Grama – Reerguendo-se apesar de tudo!

Os terrores da guerra já foram retratados em diversas mídias, sob as mais diversas abordagens. Quando falamos de quadrinhos, provavelmente o primeiro exemplo desse tipo de história é Maus de Art Spielgman, um dos mais potentes relatos sobre o holocausto que se tem conhecimento. A perspectiva asiática da guerra, principalmente as das nações que sofreram com os ataques realizados pelo Japão, não é muito conhecida por nós ocidentais, e é por isso que Grama, da autora sul-coreana Keum Suk Gendry-Kim, é uma obra de extrema importância para leitores de todo o mundo.

Em Grama acompanhamos a história de Ok-sun Lee, uma sul-coreana que foi vendida pela própria família na infância e forçada à escravidão sexual pelo Exército Imperial Japonês. Ela é uma das várias mulheres que foram capturadas para servir aos soldados nas chamadas “casas de conforto”, sob a alcunha de “mulheres de conforto”, espalhadas pela China e por territórios ocupados pelo Japão durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa e a Segunda Guerra Mundial, em um dos episódios mais vergonhosos do passado da humanidade. Ok-sun Lee, hoje com mais de 90 anos, se tornou um importante ativista pela indenização das “mulheres de conforto”.

A história é narrada através do relato de Ok-sun Lee em conversas com a autora, o que torna toda narrativa ainda mais intimista. Lembrando bastante o trabalho de Spielgman em Maus, além de contar a história de Lee, Gendry-Kim também acaba contando um pouco sobre o processo de concepção do quadrinho, tornando-o a obra ainda mais intimista.

A autora tem muita sensibilidade ao transmitir os relatos da protagonista, que são muito impactantes e que podem levar às lagrimas em diversos momentos. Ela não deixa de contar nada, mas sabe como decidir o que mostrar e o que não mostrar através de uma narrativa precisa e poderosa, que prende o leitor de tal forma que faz com que ele se sinta lá com as protagonistas, e que sabe como utilizar os recursos dos quadrinhos para impressionar os leitores. Repare em como ela usa o Nanquim de forma mais suja e pesada para representar os momentos mais angustiantes da história. É desesperador como a trama vai indo cada vez mais fundo nos terrores da guerra, mas também mostra a força que essas mulheres tiveram que ter para passar por isso e resistir até o fim do confronto.

Aliás, vemos como o impacto da exploração dessas mulheres é sentido até hoje, já que semanalmente elas protestam em frente a embaixada japonesa na Coréia do Sul exigindo um pedido formal de desculpas e um ressarcimento que nunca veio. O trabalho de Keum Suk Gendry-Kim é importante ao ecoar a voz de pessoas como Ok-sun Lee pelo mundo, fazendo com que cada vez mais pessoas conheçam essa trágica história e se engajem na luta dessas mulheres.

O trabalho da editora Pipoca e Nanquim é excelente como sempre, já que a publicação tem um belo acabamento gráfico, que inclusive foi resultado de uma campanha de marketing envolvendo o engajamento dos leitores, e extras que complementam muito bem a história, como um ótimo texto acadêmico sobre “as mulheres de conforto” e sua luta e também um posfácio da própria autora, no qual ela fala sobre como contar essa história à transformou.

Grama é um daqueles quadrinhos que transformam o leitor, uma obra importantíssima para que saibamos sobre os terrores da guerra e como sempre devemos ser contra esse tipo de conflito. Um dos melhores lançamentos deste ano, sem dúvidas, e uma obra que tem tudo para se transformar em um grande clássico dos quadrinhos. Indispensável.

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Ficha técnica

Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Jae Hyung Woo
Ano de lançamento: 2020
Páginas: 488
Preço: R$79,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.