Batman – Gárgula de Gotham Vol.1 – Um novo vilão, a morte de Bruce Wayne e o hype!

É difícil que você nunca tenha ouvido o nome de Rafael Grampá caso seja um habitual leitor de quadrinhos, um autor que mesmo com poucas obras ganhou fama internacional por seu estilo peculiar de traço e narrativa arrojada, como podemos ver em sua mais famosa obra, Mesmo Delivery, uma espécie de experimento em quadrinhos com muita influência de Quentin Tarantino. Recentemente, Grampá foi convidado para escrever e desenhar sua própria minissérie do Batman (o primeiro brasileiro a fazer isso) pelo selo DC Black Label, o selo que substituiu a Vertigo e se propõe a publicar histórias alternativas e mais autorais dos personagens da editora, e o lançamento do primeiro volume da obra, chamada de Gárgula de Gotham, foi um verdadeiro estrondo, simultâneo entre EUA e Brasil. Mas vale o hype? É o que vou tentar responder ao longo desse texto.

O quadrinho parte de uma premissa no mínimo instigante: Em uma Gotham City em que cada dia parece pior que o anterior, o Batman percebe que para poder se dedicar à tarefa de proteger a cidade dos mais sádicos tipos de criminosos, ele precisará agir como vigilante em tempo integral, o que o leva à ideia de matar sua persona de Bruce Wayne. Entretanto, ele logo irá perceber que essa decisão não irá resolver seus problemas de forma simples, principalmente após o surgimento de um vilão excêntrico que baseia seus atos em um antigo personagem de desenhos animados que travará um acirrado combate físico e mental com o homem morcego. Em paralelo, temos Jim Gordon, aqui inspetor de polícia, que está investigando uma série de assassinatos que remetem a um antigo serial killer da cidade, e que irá descobrir que o passado dos Wayne pode estar intimamente ligado a esses crimes.

É no mínimo complicado elaborar novas histórias e trazer algum frescor a um personagem que já teve diversas abordagens ao longos dos últimos 80 anos, mas Grampá consegue fazer isso em uma trama que embora evoque certos tropos do personagem, como uma relação muito legal entre Batman e Alfred e o clima detetivesco característico de várias histórias do personagem, inclusive com muita influência do filme dirigido por Matt Reeves, também traz novos elementos que prendem a atenção do leitor. O plot do assassinato de Bruce Wayne é muito interessante e apresenta o aspecto mais obsessivo dessa versão do personagem, assim como o novo vilão é bastante inventivo, trazendo novos desafios, tanto físicos quanto mentais ao cavaleiro das trevas. A importância dada à Gordon remete diretamente à Batman Ano Um e traz uma outra perspectiva para a história e é parte essencial para um dos grandes ganchos desse primeiro volume,e os mistérios são apresentados de forma rápida, mas sem entregar muito para que o leitor continue instigado a ler as continuações.

Com relação à arte, Grampá mostra o motivo de toda sua fama. Seu traço é muito particular, cheio de detalhes e texturas, apresentando um Batman cheio de personalidade e uma Gotham que se destaca em meio às diversas representações que a cidade já teve nas mais diversas mídias, além de um dos batmóveis mais legais que eu já vi em uma história do homem morcego. Sua narrativa é muito dinâmica, o artista sempre está buscando ângulos inventivos para evitar que a história fique enfadonha e composições de página que fogem do padrão de quadrinhos de super-heróis, principalmente os mensais, demonstrando que tudo foi bem pensado e feito sem pressa. É o ponto alto da obra, sem dúvidas.

Mesmo com todos esses destaques, a obra também tem suas derrapadas. O autor faz uma escolha de diálogos em algumas cenas que soam um pouco clichê, com um espírito meio adolescente massaveístico que remetem aos quadrinhos das grandes editoras nos anos 90, com um cinismo bobo. Há também um problema de ritmo do roteiro, fazendo com que a história fique truncada em alguns momentos, às vezes dando voltas em si mesma e se alongando demais. Isso é suavizado pela narrativa que mencionei anteriormente, mas mesmo assim acho que vale ser mencionado.

A publicação da Panini tem capa cartonada, papel lwc, sem extras. A editora fez uma grande campanha para o lançamento desse primeiro volume no Batman Day, fazendo um grande esforço para que a publicação fosse simultânea com os EUA, o que vale elogios. Minha crítica fica para o trabalho de distribuição, foi bem difícil encontrar a edição à venda, pelo menos aqui em São Paulo, visto que os lugares que receberam não tinham muitas cópias, o que fez com que esgotasse rápido e a editora demorou muito para repor.

E então, o primeiro volume de Batman – Gárgula de Gotham justifica todo o hype envolvido em seu lançamento? Bom, esse não é um novo clássico do personagem, tem seus problemas, mas é uma história interessante, que traz um certo frescor ao personagem e é uma demonstração do talento de Rafael Grampá como narrador gráfico. Cumpre tranquilamente o papel de divertir o leitor e instiga a acompanhar as próximas edições, o que por si só é um mérito nessa indústria. Não vá com muita sede ao pote e eu garanto que você vai gostar.

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Ficha técnica

Editora: Panini
Tradução: Diogo Prado
Ano de lançamento: 2023
Páginas: 48
Preço: R$24,90

P.S. Recomendo a entrevista que o Grampá deu para o Cowcast, podcast da editora Mino, em que ele dá alguns detalhes sobre a produção do quadrinho, a liberdade editorial que ele teve em alguns pontos e outras histórias de sua carreira.

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.