Os Flintstones – Vivemos na idade da pedra?

É muito pouco provável que você nunca tenha ouvido falar sobre os Flintstones, a família que protagonizou um dos desenhos animados mais famosos da história, produzido pelo lendário estúdio Hanna-Barbera e que foi reprisado a exaustão pelos canais de tv brasileira e que por muitos anos foi a série mais longeva do horário nobre dos EUA, tendo sido superada pelos Simpsons há alguns anos. Funcionando como uma espécie de paródia da classe média americana dos anos 1960 ambientada na idade da pedra, Fred, Vilma, Pedrita e os amigos Barney e Betty, e seu filho Bambam, protagonizam situações repletas de humor que refletiam muito bem a vida de seus espectadores. Por volta de 2017, a DC decidiu revisitar alguns personagens da Hanna-Barbera em quadrinhos e deixou nas mãos do roteirista Mark Russell a tarefa de apresentar novas histórias dos personagens pré-históricos, ao lado do artista Steve Pugh (com a ajuda de Rick Leonardi e Scott Hanna) e do colorista Chris Chucry, atualizando algumas de suas críticas para os dias de hoje.

Nessa nova versão, Fred Flintstone é um veterano de guerra que após servir seu país em uma guerra da qual se arrepende de ter participado, acaba tendo que trabalhar na construtora Pedra e Pedregulho para sustentar sua família. Lá ele tem que conviver com um chefe tirano, que o explora sem qualquer pudor. Ao lado do amigo Barney, ele tenta desfrutar os lazeres que a recém formada civilização pode propiciar, ao mesmo tempo que também tem que conviver com os males que essa ordem social pode apresentar.

Mark Russell não é sutil em fazer diversas críticas à sociedade enquanto constrói tramas que misturam o humor característico da série animada e contrastam com um drama que traz novas camadas para os personagens. O autor tece comentários contundentes sobre os males do capitalismo, religião, guerras, política, negacionismo científico e a estrutura social na qual vivemos, mas ao mesmo tempo apresenta histórias que atraem a atenção do leitor através do carisma dos personagens e de questionamentos que esses fazem que podem trazer muita identificação. Não é a crítica pela crítica, mas boas histórias de 22 páginas com começo, meio e fim que trazem ótimas reflexões, algo que parece simples, mas que numa indústria que poda cada vez mais a criatividade com prazos apertados e com restrições editoriais, se torna algo louvável. Como mais um destaque, preste atenção nas “participações especiais” que Russell insere na história e que aproximam ainda mais os acontecimentos com o que vemos em nosso dia a dia em pleno século XXI.

A arte de Steve Pugh ao mesmo tempo que tenta remeter à animação na composição dos personagens, também apresenta um contraste ao apresentá-los com um aspecto mais realista. O trabalho de expressões que o artista apresenta também chama a atenção, pois há certos momentos sutis nos quais os personagens dizem muito sem dizer nada. Além disso, a narrativa bastante dinâmica de Pugh faz com que a leitura não se torne enfadonha mesmo em momentos em que não há muita ação nas páginas. As cores de Chris Chucry coroam o trabalho artístico com uma escolha de tonalidades fortes que exaltam o traço de Pugh.

A série composta de doze edições foi publicada pela Panini em dois volumes em 2017, em capa cartão e papel lwc, sem extras. Quanto ao trabalho editorial, há alguns deslizes na revisão, mas são poucos e acabam não impactando no decorrer da leitura. Esses encadernados ainda são relativamente fáceis de encontrar, então acredito que você não terá problema para ler caso se interesse pela história.

Os Flintstones é uma ótima oportunidade de se conferir o trabalho de Mark Russell, que teve outros trabalhos publicados no Brasil e que com certeza aparecerão em futuros textos. Um autor que sabe misturar entretenimento com críticas sociais que trazem reflexões muito importantes aos leitores. Facilmente um dos melhores quadrinhos que a DC publicou nos últimos tempos, não perca tempo e leia.

Como complemento para o quadrinho, vale dar uma olhada nessa entrevista na qual os autores comentam sobre como foi a produção das histórias.

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Ficha técnica

Editora: Panini
Tradução: Eric Novello, Mariana Naime, Levi Trindade
Ano de lançamento: 2017/2018
Páginas: 168/164
Preço: R$24,90 (cada volume)

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.