A rotina de um mangaká, os autores de quadrinhos japoneses, é muito agitada pois é preenchida por um ritmo intenso de trabalho para cumprir prazos insanos, ao mesmo tempo que também pode propiciar muito sucesso ao autor se a sua obra conseguir boa repercussão nas revistas semanais. É um pouco dessa rotina, permeada de aspectos autobiográficos, que o renomado Jiro Taniguchi procurou retratar em Zoo no Inverno, quadrinho publicado no Brasil pela editora Devir.
A história da obra se inicia no ano de 1966 em Quioto, onde o jovem Hamaguchi trabalha em uma empresa têxtil. Enquanto tenta descobrir como atingir seu objetivo ele recebe uma indesejável tarefa: vigiar a filha do seu patrão. Tudo corria bem, na medida do possível, até que um acontecimento inesperado o obriga a tomar uma decisão e ele se muda para Tóquio. Na grande cidade, ajudado por um amigo, ele acaba se tornando assistente de um famoso mangaká e começa a perseguir um sonho: Escrever e publicar o próprio mangá autoral. Enquanto isso, Hamaguchi acaba encontrando um grande amor que mudará os rumos de sua vida.
Jiro Taniguchi é um grande autor, tendo sido reconhecido por seu trabalho não só no Japão, mas também na Europa, principalmente na França. Ele se tornou famoso majoritariamente por obras contemplativas que abordam o cotidiano e trazem reflexões sobre os pequenos da vida. Em Zoo no Inverno, Taniguchi utiliza esses aspectos para discutir não só como funciona a vida e o trabalho de um autor japonês de quadrinhos, mas também a busca pelos sonhos, a perseverança em seguir o caminho das artes por mais difícil que seja. Há também a apresentação de uma bela história de amor, que repleta de dificuldades consegue fazer com que as pessoas envolvidas se motivem a seguir em frente em seus objetivos pessoais. O autor usa muito do gênero Watakushi (“quadrinhos do eu”), cujo o autor mais famoso é Yoshiharu Tsuge, para colocar um pouco da sua experiência pessoal em cada um dos acontecimentos da vida do protagonista da história.
Com relação a arte, Taniguchi apresenta a característica elegância de seu traço, muito influenciado pela linha clara européia, em que personagens desenhados de forma mais simples geram um certo contraste com cenários repletos de detalhes. Além disso, o autor utiliza uma narrativa refinada, alternando ângulos de câmera de forma que situações cotidianas não se tornam enfadonhas, o que mantém a atenção do leitor. Um artista com domínio pleno dos quadrinhos, sem dúvidas. Infelizmente, Jiro Taniguchi nos deixou em 2017 aos 69 anos, deixando um grande legado aos quadrinhos japoneses, sendo um dos representantes da união entre oriente e ocidente nessa mídia.
A publicação da editora Devir possui capa cartonada, sobrecapa e papel pólem. Sobre extras, há uma nota biográfica do autor que ajuda a contextualizar sua importância e uma lista de suas principais obras. Essa publicação faz parte do selo Tsuru, no qual a editora busca publicar autores japoneses clássicos e contemporâneos e que já trouxe outras obras de Taniguchi, como o espetacular O Homem que Passeia e Gourmet Solitário.
Zoo no Inverno é uma obra que traz Jiro Taniguchi explorando questões da vida humana, inserindo aspectos autobiográficos e trazendo reflexões ao leitor. Mais um exemplo de seu grande talento, acredito que ele entrará para sua lista de autores favoritos, como aconteceu comigo na primeira leitura de sua obra que fiz. Felizmente as editoras brasileiras têm trazido cada vez mais obras suas para o mercado nacional e, como costumo dizer, quanto mais Taniguchi, melhor.
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Ficha técnica
Editora: Devir
Tradução: Arnaldo Oka
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 236
Preço: R$55,00
Lucas Araújo
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