Mort Cinder – Um verdadeiro clássico!

Os quadrinhos já presenciaram o nascimento de várias duplas criativas brilhantes, com artistas que juntos produziram verdadeiras obras primas. Stan Lee e Jack Kirby, Chris Claremont e John Byrne, Alejandro Jodorowsky e Moebius, René Goscinny e Albert Uderzo, Tsugumi Ohba e Takeshi Obata são alguns bons exemplos de grandes duplas criativas dos quadrinhos. Mort Cinder, quadrinho publicado por aqui pela editora Figura, demonstra que Héctor Oesterheld e Alberto Breccia merecem figurar em qualquer lista de grandes parcerias nos quadrinhos.

Esse trabalho conta a história de Mort e Cinder, um homem que possui a habilidade de renascer, o que permitiu com que ele testemunhasse diversos acontecimentos ao longo da história humana. Quando o destino o leva a encontrar Ezra Winton, dono de um antiquário londrino, ambos serão confrontados por eventos fantasiosos relacionados a eventos como a construção da Torre de Babel, o tráfico de escravos, as trincheiras da Primeira Guerra Mundial e a mítica Batalha de Termópilas.

Oesterheld é um dos mais brilhantes roteiristas que os quadrinhos já tiveram e aqui ele apresenta uma história impactantes e intrigante, que demonstra todo seu conhecimento sobre história ao mesmo tempo em que nos mostra seu talento como autor de fantasia e ficção científica. Seu texto é refinado, com um forte teor literário que em nada remete ao que era feito na época em que quadrinho foi publicado (entre os anos de 1962 e 1968), tornando- a obra atemporal. Os únicos autores que se equiparam a ele em qualidade de texto, são Alan Moore e Neil Gaiman. Oesterheld é brilhante!

Alberto Breccia é um verdadeiro mestre do preto e branco, com um traço que se reveza entre o realista e o abstrato. Ao ver suas páginas, fica visível o quão influente seu trabalho foi para as gerações posteriores. Frank Miller menciona em um texto na quarta capa que a história dos quadrinhos é dividida entre antes e depois de Breccia e não é muito difícil ver a influência do artista uruguaio em Miller em obras como Sin City e até mesmo 300 (repare na história sobre as Termópilas). As experimentações de Breccia, implementando texturas em sua arte com instrumentos como esponjas, panos, escovas de dentes, recortes e suas próprias digitais, demonstram que artistas como Dave Mckean e Bill Sienkiewicz foram muito influenciados por seus trabalhos.

A editora Figura merece todos os elogios pelo tratamento editorial primoroso que encontramos nesse quadrinho. Houve todo um cuidado na utilização dos melhores arquivos existentes para que o leitor admire a arte de Breccia em toda sua glória, e também respeito ao apresentar as histórias em seu formato original, alternando entre o vertical e horizontal conforme a história tinha sido publicada. Além disso, há um extenso texto que detalha a importância dos autores para o mercado de quadrinhos, tanto argentino quanto mundial, a produção da obra e a trajetória de Oesterheld e Breccia. Um trabalho realmente exemplar, a Figura está montando um ótimo catálogo.

Mort Cinder é, por mais que o uso dessa palavra esteja desgastado, uma obra-prima. Leitura indispensável para qualquer fã da nona arte. Se você não conhece o trabalho de Oesterheld e Breccia, preencha essa lacuna. Você terá uma verdadeira aula sobre quadrinhos.

Para comprar esse quadrinho clique AQUI. Ao comprar pelos nossos links você nos ajuda a continuar trazendo Justiça pra Cultura Pop! Ah e sempre tem um desconto bem legal 😉

Ficha técnica

Editora: Figura
Tradução: Ernani Ssó
Ano de lançamento: 2018
Páginas: 232
Preço: R$94,00

(Visited 409 times, 1 visits today)
The following two tabs change content below.

Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.