Estranhas Aventuras – Há heróis na guerra?

Tom King é um dos roteiristas mais interessantes em atividade nos quadrinhos de super-heróis, muito porque sempre está buscando trazer algo diferente para esses personagens, seja explorando suas experiências pessoais, seja abordando temáticas comuns a todos nós, quase sempre ler um trabalho do roteirista estadunidense é um verdadeiro respiro em uma indústria que cada vez esmaga a criatividade através de um ritmo de produção insano. Em Estranhas Aventuras, King se alia aos artistas Mitch Gerads (sem parceiro no espetacular Sr. Milagre) e Evan “Doc” Shaner para novamente mostrar que os super-heróis podem funcionar muito bem como analogia para certos acontecimentos no mundo real.

A história mostra o retorno de Adam Strange, clássico personagem da DC, como um grande herói de guerra, tendo sido responsável por livrar Rann, planeta para o qual ele é teleportado de tempos em tempos e onde constituiu sua família ao lado da esposa Alanna e a filha Aleena, da invasão dos Pykkts, uma raça sanguinária que já conquistou diversos planetas em todo o universo. Strange escreveu uma biografia, sucesso de vendas, que relata suas ações em tal guerra e o custo que elas tiveram, como a morte de sua jovem filha. Quando a Liga da Justiça detecta que os Pykkts pretendem se vingar invadindo a Terra, o herói intergalático é escolhido para ser o chefe da defesa do planeta, entretanto ele é alvo de uma investigação feita pelo Sr. Incrível que irá revelar certos acontecimentos que podem transformar o herói em criminoso de guerra.

Essa é uma história com várias camadas, e Tom King sabe como explorar muito bem cada uma delas. É visível que ele usou sua experiência como agente da CIA para fazer comentários sobre os terrores da guerra e sobre como nem sempre elas são simplesmente confrontos entre heróis e vilões, na verdade essas denominações são facilmente mutáveis de acordo com a perspectiva com a qual se analisa. A história também debate a questão da verdade e como ela pode ser distorcida ou completamente omitida para que certas pessoas consigam o que querem. Tema extremamente atual, como podemos ver na forte onda de fake news dos últimos anos.

O autor também demonstra grande conhecimento sobre o personagem e seu histórico, além de inserir diversas citações de grandes autores dos quadrinhos que se relacionam com alguns momentos da trama de maneira muito interessante. É uma trama com forte apelo político, atual, que traz reflexões e que ao mesmo tempo é muito bem contada, já que King tem grande domínio da mídia e consegue demonstrar a sofisticação que os grandes autores de quadrinhos possuem, com muita influência de Alan Moore, principalmente no que tange ao uso das páginas com nove quadros e na habilidade de explorar personagens pouco conhecidos do grande público.

O contraste entre as artes é um outro ponto de destaque da obra, enquanto Mitch Gerads tem um traço mais realista e sujo, “Doc” Shane possui um estilo mais clássico, bem super-heróico, o que torna ambos perfeitos para retratar as situações nas duas linhas temporais com a qual o roteiro trabalha. Entretanto, chega um ponto em que King inverte as situações conforme as linhas temporais vão se aproximando e isso acentua ainda mais esse contraste, graficamente representando a questão das perspectivas do conflito que mencionei anteriormente.

Como ponto negativo, talvez seja necessário apontar que King deixa o nível da história cair um pouco em seu final, algo que aconteceu em Sr. Milagre (exatamente no último capítulo). Além disso, em certo ponto da trama alguns acontecimentos se tornam previsíveis, mas mesmo isso não diminui o impacto da história e sua relevância.

O quadrinho foi publicado pela Panini em dois volumes de capa cartão e com papel couché, com poucos extras compostos pelas capas da série e uma breve entrevista de Tom King sobre a série. Felizmente a editora optou por um formato mais econômico para obra, o que pode atingir mais leitores, mesmo que no cenário atual do mercado o preço não tenha ficado tão atrativo.

Estranhas Aventuras é um dos quadrinhos de super-heróis mais interessantes publicado nos últimos anos, mais uma demonstração da capacidade de Tom King como autor, o poder de sua parceria com Mitch Gerads e um dos destaques do selo Black Label, que muitas vezes parece ter sido feito para publicar histórias meia boca do Batman e no qual, em teoria, os autores têm mais liberdade para publicar história como essa. Se você quer um quadrinho que foge da mesmice, faz pensar e é divertido ao mesmo tempo, essa é uma leitura indispensável.

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Ficha técnica

Editora: Panini
Tradução: Mario Luiz C. Barroso
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 200(Vol.1) e 192(Vol.2)
Preço: R$44,90 (cada volume)

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.