Na virada do século, a Marvel, buscando trazer novos ares para seus quadrinhos sob a liderança de Joe Quesada, apostou em trazer autores de outras mídias para criarem histórias, como J. Michael Straczynski, vindo das séries de tv, e Kevin Smith, que veio do cinema, e que fizeram um relativo sucesso. A DC também fez um movimento parecido na mesma época, trazendo autores como Brad Meltzer, famoso na literatura, e o lendário Richard Donner, responsável por filmes como o primeiro Superman, Goonies e Máquina Mortífera. Ainda que o resultado nem sempre seja digno de nota, sempre gera expectativa sobre como um autor irá incorporar seu conhecimento em outra mídia nos quadrinhos. Pelo menos foi o que aconteceu quando fiquei sabendo sobre Cage! quadrinho escrito e desenhado por Genndy Tartakovsky.
A minissérie em quatro edições parte de uma premissa bastante simples: Luke Cage, o clássico herói de aluguel, após o desaparecimento de sua amiga e também heroína Misty Knight começa a investigar o sumiço de outros heróis menos conhecidos, acaba sendo sequestrado e forçado a lutar um torneio entre esses heróis que dará direito a um valioso prêmio em dinheiro. Basicamente um Mortal Kombat (não tão mortal assim…) entre personagens de menor expressão da Marvel.
Você pode não reconhecer o nome de Tartakovsky, mas acredito que teve contato com suas obras de alguma forma, principalmente se tiver sido criança entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000. O cara é um gênio da animação, tendo criado obras como O Laboratório de Dexter, Samurai Jack, Hotel Transilvânia e Star Wars: Guerras Clônicas (a clássica versão em 2d que passava nos intervalos do Cartoon Network), além de ter trabalhado em outras séries como As Meninas Super Poderosas e A Vaca e o Frango. Esses diversos trabalhos lhe renderam alguns Emmys, o prêmio máximo da tv norte-americana.
Em Cage! Genndy demonstrou que seu talento se estende para os quadrinhos, produzindo uma obra que tem o objetivo, e o atinge com maestria, em simplesmente divertir o leitor, apresentando seu traço característico com um estilo retrô e uma narrativa dinâmica que prende a cada virada de página. Destaque para edição lisérgica na qual o trabalho de Scott Wills nas cores chama a atenção, criando uma fusão perfeita junto ao traço. A fluidez é tamanha que em alguns momentos você pensa que realmente está vendo uma animação, ainda que o autor demonstre que tem total domínio da linguagem dos quadrinhos, o que gera uma mescla muito particular entre as duas mídias, sem aquela cara de storyboard.
A minissérie foi originalmente publicada em 2016 nos EUA e inexplicavelmente continua inédita por aqui, não consigo entender como a Panini tendo uma verdadeira pérola dos quadrinhos de super-heróis nas mãos nunca tenha trazido esse quadrinho para cá. Talvez por ser protagonizada por um personagem não tão popular a editora tema que as vendas não correspondam, então resta esperar que algum novo interesse pelo personagem, muito provavelmente advindo de uma série de tv ou filme, impulsione o lançamento da obra por aqui. Por hora, você encontrará o quadrinho para leitura em inglês em meios oficiais, como o Kindle, ou traduzido por meios, digamos, alternativos.
Cage! é um quadrinho de super-herói em sua essência, uma leitura divertida que você não cansa de repetir. É uma pena que Genndy Tartakovsky não produziu outro quadrinho desde então, espero que um dia ele possa fazer mais um projeto com a Marvel ( o que estão esperando para entregar o Punho de Ferro ou o Homem-Aranha para ele?). Enquanto isso, leia e releia esse quadrinho, o entretenimento é garantido.
Ficha Técnica
Editora: Marvel
Ano de lançamento: 2016
Páginas: Cerca de 22 por capítulo, publicados em uma minissérie de quatro edições
Lucas Araújo
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