Batman – Igual, mas diferente!

Batman é um dos personagens que mais foram adaptados em séries e filmes. Desde os anos 40, o Homem Morcego foi apresentado em diversas interpretações, desde a cômica série de 1966, passando pelo estilo gótico de Tim Burton, o espalhafatoso de Joel Schumacher e o de aspecto mais realista com Christopher Nolan, além da desastrosa versão de Zack Snyder. Em Batman, filme protagonizado por Robert Pattinson, o diretor Matt Reeves, que também assina o roteiro, traz uma nova abordagem do personagem, que é calcada no realismo, embora sutilmente abrace o fantástico, e que explora o aspecto mais detetivesco do personagem.

Antes de adentrar no filme, aqui vai uma sinopse: Batman (The Batman, no original) segue o segundo ano de Bruce Wayne (Robert Pattinson) como o herói de Gotham, causando medo nos corações dos criminosos da sombria cidade. Com apenas alguns aliados de confiança – Alfred Pennyworth (Andy Serkis) e o tenente James Gordon (Jeffrey Wright) – entre a rede corrupta de funcionários e figuras importantes do distrito, o vigilante solitário se estabeleceu como a única personificação da vingança entre seus concidadãos. Durante uma de suas investigações, Bruce acaba envolvendo a si mesmo e Gordon em um jogo de gato e rato, ao investigar uma série de maquinações sádicas em uma trilha de pistas enigmáticas estabelecida pelo vilão Charada (Paul Dano). Quando o trabalho acaba o levando a descobrir uma onda de corrupção que envolve o nome de sua família, pondo em risco a própria integridade e as memórias que tinha sobre seu pai, Thomas Wayne, as evidências começam a chegar mais perto de casa, precisando, Batman, forjar novos relacionamentos, principalmente com Selina Kyle(Zoë Kravitz), para assim desmascarar o culpado e fazer justiça ao abuso de poder e à corrupção que há muito tempo assola Gotham City.

Matt Reeves explora uma perspectiva um pouco diferente do que visto anteriormente nos filmes do Cavaleiro das Trevas, apresentando um Bruce Wayne deprimido que ainda está tentando entender qual o seu papel em Gotham e quem ele é, se apenas a vingança que combate o crime na cidade ou se um milionário que pode fazer muito mais para ajudá-la, algo que vem direto do quadrinho Batman – Ego. O Diretor faz uma brincadeira muito interessante com o foco da câmera, que muitas vezes serve para enganar a classificação indicativa do filme nas cenas de violência, e não nega suas influências, principalmente as vindas de filmes de David Fincher (Seven e Zodíaco), com uma forte estética da Nova Hollywood, apresentando um filme sombrio não só pela fotografia (muito bela, aliás) como na temática em si: uma cidade aterrorizada por um serial killer que trava uma batalha mental com o Batman, o que torna o confronto ainda mais intenso, visto que essa versão do personagem está acostumada a resolver os problemas dando socos. E é claro que, para passar sua ideia de forma mais precisa, o diretor selecionou um ótimo elenco.

Por falar em elenco, todos os atores têm momentos para brilhar. Robert Pattinson se sai muito bem como Um Batman guiado pelo sentimento de vingança e um Bruce Wayne que pouco se importa com sua imagem de playboy milionário, recluso que está focado apenas em cumprir sua missão. É impressionante como ele consegue dizer muito apenas com alguns olhares e como sua evolução ao longo da trama é perceptível. Zoë Kravitz se sai muito bem como Selina Kyle/Mulher-Gato em uma versão mais crua da personagem, que tem motivações muito fortes para agir como ladra e uma boa interação com o Batman. Jeffrey Wright é um excelente James Gordon, um policial honesto em meio a corrupção de Gotham que se alia ao Batman no combate ao crime, pois acredita que há certas linhas que não pode cruzar. Andy Serkis faz um Alfred mais bruto, que exibe marcas de seus anos de combate no MI6 e que tem uma relação muito mais conturbada com Bruce do que estamos acostumados a ver. Colin Farrell emula ao máximo a performance de Robert De Niro como Al Capone no clássico Intocáveis, apresentando um Pinguim mafioso que ainda está evoluindo em sua carreira criminosa para se tornar o grande chefe do crime da cidade. John Turturro faz um Carmine Falcone de fala mansa que esconde a sua terrível natureza, não pensando duas vezes em matar uma pessoa caso seja necessário para atingir seus objetivos.

Mas é claro que, se tratando das atuações, Paul Dano é o grande destaque ao interpretar um Charada que é uma clara crítica a coisas que estamos vendo nos dias de hoje, envolvendo milícias digitais e fóruns onde incels se reúnem para despejar seu ódio pela sociedade. O personagem é violento e assustador nos momentos em que está usando seu traje, o que causa grande contraste quando sua face é revelada. O personagem acredita que, em uma visão de realidade deturpada, é um companheiro do Batman no combate ao crime.

Um outro aspecto do filme que merece ser destacado é a imersiva trilha sonora de Michael Giacchino, que combina perfeitamente com a atmosfera que o filme quer passar. O tema do Batman gruda na cabeça a ponto de você continuar ouvindo mesmo após o filme ter terminado. Além disso, o trabalho de som do filme como um todo é ótimo, isso fica visível nas cenas em que o batmóvel aparece.

Embora apresente tantos positivos, o filme também tem problemas, sendo sua duração o principal. Não que um filme não possa ter três horas e ainda assim manter o espectador interessado (há inúmeros exemplos que demonstram isso), mas fica evidente que Matt Reeves perde um pouco do controle da trama na transição entre segundo e terceiro ato, criando uma certa barriga para o filme, além de uma certa quebra de clima nas cenas finais. Não é algo que vai comprometer a experiência como um todo, mas é aquele tipo de coisa que incomoda um pouco e te faz olhar para o relógio.

Batman é mais uma interpretação interessante do Homem Morcego, embora jamais possa ser chamada de definitiva, já que é impossível fazê-lo com um personagem que teve tantas versões ao longo dos anos. Ao apresentar um clima mais urbano e realista, o filme agrada os fãs do personagem e deixa uma curiosidade para o que vem por aí. Matt Reeves parece ainda ter muito a dizer sobre as figuras que habitam Gotham City.

Ficha Técnica

Duração: 176 minutos
Estúdio: Warner Bros
Direção:
Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves e Mattson Tomlin
Elenco: Edward Norton, Edward Furlong, Beverly D’Angelo, Jennifer Lien, Ethan Suplee, Fairuza Balk

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.