Prisioneiro dos Sonhos Vol. 1: A Origem – Explorando o limite dos quadrinhos!

Desde a publicação de Deus em Pessoa, fiquei atento ao nome de Marc-Antoine Mathieu, quadrinista francês que estreou no mercado brasileiro com essa obra que discutia de forma irreverente a presença de uma figura divina em nossa sociedade. Nessa obra já ficava evidente o talento do autor na construção da narrativa e nas técnicas utilizadas, o que é extrapolado em Prisioneiro dos Sonhos Vol. 1: A Origem, quadrinho recém lançado pela editora Comix Zone e coloca o nome de Mathieu em evidência para os leitores brasileiros.

A obra possui uma sinopse no mínimo interessante. Nela acompanhamos a história de Julius Corentin Acquefacque, um funcionário do Ministério do Humor que leva uma vida tranquila no poço do elevador que abriga várias pessoas em uma era de superpopulação. Tudo ia bem na vida de Acquefacque na medida do possível, até que certo dia ele recebe um misterioso envelope e, ao abri-lo, ele descobre que seu futuro está impresso em uma página de quadrinhos, o que o leva em uma jornada em busca de respostas para esse estranho acontecimento.

É impressionante a capacidade de Mathieu em apresentar, numa história de 43 páginas, conceitos que envolvem a metalinguagem e a crítica social, explorando ao máximo o que os quadrinhos podem fornecer enquanto mídia. Seu característico humor sarcástico está presente, ao mesmo tempo em que uma seriedade um pouco deprimente também aparece quando o autor discute temas como o livre arbítrio e questões ligadas à rotina desgastante que temos em nosso dia a dia.

É um pouco complicado abordar o trabalho de narrativa dele sem entrar em spoilers, mas é preciso dizer que o autor explora não só as disposições de quadros nas páginas, mas também aspectos físicos da publicação. O aspecto da história dentro da história atinge outro nível quando Mathieu brinca com a obra como um todo, lembrando de certa forma o que Pascal Jousselin fez no ótimo Imbatível, só que de forma mais madura e sóbria, explorando o tempo de forma muito pouco usual. É uma experiência ímpar de leitura, sem dúvidas.

Não é à toa que Mathieu recebeu pelo trabalho feito nesse álbum o Prêmio Revelação do Festival de Angoulême, uma das premiações de quadrinhos mais renomadas no mundo, em 1991. Outros álbuns da série Prisioneiro dos Sonhos também foram premiadas Angoulême, mas entrarei em mais detalhes quando for comentar sobre eles.

A publicação da editora Comix Zone possui capa dura e papel couché de alta gramatura, sem extras. A editora merece elogios por ter trazido essa série para o mercado brasileiro (já publicou também o segundo volume, com o título de O Processo e que em breve deve aparecer aqui no site), já que não é simples publicar uma série que explora tantas possibilidades gráficas em um mercado que vem passando por crises seguidas. Espero que as vendas correspondam, pois até o momento já foram publicados sete álbuns na Europa que aguardo serem publicados na íntegra por aqui.

Prisioneiro dos Sonhos Vol. 1: A Origem é a demonstração do grande talento de Marc-Antoine Mathieu como quadrinista, um autor que consegue unir uma boa história e a exploração da narrativa como somente os grandes dessa mídia conseguem. Se você está procurando por uma obra que foge bastante do comum, essa é a leitura perfeita. Como disse no texto sobre Deus em Pessoa, espero que tenhamos mais Marc-Antoine Mathieu por aqui, é um autor que os leitores brasileiros não podem deixar de conhecer.

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Ficha técnica

Editora: Comix Zone
Tradução: Fernando Paz
Ano de lançamento: 2022
Páginas: 48
Preço: R$72,50

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.