão experimentar novas sensações e sentimentos com os quais perceberão que ainda têm muito a viver.

Zidrou é um dos mais brilhantes quadrinistas da atualidade, conforme já havia atestado ao ler o ótimo Verões Felizes. Em A Obsolescência Programada dos Nossos Sentimentos o autor belga busca demonstrar com sensibilidade ímpar os efeitos do envelhecimento e como não há idade certa para viver novas experiências. Há certos pontos lúdicos na trama, mas Zidrou sabe como intercalá-los com momentos muito realistas, muito provavelmente colocando parte de si próprio na história, visto que ele tem uma idade parecida com a dos protagonistas. Um outro ponto de destaque são as sutilezas ao longo na trama, repare nos diálogos e em como com certas ações os personagens dizem muito sobre si e sobre como estão se sentindo mesmo que nem uma palavra seja dita. um trabalho muito refinado sem dúvidas.

O trabalho artístico de Aimée de Jongh também chama a atenção tanto pelos ângulos utilizados, que buscam não deixar a história monótona e trazer certa dinâmica para a narrativa, como pelo traço em si, na composição dos cenários e nas expressões dos personagens. A artista sabe como acompanhar as sutilezas e a sensibilidade de Zidrou com perfeição, adicionando camadas à obra. O trabalho de cores de Jongh ao lado de Michael Doig e Márcia Patrício traz ainda mais beleza para a arte, principalmente pelo ótimo trabalho de iluminação nas cenas.

A edição da Pipoca e Nanquim segue o padrão de qualidade da editora, em capa dura, formato livro e papel couché de boa gramatura, sem extras, com exceção dos agradecimentos dos autores e uma biografia dos mesmos que ajuda o leitor que queira conhecer mais sobre suas carreiras. Na questão de revisão e tradução o trabalho também é competente, não encontrei erros ao longo da leitura. 

A Obsolescência Programada dos Nossos Sentimentos é um belo quadrinho sobre o envelhecimento e o amor, uma obra que demonstra o talento de dois grandes autores e que com certeza estará em várias listas de melhores quadrinhos do ano. Leitura mais do que indicada para aqueles que querem apreciar uma boa história e observar a vida sob uma perspectiva diferente.

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Ficha técnica

Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Fernando Paz
Ano de lançamento: 2022
Páginas: 148
Preço: R$59,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.