O Homem Sem Talento – Uma ode ao fracasso!

Estamos acostumados a ver histórias que mostram grandes trajetórias de vitórias, nas quais protagonistas passam por maus bocados, mas acabam vencendo no final, sempre passando uma bela e intensa mensagem de superação. Mas você já imaginou se alguém escrevesse uma história que fosse uma espécie de ode ao fracasso? Parece meio estranho, mas foi exatamente isso que Yoshiharu Tsuge fez em O Homem Sem Talento.

Neste quadrinho, acompanhamos a história de um personagem que é uma espécie de alter ego do Tsuge, um autor de mangá que se recusa a ceder às imposições da indústria e macular sua arte, abandonando sua carreira para se tornar um vendedor de pedras que ele encontra no rio perto de sua casa. Pedras estas que ninguém parece ter o interesse em adquirir.

Parece um pouco maluco e simples, não é mesmo? Mas não se deixe enganar por essa breve sinopse, já que em O Homem Sem Talento, Tsuge desenvolve de forma lenta, porém repleta de ironia e um toque de humor, uma história que debate coisas como o papel de cada um na sociedade, qual a função da arte e sobre como o talento pode se manifestar de formas bastante variadas. São algumas reflexões bastante valiosas que não são muito comentadas, independente da mídia.

A arte de Tsuge é construída de forma que ela consiga transmitir todas as ideias que ele tinha em mente no roteiro, as vezes ela parece bastante simples, um pouco desforme, mas tudo isso é planejado para combinar com a narrativa, para transmitir as emoções que os personagens estão sentindo. Mas também há alguns momentos em que o autor ilustra belíssimas paisagens, o que demonstra todo o seu grande talento.

Aliás, é no mínimo curioso que Tsuge tenha demorado tanto para ser publicado aqui no Brasil (na verdade, esta é a sua primeira publicação nas Américas!). Ele iniciou sua carreira em 1955, tendo integrado a equipe de artistas da lendária revista Garo (recomendo o programa do Formiga Elétrica sobre a revista para mais informações) e se tornando um dos autores de mangás mais influentes de todos os tempos, sendo o criador do gênero Watakushi (“quadrinhos do eu”), como são conhecidos os quadrinhos autobiográficos japoneses, e citado por nomes como Inio Asano (que você deve conhecer por obras como Solanin e Boa Noite Pun Pun) como uma grande referência. Ele é tão gigante no meio dos quadrinhos, que este ano recebeu uma exposição e uma premiação no festival de Angoulême, que ocorre na França e é o maior festival de quadrinhos do mundo. E, devido à sua personalidade reclusa, surpreendeu a todos ao comparecer ao evento para receber o prêmio em mãos.

A editora Veneta merece todos os elogios por preencher esta lacuna do mercado nacional, trazendo o quadrinho em uma edição que muitos chamaram de feia, seja pela capa, seja pelo letreiramento, mas que foi completamente pensada para combinar com a mensagem da obra. Aliás, fica aqui novamente o elogio para a curadoria da editora, principalmente na figura do editor-chefe Rogério de Campos, que vem trazendo grandes trabalhos um pouco mais alternativos para o nosso país. A editora já anunciou os seus lançamentos para este ano e, falo isso sem dúvida alguma, as outras editoras vão ter bastante trabalho pra se igualar à Veneta este ano.

O Homem Sem Talento é aquele tipo de quadrinho que nos transforma ao final da leitura, devido às reflexões que ele nos leva. É um quadrinho indispensável para leitores que estejam buscando algo a mais. Espero que mais trabalhos de Yoshiharu Tsuge sejam publicados por aqui, precisamos ouvir mais alguns ensinamentos deste mestre dos quadrinhos.

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Ficha técnica

Editora : Veneta
Ano de lançamento: 2019
Páginas: 240
Preço: R$ 64,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.