Quando comentei sobre Lavagem, enalteci a habilidade de Shiko como quadrinista, com certeza um dos mais interessantes de se acompanhar nos últimos tempos no cenário nacional. Estava ansioso para ler Três Buracos, seu mais novo trabalho, que vinha sendo alardeado pela Janaína de Luna, editora da Mino, como o melhor lançamento do ano. Com o quadrinho em mãos e concluindo a leitura, é possível afirmar sem sombras de dúvidas que este trabalho entra forte na briga de melhores do ano.
Aqui acompanhamos a história de Tânia e seu irmão, Canhoto, que cresceram entre o garimpo, o puteiro e o cemitério e é daí que vem o nome do lugar: Três Buracos. Ao cavar a cova de um enforcado, Delegado, o pai dos dois protagonistas, encontra uma Turmalina que acaba trazendo desgraça pra ele e sua família. Anos depois, Tânia, sua companheira Cleonice e Canhoto se unem para executar um plano que os libertará de todas as desgraças de sua vida, lhes dando riqueza e redenção. Porém, a morte sempre ronda a todos que vivem em Três Buracos e eles terão que confrontar esta verdade.
Shiko já começa acertando na ambientação do quadrinho, fazendo com que Três Buracos seja uma cidadezinha localizada em algum lugar do Nordeste brasileiro. O clima árido e quente do Sertão remete diretamente aos grandes clássicos do western Spaghetti, fazendo com que a história seja uma espécie de faroeste brasileiro. A cidade é sem sombra de dúvidas um personagem importantíssimo para a história moldando todos seus habitantes a serem o que são.
Por falar em personagens, os três protagonistas são muito bem trabalhados, cada um com suas características e objetivos que, se em alguns momentos convergem, conforme a história vai se desenrolando, começam a se afastar. Tânia quer encontrar a Turmalina de seu pai para encerrar uma espécie de círculo e alcançar sua redenção. Cleonice que fugir de Três Buraco, cansada da vida repleta de miséria e da obsessão de Tânia. Canhoto é uma força da natureza, seus objetivos são ficar rico e livre, não importando o que tenha que fazer, quem tenha de manipular ou matar.
É claro que bons personagens não são nada sem uma boa história, e é claro que o autor sabe disso. A maneira com que Shiko trabalha a personalidade de cada um ao mesmo tempo em que de certa forma explora a natureza humana, principalmente quando pessoas são levadas aos seus limites, e elabora críticas sociais bastante contundentes é brilhante, conduzindo a história para um rumo bastante inesperado. Ele sabe como gerar surpresa ao leitor no momento certo.
Além de um roteiro muito bem estruturado e um desenvolvimento de personagem espetacular, a arte de Shiko é uma coisa que é um pouco difícil de se descrever em palavras. O autor tem um traço belíssimo, muito detalhado, e também um completo domínio da narrativa, alternando entre linhas temporais enquanto diferencia seu traço, criando suspense e até um pouco de terror quando mistura o lúdico com o real e causando impacto quando a história pede isso. O cara é um verdadeiro gênio.
A edição da Mino é muito bonita, em capa dura e papel de ótima qualidade. A editora merece elogios pois é uma das poucas editoras do país que dá um acabamento tão luxuoso para publicações nacionais. Eu recomendo que você fique de olho no catálogo da editora, que mescla muito bem grandes nomes internacionais com talentosos artistas brasileiros.
Três Buracos é um quadrinho que deve ser lido por qualquer pessoa que tenha apreço pela mídia. É inteligente, é bem escrito e belamente desenhado, uma verdadeira obra-prima. O que será que Shiko está pensando para seu trabalho? Eu não faço ideia, mas com certeza estou empolgado para ler.
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Ficha técnica
Editora : Mino
Ano de lançamento: 2019
Páginas: 136
Preço: R$ 69,90
Lucas Araújo
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