Nem Todo Robô – E se um robô tomasse seu emprego?

Desde que li os Flintstones, sempre presto atenção quando um trabalho de Mark Russell é publicado por aqui. A maneira bem-humorada, irreverente e irônica com a qual o autor consegue analisar e criticar nossa sociedade capitalista é muito interessante, além da forma com a qual ele consegue fazer tudo isso dentro de uma boa história que prende a atenção do leitor. Em Nem Todo Robô, quadrinho que ele produziu junto do desenhista brasileiro Mike Deodato Jr. e o colorista Lee Loughride, Russell apresenta uma ficção científica que demonstra novamente todo seu talento.

A obra se passa em um futuro nem tão distante, em 2056, no qual os robôs substituíram os seres humanos como mão de obra. A coexistência entre robôs, com a inteligência recém conquistada, e os dez bilhões de humanos da Terra é tensa. A cada família humana é designado um robô, do qual elas se tornam dependentes. Na história acompanhamos os Walter, uma família humana cujo robô, Navalhoide, passa seu tempo livre na garagem da família – fazendo máquinas que os Walter estão crentes que ele vai usar para assassiná-los.

Nessa história Russell faz uma analogia sobre masculinidade tóxica, como ele mesmo admite nos extras da obra, basta que você troque os robôs por homens e tudo fica muito claro (repare também que o título é uma clara referência ao ridículo movimento Not All Men, uma resposta ao Me Too). Ele traz reflexões sobre situações que são corriqueiras com pessoas que são atingidas pelo machismo, como disparidade salarial, medo, poder, entre outros, de forma ácida e irreverente, como é característico de sua escrita. Embora possa arrancar risadas em meio às sátiras, o autor não pega leve ao escancarar as grandes contradições em nossa sociedade, colocando o dedo na ferida sem dó.

A arte de Mike Deodato é excelente e é interessante ver ele fazendo uma história muito diferente das quais está acostumado a fazer, que são repletas de ação e pancadaria entre heróis uniformizados. O artista apresenta um consistente trabalho de ambientação de um futuro decadente e uma diagramação de página que foge do comum e que se propõe a ser arrojada, mas que às vezes parece não ter propósito narrativo, apenas estilístico. As cores de Lee Loughride são um bom complemento à arte, com tons opacos que mostram um certo clima de medo e ausência de esperança.

Infelizmente nem tudo são flores e é preciso destacar um ponto negativo da obra, seu final é  um pouco abrupto, talvez seja a grande disparidade com Flintstones, trabalho anterior do autor e que se sai muito melhor nesse ponto, conseguindo encerrar o ciclo da história de forma satisfatória. talvez Russell pense em escrever uma sequência futuramente, algo que eu realmente espero que aconteça.

A edição da Comix Zone possui capa dura, papel couché e extras que envolvem capas extras e textos dos autores nos quais eles discutem sobre como surgiram as ideias para criar a obra e o que queriam dizer com ela. A editora apresenta um trabalho competente, algo tradicional em seu catálogo, que, aliás, merece a atenção dos leitores pela boa curadoria dos títulos.

Nem Todo Robô é uma boa história e funciona muito bem como uma crítica à nossa sociedade, embora pareça que não disse tudo que devia dizer. Eu recomendo que você também se atente a outros trabalhos de Mark Russell, é um autor que vale a pena ficar de olho, já que ele sempre traz alguma reflexão bastante relevante.

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Ficha técnica

Editora: Comix Zone
Tradução: Érico Assis
Ano de lançamento: 2022
Páginas: 120
Preço: R$94,90 (cada volume)

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.